
Directed by Gus Van Sant
Gus Van Sant é um cara estranho e deve ter alguns esqueletos no armário. Grande parte de suas obras se resumem a evidenciar o cotidiano, os problemas e os comportamentos de adolescentes e jovens adultos frente situações complicadas da vida, algumas até impensáveis para uma boa parcela deles.
Junto com Larry Clark, ele traça um paralelo sobre o desenvolvimento da mente e do corpo dos jovens de hoje, do momento em que seus filmes são feitos, como já visto em Drugstore Cowboy, Garotos de Programa e Elephant. Porém, aqui, a visão é mais realista e intimista, ao contrário da crueza que o seu oposto, Clark, impõe em suas obras, como Kids (sempre uma referência) e Ken Park.
Alex (Gabe Nevins) é um adolescente skatista comum, como muitos existentes nos Estados Unidos. Ele passa por provações do dia a dia como qualquer outro moleque que conhecemos. Tenta se entender em seu relacionamento com a namorada, sobreviver aos conflitos de família e, principalmente, encaixar-se na comunidade (ou tribo, como se diz agora) onde vive, entre seus amigos. Quando ele e seu amigo Jared (Jake Miller) resolvem conhecer o tal Paranoid Park do título, imensa área de diversão para os skatistas, ele encontra ali seu lugar. Porém, ele se envolve em um incidente e, por acidente, acaba matando um segurança da linha férrea local. Perante tamanho problema, ele começa a divagar sobre o quão difícil a vida pode ser.
Não existe preocupação, por parte do diretor, com o desenvolvimento e fechamento da trama do filme, mas apenas com a exposição de fatos e dos pensamentos conseqüentes do adolescente em questão. Não se encontram culpados, não existem bandidos e mocinhos, muito menos lados. Gus Van Sant não quer culpar ninguém ou fazer uma crítica social, mas traçar um possível perfil de uma mente jovem que se vê perturbada e assombrada por algo tenebroso.
O que vemos é um filme bastante intimista, quase caseiro, devido a montagem e linguagem utilizadas pelo diretor. A trama não é linear e não surpreende em nada, mas é compatível com os sentimentos que qualquer pessoa poderia desenvolver em uma situação similar. Tanto que pode parecer um leve soco no estômago.
A utilização de filmagens pseudo-caseiras impõe ainda mais o estilo do diretor, misturando uma visão de documentarista com um filme de família. A mensagem parece ser que as crianças viram adolescente e, conseqüentemente (e quase inevitavelmente), fazem algumas besteiras, umas menores, outras maiores. E isso faz parte do seu desenvolvimento e transformação em adultos.
Normalmente, os adolescentes se sentem sozinhos quando a questão é problemas, não tendo a quem recorrer, com aflição pela represália ou simplesmente pelo fato de assumirem seus erros. Como maneira de representar isso, o foco no personagem principal é quase único, sendo que a maioria dos coadjuvantes está sempre fora de foco, de costas ou à certa distância da ação. Apenas quando Alex está em estado de quase letargia, os outros personagens ganham certo destaque.
Tudo bem que o incidente mostrado no filme é um imenso peso para qualquer ser humano (ou quase todos), mas todos nós passamos por um problema ou outro durante a adolescência, que parecia ser mais pesado do que o próprio mundo. E as reações, apesar de distintas, tendencionavam para pontos em comum: a reflexão, o medo, a incerteza, a busca por perdão e uma maneira de minimizar a culpa. Talvez seja por isso que exista uma certa facilidade em sentir compaixão pelo protagonista.
Não existe nada de inovador nesta obra de Van Sant, mas é uma excelente pedida para quem busca um filme para reflexão, ou simplesmente para recordação de como era ser adolescente e como ter ligado com os problemas daquela época, tendo ou não tido esqueletos no armário. Ainda mais com a banalização da infância e adolescência como vemos nos dias de hoje.
Ao final do filme há a famosa frase: "Os personagens e eventos mostrados neste filme são ficcionais e qualquer similaridade com pessoas reais, vivas ou mortas, é puramente coincidência." Será?
Nota: 7.5/10
Felipe Edlinger
21 de abril de 2008
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