...e assim caminha a humanidade...

"Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingí-la." (Salvador Dali)
"Et quacumque viam dederit fortuna sequamur." (Virgílio)
"Always think about a coloured tequila sunrise life." (Felipe Edlinger)
"Foda-se a balada, o que importa é a companhia." (Felipe Edlinger)
______________________________________________________________

quarta-feira, 30 de abril de 2008

[MovRev] Eu, Meu Irmão e a Nossa Namorada

(Dan in Real Life)

Directed by Peter Hedges

Peter Hedges é um roteirista de mão cheia, capaz de gerar humor (mesmo que um tanto quanto absurdo e, às vezes, negro) de situações trágicas e intimidadoras. Bons exemplos são os ótimos trabalhos Gilpert Grape - Aprendiz de Sonhador (baseado em romance do próprio Hedges), Um Grande Garoto (baseado em romance de Nick Hornby) e este Dan in Real Life (recuso-me a utilizar o nome brasileiro).

Aproveitando para comentar, mais uma vez, a tragédia que são alguns nomes de filmes "traduzidos" para o português. Eis aqui mais um nome estapafúrdio para um filme muito bom, uma pena. O nome em inglês transmite muito mais informação do que o adotado para os nossos cinemas, que ficou reduzido a uma comédia de Sessão da Tarde.

Para mudar de assunto, vamos falar sobre o pequeno gênio que é Steve Carell. Quando ele repercutiu um pouco mais, com trabalhos mais expressivos (O Âncora, O Virgem de 40 Anos), as comparações com um certo Jim Carrey foram inevitáveis, porém, apesar da semelhança física entre eles e o gênero comédia, existe um discernimento muito grande entre as qualidades de um e outro. Enquanto Jim Carrey é um cara que prima pelo exagero, pelas caras e bocas, pela risada forçada e por situações extremamente engraçadas, Steve Carell é o outro que faz comédia sutil, distinta e para poucos apreciadores (felizmente, não são tão poucos assim); ele produz um humor camuflado, o que torna difícil para pessoas que não têm senso de humor tão afiado reconhecer seu talento.

O humor de Carell chega até a ser um humor depressivo, em certos casos, sempre com situações complicadas do dia-a-dia como pano de fundo. É só relembrar um de seus maiores sucessos, para averiguar a afirmativa, em Pequena Miss Sunshine. Ele não chega a ser um comediante sarcástico ou irônico por natureza (mas consegue), mas sim alguém que parece cansado de forçar a barra e simplesmente soa como comédia, sem trejeitos, sem maniqueísmos. O que, na vida real, deveria ser um senhor porre.

Dan Burns (Steve Carell) é um sujeito que rala, escrevendo para uma coluna de jornal, para criar as três filhas sozinho, desde que a mãe delas faleceu. Quando eles vão se reunir com a família toda na casa de férias dos avós, como fazem todos os anos, ele conhece a linda Anne-Marie (Juliette Binoche) em uma livraria e imediatamente se apaixona por ela, e vice-versa, o que o faz abnegar sua consciência para quaisquer outras coisas. Porém, ela acabou de sair de um longo relacionamento e já está comprometida com outra pessoa... que, no caso, vem a ser o irmão de Dan, Mitch (Dane Cook), que está perdidamente apaixonado por ela. Quando o amor floresce novamente na vida de Dan, ele passa a se comportar de maneira totalmente imprevista, tal qual um adolescente, porém, sem a impetuosidade de um. Ele procura pensar como um adulto e considerar as consequencias de seus sentimentos para seu ambiente familiar. Porém, nem tudo é possível de se esconder.

Juliette Binoche continua linda e parece não envelhecer nunca. Ao longo de 25 anos de carreira e mais de 40 filmes, ela permanece como um ícone de beleza do cinema francês, esbanjando charme e luz, inclusive em produções americanas, como esta. E, com o perdão da palavra, ela continua muito gostosa (hottieeeee!!!). Ela somente cai um pouco do pedestal perante a presença perturbadora da gata Emily Blunt, a Emily de O Diabo Veste Prada, com seu jeito despojado e sensual, que mexe com os brios da francesa.

Ao mesmo tempo que Dan in Real Life é uma comédia que precisa ser lida nas entrelinhas, este filme também é um drama sentimental de muito bom gosto. Leve, com a pitada certa de romance e angústia, que culminam nas complicações que a união deles traz à vida. Nada de melodramas, exageros ou situações constrangedoras. Simplesmente, a vida.

Porém, não é sempre que a nossa vida é o centro do universo. Alguns dizem que devemos nos doar mais aos outros, outros dizem que devemos nos dar um pouco mais de atenção. Acredito que deva ser um balanço entre valores. Ponto.

Muitas vezes, vemos o que está somente em nossa frente e não aquilo que está do lado, ou ao lado. Como já diria alguém famoso, tudo é relativo, e como diria alguém não tão famoso, podemos não ser ninguém no mundo mas, com certeza, somos o mundo de alguém. Para outras pessoas, pequenos gestos podem não valer nada, para outras, tudo; seja o simples fato de poder dirigir aos 17 anos, apaixonar-se perdidamente aos 15, ou receber atenção aos 11.

Cabe, a cada um de nós, perceber essas pessoas e vê-las como gostaríamos que nos vissem: com anseios, desejos, sonhos e necessidades de felicidade, seja ela como for.

Nota: 7.5/10

Felipe Edlinger
30 de abril de 2008

Nenhum comentário:

Powered By Blogger