
Dirigido por Danny Leiner
Sabem aqueles filmes que são ruins mas que a molecada e, eventualmente, uma penca de adultos, gosta, de tão absurdo que parecem ser (e são)? E que, também eventualmente, acabam virando cult? Pois bem, a primeira história de Harold e Kumar é exatamente isso. Não que seja uma referência cinematográfica, mas, com certeza, se tornou uma indicação de "filme idiota, mas bacana" que você recomenda aos amigos.
A indústria americana é muito conhecida por investir altas somas de dinheiro em produções sem graça e sem apelo algum. Muitas dessas produções nem ao menos atingem os cinemas e acabam restritas as prateleiras das locadoras. Porém, ninguém contava com a simpatia (e empatia) dos dois sempre-pontas-em-filmes-adolescentes John Cho e Kal Penn. Como o próprio filme diz, um é aquele japonês de American Pie, e o outro é aquele indiano de O Rei da Festa.
A trama é a mais absurda das absurdas, gerando situações tão esdrúxulas que qualquer um poderia tecer comentários horrendos sobre a qualidade (ou falta de) da produção. Por outro lado, superando as expectativas, os dois atores principais seguram as pontas da trama muito bem e garantem uma série de risos incontroláveis pela história toda. Repleta de piadas duvidosas, tem todos os quesitos para deixar os adolescentes morrendo de rir.
Harold (John Cho) é um descendente de coreanos que trabalha arduamente enquanto seus colegas de escritório apenas zombam de sua cara e o fazem trabalhar ainda mais. Kumar (Kal Penn) é um descendente de indianos, parte de uma família de médicos, que não dá a mínima para a profissão que seu pai quer que ele siga. Colegas de apartamento, eles estão mais interessados em drogas e curtição do que qualquer outra coisa. Fãs de comida fastfood, eles decidem, uma noite, comer na lanchonete White Castle. Porém, eles não conseguem encontrar nenhuma pela cidade e saem, noite a fora, em busca do "santo graal" das lanchonetes. E o que a noite lhes reserva, apenas aumenta ainda mais a fissura pelos hambúrgueres do "castelo branco".
Mesmo que sejam coadjuvantes na maioria dos filmes que participam, John Cho e Kal Penn já demonstraram que podem ser atores de primeira categoria. John Cho fez o ótimo (e desconhecido) Better Luck Tomorrow, mas ainda assim é muito mais conhecido pelo seu papel de John "Milf Guy" nos três primeiros episódios da série American Pie. Kal Penn, por sua vez, depois de ser coadjuvante de Ryan Reynolds (o futuro Deadpool no filme solo do Wolverine) em O Rei da Festa, estrelou o bacana Nome de Família, além da continuação do filme de Van Wilder. Como a vida não é fácil em Hollywood, ambos continuam fazendo os tradicionais filmes-tranqueira como Epic Movie. Ao menos, John Cho ganhou o papel de Hikaru Sulu, na reinvenção da série Jornada nas Estrelas.
Se os protagonistas são oriundos de filmes adolescentes, o mesmo pode-se dizer dos coadjuvantes, quase que todos de "clássicos" dos últimos 10 anos, como David Krumholtz, (10 Coisas que Odeio em Você), Eddie Kaye Thomas (American Pie), Ethan Embry (The Wonders - O Sonho Não Acabou, Mal Posso Esperar), Ryan Reynolds (O Rei da Festa) e Neil Patrick Harris (que interpreta a si mesmo!).
O roteiro é de Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg (afe!), que não fizeram praticamente nada além de escrever, dirigir e produzir os três filmes da série Harold and Kumar (dois longas e um curta-metragem). Danny Leiner dirige este primeiro longa e, ao menos, faz um trabalho melhor do que a outra bobeira de sua carreira, o idiota Cara, Cadê Meu Carro?. Tudo o que falhou em seu primeiro filme, ele conseguiu melhorar aqui, até mesmo porque não havia o peso de celebridades como Ashton Kutcher, Sean William Scott e Jennifer Garner, que à época ainda não eram estrelas do cinemão. Depois, o diretor voltou para os episódios de pequenos seriados de televisão, dos quais ele saiu para dirigir esses dois filmes. Parece que não conseguiu muito com suas experiências...
Talvez com os efeitos especiais mais toscos dos últimos filmes de comédia, o importante não é a qualidade, mas sim o quão aderente a produção é ao ambiente e mundo de Madrugada Muito Louca. Ou seja, nada pode ser extremamente bem feito, primeiro porque não combinaria com o filme e com os personagens e, segundo, bem, segundo porque os produtores com certeza não tiveram muita grana disponível para a produção, mesmo.
A trilha sonora é bem no estilo da molecada que assiste produções como esta. Algumas composições de Ali Dee, uma aparição de Black Eyed Peas e bons remembers com Nicki French. Com rap, hip hop e algumas músicas saudosistas, o clima dos maconheiros de plantão está garantido, estejam eles "doidões" ou "na secura".
Falar sobre as maquiagens e figurinos é um trabalho hercúleo. A categoria duvidosa da produção, como já mencionado, comanda o clima das aventuras dos dois amigos, deixando a trama ainda mais engraçada e non-sense. De acordo com a intenção do diretor, segundo ele próprio. O guaxinim de pelúcia, o caipira com furúnculos e até mesmo as representações dos sonhos de Kumar com um saco de maconha são tão absurdos que é impossível não cair na gargalhada. Claro, se seu nível de humor der margem para tal.
Algumas cenas já são antológicas para os adoradores de filmes B, no padrão Harold e Kumar, é claro! Entre as já citadas acima, pode-se destacar a cena em que Neil Patrik Harris (Tal Pai, Tal Filho) se diverte com prostitutas e cocaína em um carro em movimento, ou ainda quando a dupla fica totalmente fumada e pegam carona em uma cheetah. E como não poderia faltar, as cenas escatológicas, tão constantes nas produções adolescentes de hoje em dia, estão presentes durante toda a trama. E, óbvio, as piadas preconceituosas também recheiam a trama, sem esquecer das mulheres nuas e referências à drogas.
Madrugada Muito Louca é uma referência direta a Férias Frustradas, com Chevy Chase. Não é o mesmo primor de humor, nem chega a ser um clássico, mas também é uma odisséia por um McGuffin, como diria Spielberg. É a busca pelo objeto desejado, pela meta a ser batida. Harold e Kumar são os Indiana Jones dos perdedores e maconheiros.
A fita foi tão bem recebida no mercado norte-americano que ganhou uma continuação do mesmo nível, em 2008. Tosca, absurda e engraçada. Não tão "inovadora" quanto o original mas, com certeza, com momentos tão hilários quanto. Para os padrões de Harold e Kumar, é claro!
Nota: 6,6/10
Direção: Danny Leiner
Roteiro: Jon Hurwitz & Hayden Schlossberg
Elenco: John Cho & Kal Penn & David Krumholtz & Ethan Embry & Eddie Kaye Thomas & Ryan Reynolds & Christopher Meloni & Neil Patrick Harris
Estréia: Julho de 2004
Gênero: Aventure & Comédia
Duração: 88 minutos
Distribuidora: New Line Cinema
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por Felipe Edlinger
22 de dezembro de 2008
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por Felipe Edlinger
22 de dezembro de 2008
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