...e assim caminha a humanidade...

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domingo, 19 de outubro de 2008

[MovRev] Rebobine, Por Favor

(Be Kind Rewind)

Dirigido por Walter Hill

Rebobine, Por Favor é um dos filmes mais originais do ano mas que, talvez, não agrade à gregos e troianos. Redefinindo a frase anterior, é certeza que não agrade a muitas pessoas. Simplesmente porque é diferente dos padrões.

O filme é uma homenagem sincera ao cinema de uma câmera na mão e uma idéia na cabeça, ao pioneirismo da nobre arte, ao improviso e aproveitamento dos recursos que se têm nas mãos para expressar o que está no coração. Rebobine, Por Favor tem muito mais alma do que corpo. E isso é, na verdade, um enorme elogio.

Jerry (Jack Black) é um neurótico que acha que a estação de energia do bairro está causando suas dores de cabeça. Ao tentar sabotar a estação, ele fica magnetizado e acaba, sem querer, apagando todas as fitas VHS da locadora onde seu amigo Mike (Mos Def) trabalha. Desesperados porque uma cliente fiel do Sr. Fletcher (Danny Glover), dono da loja, quer alugar Os Caça-Fantasmas, eles resolvem refilmar o filme, da melhor maneira que podem, para evitar que ela conte ao Sr. Fletcher o que aconteceu. Ao contrário do que esperavam, a "refilmagem" faz enorme sucesso e eles, então, resolvem refilmar uma série de filmes que os clientes pedem.

Rebobine, Por Favor tem a alma pura e sincera das antigas comédias, sem nenhuma apelação, coisa rara atualmente, em um mundo de comédias adolescentes escatológicas e paródias de filmes de sucesso, que tendem cada vez mais para o tosco inimaginável.

O roteiro simplista, que parte de uma grande idéia, se suporta pela simples curiosidade dos filmes refeitos, que eles chamam de "suecados" (isso mesmo, derivado do nome do país Suécia). Mérito de Michel Gondry, diretor e roteirista do filme, que trás grande experiência do mundo dos videoclipes (Bjork, Massive Attack, Chemical Brothers) e do excelente Brilho Eterno de uma Mente sem Memória.

O rapper Mos Def vem se confirmando como num bom ato, presente em um bom número de filmes das últimas safras, como 16 Quadras e O Guia do Mochileiro a Galáxia. Mesmo não sendo um ator nato, ele se vira muito bem nos papéis que lhe são atribuídos, em especial aqueles em que os personagens parecem bobos e descrentes.

Jack Black está quase diferente de seus personagens tradicionais, com exceção de uma recaída ou outra. Ele apresenta um personagem um pouco mais sóbrio, sem deixar de ser engraçado, mas com poucas caras e bocas, com o mesmo jeitão de moleque e viajante que é o mote de quase todos os seus filmes.

As imitações (filmes "suecados") são realmente o ponto alto do filme. São tão engraçadas que, elas por si só, já valem o preço da entrada, da locação e da compra do DVD, quando sair para venda. Os Caça-Fantasmas tem efeitos especiais de chorar de rir, A Hora do Rush 2 tem uma imitação de Jackie Chan que é, no mínimo podre. Robocop usa uma fantasia ridícula e O Rei Leão é a animação mais original com efeitos devastadoramente toscos da história. Isso, sem contar com outras "suecadas", como 2001 - Uma Odisséia no Espaço, King Kong, Carrie - A Estranha, Homens de Preto (ótimo!). Os remakes são tão absurdos que podem até ser interpretados como um ultraje em primeira instância, para quem não tem senso de humor.

Tudo que é minimista no filme é ótimo; das atuações de Danny Glover, como o dono da locadora, e Mia Farrow, como a cliente que que "suecar" Conduzindo Miss Daisy. As locações em Nova Jersey dão o clima do bairro afastado e esquecido do mundo onde a locadora fica. A trilha sonora, que varia do som kubrickiano ao blues de Fats Waller, um dos temas do filme, acompanha com perfeição a trama toda. Até o próprio slogan da locadora, criado pelo personagem de Jack Black, é ótimo: "Be Kind Rewind, Videos a La Carte".

Rebobine, Por Favor mostra a magia do cinema, em transformar verdades em histórias, e histórias em lembranças. O envolvimento das pessoas, a logística, a organização. É claro que tudo é mostrado de maneira parodiada, como é o propósito do filme como um todo, mas que representa toda a arte de fazer arte.

E o cinema é mostrado como a arte que dever ser visto, como a inspiração que faz vidas seguirem em frente, sem o corrompimento da pureza da obra, como testemunhado nos filmes antigos. É uma rechamada ao tempo em que colocar os sentimentos em celulóide era mais importante do que nadar em rios de dinheiro, quando o prazer de atuar era maior do que a ambição de ser o próximo milionário da indústria cinematográfica.

Este filme é uma comédia com uma poesia improvável, que transmite a sensação dos verdadeiros cinéfilos, a paixão incomensurável pela sétima arte. É de fazer o rosto sorrir e o coração se alegrar, com um final na medida para os saudosistas, otimistas e entusiastas.

Nota: 8,1/10

Direção: Michel Gondry
Roteiro: Michel Gondry
Elenco: Jack Black & Mos Def & Danny Glover & Mia Farrow & Melonie Diaz
Estréia: Outubro de 2008
Gênero: Comédia
Duração: 102 minutos
Distribuidora: New Line Cinema
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por Felipe Edlinger
19 de outubro de 2008
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