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sábado, 15 de março de 2008

[MovRev] Rocky Balboa

(Rocky Balboa)

Directed by Sylvester Stallone

Assim como em Rambo IV, fiquei com certo receio com relação a este Rocky Balboa, quanto Sylvester Stallone, já sessentão, resolve reviver seu maior personagem, dentre seus mais de 50 filmes. Felizmente, tudo não passou apenas de desconfiança, e garanto que este é o melhor filme da série, junto com o original.

É sempre bom ouvir a música tema do filme, novamente, principalmente em uma produção inédita, e ver que Stallone não esqueceu a personalidade e o coração do personagem, que continua um tanto quanto bruto, porém simples e simpático como antes, o traz à tona o Rocky Balboa de antigamente.

Stallone, mais uma vez, escreve e dirige a produção do filme do lutador da Philadélphia, que conquistou o mundo por duas vezes. Com exceção da direção do quinto filme, que ele mesmo considera o pior da série (e realmente é), ele assinou todos os outros com a diração e roteiro. O primeiro filme levou o Oscar de melhor filme com méritos, tendo competido com os excelentes Todos os Homens do Presidente, Rede de Intrigas e Taxi Driver.

Neste sexto filme, apesar da destacada performance de Sylvester Stallone, o que merece os louros do sucesso é o roteiro escrito por ele. Com certeza, o maior acerto da produção, não possui pontas soltas (com exceção de que, até agora, não entendi o que aconteceu com o problema que Rocky tinha cabeça no quinto filme, que o impedia de lutar e que o poderia até matar) e transmite um carisma sem precedentes na série.

Na história, Rocky vive uma vida normal como dono de seu restaurante Adrian's, onde rala duro para mantê-lo bem freqüentado. O boxeador de coração mole vive sozinho e sonha com as glórias do passado, porém a vida é cruel com algumas pessoas, quando lhes dá muita coisa na juventude e na velhice as toma de volta. Eis, então, que uma simulação de computador coloca Mason Dixon, o atual e desprestigiado campeão dos pesos pesados, lutando contra o lendário Garanhão Italiano, Rocky Balboa. Quando o Rocky virtual derrota o campeão por nocaute, os fãs ficam em polvorosa e os empresários de Dixon vêm uma oportunidade de aumentar o carisma do lutador e ganhar uma grana preta em uma luta de exibição entre eles. Depois de desconversar, Rocky aceita o desafio e começa a treinar para a luta de sua vida.

Sly acertou na trama do filme ao não focar no lutador, em cenas de luta ou em superação como desportista mas, sim, ao priorizar a vida do personagem, os acontecimentos do dia a dia, as intempéries que assolam alguns amigos e a vida dele com as vitórias do passado.

Ele capturou a alma do personagem de uma maneira muito mais carismática e convincente do que em todos os outros filmes, inclusive o primeiro. Enquanto em Rocky - Um Lutador, ele mostra a garra de um rejeitado em virar alguém na vida, desafiando campeões e superando limites, neste Rocky Balboa ele é simplesmente alguém que luta para viver uma vida ordinária, dia após dia, sem muitas emoções além das histórias que conta a seus clientes no restaurante. Sem a esposa Adrian, já falecida, e sem o filho Robert Jr., que não o considera, ele vive uma rotina traquila da casa para o restaurante e depois o caminho de volta.

Sly prova que a história não acaba quando a velhice chega, mas sim que todos têm a possibilidade e a chance de um novo início, seja na carreira, no amor, na família, nos amigos, na sociedade, na vida, em si. Ele mostra o renascer de tudo na vida do lutador, dos afetos com uma velha conhecida (que era novinha quando ele lutava) à reaproximação com entes queridos e o saciar dos desejos da alma.

Ele está ótimo como o lutador que envelheceu e que se tornou sábio com o tempo e com a experiência, mesmo que ainda continue com um pouco de teimosia e com o sangue italiano fervente como sempre, mas com um coração cada vez mais maduro, bom e esperançoso.

Novamente, vemos a série de treinamentos empolgantes do desportista, que deixam os fãs com vontade de lutar, também, com direito a uma reconfiguração da mais famosa cena de seus filmes, quando ele sobe a escadaria do Museu de Arte da Filadélfia, que se tornou um dos marcos do cinema. Além disso, o filme contém cenas de flashback de todos os outros filmes, com exceção do quinto, por razões já colocadas aqui.

Burt Young volta como o querido Paulie, assim como Tony Burton, como Duke, que o ajudam na sessão de treinamentos. Milo Ventimiglia, mais conhecido como o Peter Patrelli da série Heroes, interpreta de maneira eficiente o filho que tem dificuldades em lidar com o fato de o pai ter sido um grande campeão. O lutador, campeão do mundo dos meio-pesados (na vida real), Antonio Tarver, agrega realidade à produção como o antagonista da trama, Mason Dixon.

A cena derradeira da luta do filme é de uma enorme qualidade, que não faz feio perto de nenhuma das outras dos filmes anteiores (vs. Apollo, vs. Clubber Lang, vs. Draco, vs. Tommy Gunn) e, talvez, seja até melhor do que a maioria delas. A coreografia é excelente e torna verossímil a luta entre o velha guarda e o jovem dínamo. Os efeitos em preto e branco conferem um tom de desespero e arte para o embate, enquanto os ângulos de cena favorecem o Garanhão Italiano e não nos deixa perder a esperança durante os quase 15 minutos de luta.

Curiosidade que a última cena foi a primeira a ser gravada porque Stallone estava no auge de sua forma física, surpreendente (não tem como não achar isso) para um astro com a idade dele. Vide Arnold Schwarzenegger, um ano mais novo que Sly.

Isso tudo mostra que a velha guarda está sempre disposta a provar, mais uma vez, que tem seu valor, e que pode enfrentar um último desafio. É apenas uma questão de vontade, confiança e de fé. Um filme emocionante com uma atuação e história dignas da grandeza do personagem. Surpreendente e cativante.

Nota: 8/10

Felipe Edlinger
15 de março de 2008

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