
Não me levem a mal e não pensem que sou um cara todo certinho e santo. O primeiro, creio que não sou nunca, inclusive acredito que eu erre muito mais do que qualquer outra pessoa; o segundo, nunca fui. Já fiz algumas merdas na vida, mas da maioria me orgulho e não me arrependo.
Apenas gosto das coisas nos seus devidos lugares e não aprecio pessoas que procuram tirar proveito de outras que não são tão espertas. Porém, quando as espertinhas são pegas em flagrante, e posso presenciar o fato, meu dia está ganho.
Foi mais ou menos isso o que aconteceu hoje, mais ou menos às 22h, de uma segunda-feira nublada. Já revoltado com a situação dos carrinhos de supermercado, sempre vou às compras tarde da noite, no limite do horário de fechamento para não enfrentar filas imensas e pessoas estressadas.
Infelizmente, para minha tristeza (o que faz parte da vida, reconheço), todos os caixas estavam lotados e o caixa rápido, como de costume, é rápido apenas no nome, mesmo. Tédio e insatisfação consumados nos primeiros minutos de espera, eis que visualizo o tão cobiçado caixa preferencial, para gestantes, mulheres com crianças no colo, deficientes e idosos, quase vazio.
A razão pesa um pouco quando já são 22h, no começo maçante de mais uma semana. Penso em ir ao caixa, uma vez que há pessoas poucas pessoas, mas resisto a tentação e deixo a ética falar um pouco mais alto, uma vez que havia senhoras de idade e mães com filhos naquela fila.
Acabo caindo em um caixa normal, com uma estagiária em treinamento que, demora, pelo menos, 20 minutos para atender 3 pessoas com poucos produtos nas cestinhas de compras. É aí que, um pai e uma mãe, fanfarrões de marca maior, entram na fila do caixa preferencial, com um filho marmanjo de cerca de 17 anos de idade, fazendo graça ao simular carregar o filho nos braços para alegar que têm uma criança de colo. E, depois disso, a fila do caixa preferencial começou a encher como a do caixa rápido.
Quando, finalmente, consigo passar meus produtos, sendo o mais educado possível, falando "boa noite" e "como vai", ganhando a simpatia da atendente, eis que nos deparamos com uma cena engraçada, mas também, revoltante.
O casal bonachão estava quebrando o maior pau com a atendente do caixa preferencial porque ela não queria passar as compras deles. Por quê, vocês perguntam? Simplesmente, porque havia mais 4 pessoas na fila que faziam parte do público preferencial. Nada mais justo.
E, a partir daí, o bicho começa a comer solto, com discussão, vozes alteradas, chiliques, tudo da parte do casal fanfarrão. Enquanto isso, a atendente e o supervisor dela, que já havia sido acionado, não mudando o discurso. "Vocês não podem passar neste caixa, independente se quando vocês chegaram não havia ninguém atrás de vocês. Agora tem.", era a frase clara proferida pela coesa atendente. E o casal paspalho indignado ao extremo, como se tivessem razão na situação.
Coitado foi o filho dos dois, passando vergonha, sem saber onde se esconder frente a baiana rodada em pleno supermercado, no centro de atenção de todos os outros caixas. Lembro-me de escutar que ele queria entra em uma fila normal, como na que eu estava. Porém, os pais queriam tirar alguma vantagem, com o famoso jeitinho brazuca de ser, que tanto nos vangloriamos, mas que nem sempre ajuda a nosso favor.
Então, é aqui que mora a questão: por quê precisamos sempre tirar vantagem de tudo? Por quê esse casal entrou em um caixa preferencial sem fazer parte do público-alvo? Sendo que eu passei minha compra primeiro do que eles, sem contar o tempo do barraco a lá novela das 20h.
Não sei, não sou dono da verdade. Apenas tenho consciência de que isso é uma febre, com pais, mães, irmãos, até avós, e principalmente amigos tirando vantagem de outros porque eles simplesmente podem. Imaginem os desconhecidos, então. Que atitude mais sem nexo, sem postura correta... O que ganhamos com isso?
É onde tudo começa: ganhar no troco errado e não falar, ganhar na não cobrança do aluguel do filme, ganhar na esperteza de passar outra pessoa pra trás. E onde o mundo vai parar é o que me pergunto. Não sei a resposta, mas tenho certeza de que isso tudo se encaixa na mesma classe de atitudes que nossos amados políticos tanto fazem no Planalto e que tanto abominamos: sacanagem. Apenas em proporções menores.
Independente de gênero, número e grau, o crime é o mesmo tipo para todos, seja tirando vantagem aqui ou ali, o princípio é o mesmo, roubar no troco ou em milhões de dólares, furtar uma bala ou o lugar de alguém na fila, tudo começa de baixo para que que possamos fazer a coisa certa quando chegamos lá em cima. Ou a coisa errada, como fizemos lá trás.
Felipe Edlinger
31 de março de 2008
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