...e assim caminha a humanidade...

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sexta-feira, 16 de maio de 2008

[MovRev] Eu Sou a Lenda

(I Am Legend)

Directed by Francis Lawrence

Não é à toa que Will Smith é o cara que mais fatura em Hollywood atualmente, afinal de contas, tudo o que ele toca sai com qualidade, sempre no gênero da ficção científica e da comédia, essencialmente, mas mostrando que o drama também lhe rende um ótimo lugar para mostrar todo o seu talento.

Assim como Tom Hanks, ele segura as pontas em um filme por mais de uma hora, no qual contracena apenas com manequins e com um pastor alemão. Mesmo que Tom Hanks tenha sido reconhecido e premiado com dois Oscar (acredito que merecia um por Náufrago, também), Will não deixa por menos e transmite emoção em seu desespero em uma Manhattan pós-genocídio.

Will Smith é Robert Neville, um cientista militar que se encontra sozinho em plena cidade de Nova York. Ele é, na verdade, o aparente último sobrevivente no planeta Terra, recentemente afligido por uma peste de proporções globais. Três anos antes, o que parecia ser a esperada cura do câncer, baseada na alteração de um vírus para propósitos medicinais, se transformou em uma epidemia que dizimou a raça humana, matando imediatamente mais de 90% da população mundial. Dos 10% restantes, apenas 1% se tornou imune ao vírus, enquanto os restantes se transformaram em mutantes sanguinários, sensíveis a luz solar, como vampiros. Por alguma razão, Robert Neville também é imune e fica na cidade de Nova York, considerada por ele o ponto inicial da epidemia, para estudar e encontrar uma cura para a doença. Sua vida se resume a buscar a fonte da cura durante os dias, e se esconder dos seres da escuridão durante as noites, sempre em companhia de sua fiel cachorra, Samantha, uma bela pastora alemã. É nesse ritmo que ele vai enfrentando não apenas os inimigos físicos monstruosos, mas também a eterna luta contra a insanidade que o confronta todos os dias.

A produção esmerada retrata com perfeição um mundo pós-catástrofe, neste caso, a morte de 90% da população do globo. Os efeitos especiais de primeira categoria mostram que também podem ajudar um filme a ser bom, sem, necessariamente, ter que ser os donos da produção.

A excelente trilha sonora, com músicas de Bob Marley, o verdadeiro criador e disseminador do reggae e da filosofia da música jamaicana, se contrapõe com as situações vividas por Will Smith, mantendo em equilíbrio o seu personagem, e o próprio filme. É o que ele chama de "iluminar a escuridão", como diria Bob. Entre as clássicas, estão Three Little Birds, I Shot the Sheriff, Stir It Up e Redemption Song.

A boa atriz brasileira Alice Braga faz seu début no cinema Hollywoodiano com uma ponta considerável, em um bom filme arrasa-quarteirão. Ela apresenta um inglês sem sotaque (ela também fala espanhol), porém sem as nuâncias de uma pessoa original da terra do Tio Sam. Ela, que não é tão bonita como outros (as) brazucas que já tentaram a sorte nos cinemas americanos, abre caminho rumo a uma carreira internacional, sonho de qualquer ator de presença. Seu próximo filme é Blindness, adaptação do livro Ensaios sobre a Cegueira, do português José Saramago. Isso prova que talento faz a diferença, assim como ter parentesco famoso, no caso, com sua tia Sônia Braga, que fez sucesso nos Estados Unidos na década de 1980.

Apesar da adaptação do livro, em que o filme se baseia, ter sido adiada várias vezes desde a década de 1970, a espera valeu a pena. O próprio Will Smith teve seu papel cancelado, assim como Arnold Schwarzenegger. Na direção, já passaram nomes de peso como Michael Bay e Ridley Scott.

A câmera certeira do diretor nos coloca junto a Robert Neville, na desesperadora realidade do cientista militar, e nos mostra o horror do livro de Richard Matheson. Assim como diversos filmes de terror, as luzes e trevas são muito bem definidas, sendo ansiadas e temidas, como em uma boa trama de vampiros.

Francis Lawrence é um diretor reconhecido de video-clips, com trabalhos realizados para Jennifer López, Green Day, Britney Spears e a banda Ok Go. Mesmo sem experiências prévias em longa metragens até três anos atrás, ele conseguiu adaptar de maneira adequada os quadrinhos de Constantine e dirigiu um bom filme, mesmo com o personagem principal sendo visualmente modificado para ser Keanu Reeves. E agora repete seu trabalho com competência, traduzindo para as telonas a obra de 1954, com roteiro bem amarrado de Mark Protosevich (que está escrevendo Thor, clássico super-herói da MArvel Comics) e Akiva Goldsman (que está escrevendo Anjos e Demônios, a próxima aventura de Robert Langdon), que só comete alguns deslizes perto do final do longa. Porém, nada que comprometa, nem ao menos parcialmente, o trabalho.

A alternância da narração com flashbacks, que contam a história de Neville e a origem do problema mundial com a peste, cadenciam muito bem momentos de ação com fases mais elucidativas, funcionando como paradas obrigatórias para o ritmo frenético que é imposto em horas cruciais da trama.

Mesmo com a boa direção, o bom roteiro adaptado e os bons efeitos especiais, a âncora da produção é realmente Will Smith. Com força e talento, ele representa, de maneira digna, o sofrimento e o desespero de alguém que se encontra sozinho no mundo, por alguns anos, e que permanece sóbrio e são em busca de um bem maior do que ele próprio. As cenas em que ele contracena com manequins são pequenas pérolas na trama, quando é possível ver em seus olhos verdadeiras emoções. Outro destaque se dá quando ele recita os diálogos do filme Shrek quando tenta estabelecer contato com o garoto Charlie Tahan, provando que o homem é um ser social e que precisa de contato com outros de sua espécie para não perecer.

É Will Smith em seu melhor, sendo comercial, eficiente, resultante de boa bilheteria mas, acima de tudo, sinônimo de bom ator. Nada mal para um cara de 40 anos que, até os 28 anos, ainda era mais reconhecido pelo seu papel em The Fresh Prince of Bel-Air (Um Maluco no Pedaço), que não deixava de ser um excelente material de boa comédia. Agora, ele pode escolher seus roteiros e ditar a regra do negócio, estrelando filmes do calibre de Homens de Preto, Ali, Inimigo do Estado, Eu, Robô, Em Busca da Felicidade, entre tantos outros. Resumindo: dá-lhe Will!

Nota: 7.5/10
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por Felipe Edlinger
16 de maio de 2008
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