
Dirigido por Alfonso Cuarón
As obras de Charles Dickens são atemporais. Também são estranhas, mas adoradas por todos. E há sempre uma liçãozinha de moral ao final de cada um de seus contos. Mundialmente conhecido por suas maiores obras, como Oliver Twist, A Christmas Carol, Um Conto de Duas Cidades e este Grandes Esperanças, essa regra praticamente não muda em cada uma de suas histórias.
Com inúmeras adaptações de seus contos para o cinema e televisão (mais de 250 para dar uma obra de grandeza), em especial A Christmas Carol (ou Canção de Natal, aquela da história dos três espíritos natalinos), ele, de tempos em tempos, recebe mais uma adaptação de seu trabalho. Porém, com este Grandes Esperanças a coisa é um pouco diferente. Com mais de 10 adaptações já na lista, este filme dirigido pelo ótimo diretor mexicano Alfonso Cuarón é uma releitura muito mais livre, aberta e interpretada do que seus semelhantes.
Aqui, Cuarón faz quase o qeu Baz Luhrmann fez com a obra de William Shakespeare em Romeu + Julieta, com Leonardo di Caprio e Claire Danes, porém, acentuando a parte mais sombria e estranha que ele já havia destacado um pouco em A Princesinha e que viria a ser seu teor em produções futuras, como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Filhos da Esperança. Enquanto Luhrmann mostrou o exagero de luzes e cores em Romeu + Julieta, estudo para seu Moulin Rouge!, de 2001, sem alterar os diálogos originais, Cuarón faz o mesmo pelo lado de Dickens, porém, acentuando os contrastes entre luzes e trevas.
Diferente dos dois Oscars do filme de 1946, este Grandes Esperanças é uma enaltação ao estranho e a ausência de lógica, como uma boa obra de Dickens é. Com cenários de beleza nada óbvia, a ambientação da obra em uma realidade retratada nas décadas de 1980 e 1990 muda a perspectiva da obra, mas não sua essência.
Finnegan Bell (Ethan Hawke) é um garoto humilde que, às vezes, trabalha como jardineiro para fazer algum dinheiro. Mora com a irmão Maggie (Kim Dickens) e com o namorado dela, Joe (Chris Cooper). Quando ele vai fazer um trabalho na man~soa da solteirona-maluca Ms. Dinsmoor (Anne Bancroft), ele se apaixona por Estella (Gwyneth Paltrow), menina rica e mimada com quem cresce junto, nutrindo uma paixão platônica arrasadora. Porém, em realidades diferentes, ele sempre fica a sombra da menina e nunca consegue concretizar seu sonho de tê-la em seus braços, servindo apenas para ser atiçado pela crueldade da garota. Separados por anos, depois da adolescência, um benfeitor anônimo o proporciona a oportunidade de ir trabalhar em Nova York, expor seus trabalhos de pintor e ser bem sucedido. E, dessa maneira, ele fica mais próximo de fazer com que Estella, criada para sentir desprezo pelos homens, se apaixone por ele.
Ethan Hawke sempre foi um camarada legal, com bons filmes no curriculum vitae que fazem parte da filmoteca de qualquer romântico que se preze, como Sociedade dos Poetas Mortos, Antes do Amanhecer e Ante do Pôr do Sol. E consegue mais uma vez com Grandes Esperanças, com um papel simples à primeira vista, mas que revela um personagem honesto e mais complexo do que poderia parecer em sua cega obsessão pelo eterno amor platônico.
Sua parceira de cena, a ex-senhora Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, é uma graça de pessoa. Mesmo que muitas vezes seja vista como uma profissional "sem sal", ela tem suas qualidade como atriz, mesmo que o seu Oscar de Melhro Atriz por Shakespeare Apaixonado tenha sido um erro enorme da Academia, tendo em vista que Fernanda Montenegro também concorria pelo seu papel em Central do Brasil. Aqui, Paltrow está cruel, seca e etérea como a fonte da paixão do garoto Finn, gerando até certo desprezo e antipatia por parte dos expectadores.
Mas quem rouba a cena (ou as cenas), mesmo em papel secundário, é Anne Bancroft, a eterna Mrs. Robinson, como a solteriona amalucada Ms. Dinsmoor, tia de Estella, que foi abandona no altar, aos 42 anos, por seu noivo. E em uma ponta de luxo, Robert de Niro, sempre ele, se destaca como Lustig, um prisioneiro ajudado por Finn quando criança. Incorporando personagens de grande vigor e presença em cena, eles garantem o tom emocional à trama.
Extremamente teatral, como não poderia deixar de ser, o desenrolar da trama tem um "q" de onírico, principalmente por causa dos cenários, das tomadas mais intimistas e das situações absurdas. Praticamente recitado como uma peça, o filme deve muito à firmeza do diretor e à interpretação no ponto dos ótimos atores.
É uma história de amor como outra qualquer, mas de Dickens. A busca pelo inatingível, o desprezo pelo fácil, a luta pelo que se deseja e o insaciável desejo pelo amor, ou seja, tudo o que gera grandes esperanças. Não deixa de ser uma história crua e cruel (novamente, como toda história de Dickens), mas que vai encantar, e até assustar, alguns corações.
Nota: 7.5/10
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Charles Dickens & Mitch Glazer
Elenco: Ethan Hawke & Gwyneth Paltrow & Chris Cooper & Anne Bancroft & Robert De Niro & Hank Azaria
Estréia: Maio de 1998
Gênero: Drama & Romance
Duração: 111 minutos
Distribuidora: Columbia TriStar
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por Felipe Edlinger
30 de julho de 2008
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por Felipe Edlinger
30 de julho de 2008
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