
Dirigido por Tim Burton
Tim Burton é um cara deveras estranho, muito estranho. Dono de uma personalidade forte e bastante fora do comum, com gostos excêntricos, ele parece não mudar seu estilo cinematográfico e, além disso, parece levar para o mesmo caminho a própria esposa, a ótima Helena Bohan Carter, e seu alter-ego, o excepcional Johnny Depp. E todos nós deveríamos ser agradecidos por isso.
Esta enésima colaboração de Tim Burton com Johnny Depp aflorou dos dois um trabalho original, parecido e diferente de tudo o que já haviam feito antes. Parecido porque o tema central continua sendo um tanto quanto bizarro, sombrio e mórbido; diferente porque agora temos Tim Burton dirigindo um musical.
Aliás, musical é apenas um dos gêneros que esta produção poderia ser encaixada. Se alguém dissesse que Sweeney Todd é, na verdade, um filme de terror, eu acreditaria. Se dissessem suspense, romance, drama, ou ainda comédia, poderia concordar. É aqui que Tim Burton mostra seu incrível diferencial e prova que continua não se vendendo às fórmulas prontas de Hollywood.
E outro que continua não se vendendo, mesmo fazendo parte de mega-produções, como Piratas do Caribe, é Johnny Depp, que, pela primeira vez na carreira, solta a voz em uma produção, cantando como nunca poderia ser pensado e dando um show de categoria. Camaleão como nunca, ele está quase irreconhecível como o personagem central da trama, o barbeiro que busca sua vingança.
Depois de ser expulso de sua própria cidade, e ser separado de sua esposa e filha, pelo Juiz Turpin (Alan Rickman), Sweeney Todd, também conhecido como Benajamin Barker (Johnny Depp), retorna à Londres vitoriana, depois de 15 anos de exílio, para executar sua doce vingança. Sem levantar suspeitas, ele abre uma barbearia sobre a loja das "piores tortas de Londres" da Sra. Lovett (Helena Bohan Carter). Com ela como cúmplice, ele passa a assassinar os aristrocatas da cidade, que viram recheio para as tortas da Sr.a Lovett, que se tornam a sensação da cidade. E esse é o cotidiano que eles pretendem levar até o momento em que Todd planeja realizar sua vingança contra o famigerado Juiz, que hoje detém a guarda de sua filha.
Sweeney Todd é uma soma de excelências em, praticamente, todas as áreas da produção, começando pela sempre segura e eficaz direção de Tim Burton. Porém, grande parte do destaque do longa vem da direção de arte impecável, ganhadora do Oscar de 2007. A morbidez versus o pouco de vida que se encontra em pequenos detalhes da película garante um ar sombrio, porém, encantador.
Os cenário riquíssimos e muito bem desenvolvidos mostram muito mais do que os aparentes simples tons de cinza revelam. Isso sem contar com a maquiagem realista que conseguiu transformar ainda mais Johnny Depp e dar um novo ar sombrio e desleixado a Helena Bohan Carter.
Os atores em si, são de uma solidez que deixaria qualquer diretor satisfeito. É uma grande reunião de atores britânicos, com exceção do próprio Depp, que faz os olhos de qualquer cinéfilo brilhar de satisfação. Helena Bohan Carter demonstra a qualidade de sempre, munida de seu lado mais escuro. Sasha Baron Cohen, o ótimo e ultrajante comediante, traz uma pitada de comédia e levaza a produção como o barbeiro rival de Sweeney Todd; um papel perfeito, engraçado e mesquinho, como só ele consegue ser. Alan Rickman (uma unanimidade nos palcos e películas) e Timothy Spall (mais conhecido como o Peter Petigrew da série Harry Potter) esbanjam a eterna qualidade do teatro inglês. E, para completar o elenco, o surpreendente Edward Sanders, que interpreta o protegido de Todd e da Sra. Lovett, o garoto Toby; com apenas 14 anos, e estreando no cinema, ele emoldura o enredo com sua bela voz e cadência, sem demonstrar o mínimo de estridência, comum dos adolescentes.
O roteiro de John Logan, muito bem adaptado do musical homônimo que estreou na Broadway, em 1979, retrata com fidelidade todo o drama que rendeu inúmeros prêmios a obra musical original. Nada menos poderia se esperar de alguém que deu vida as tramas de O Aviador, O Último Samurai, Gladiador e Um Domingo Qualquer.
Mas não se enganem com os cenários macabros da Londres representada no filme, ou ainda com o doce sangue que escorre a cada cena em que Sweeney Todd avança com seu plano de vingança. O Demoníaco Barbeiro da Rua Fleet é, na verdade, uma história de amor como outra qualquer, porém, do ponto de vista de alguém que não é, em nada, convencional. Uma pequena obra prima!
Nota: 9/10
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por Felipe Edlinger
18 de junho de 2008
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por Felipe Edlinger
18 de junho de 2008
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