
Dirigido por Louis Leterrier
Esqueça Eric Bana. Esqueça Ang Lee. Esqueça, principalmente, o monstro verde-esmeralda sem expressão e bobo da imperdoável produção de 2003. Talvez, valha mais a pena lembrar apenas de Lou Ferrigno da saudosa versão para televisão do "herói" mais poderoso da Marvel Comics.
Felizmente, Edward Norton, fissurado por histórias em quadrinhos e pelo personagem do gigante verde, conseguiu convencer os estúdios Marvel a fazer uma releitura sobre a história do Dr. Bruce Banner e seus problemas com a radiação gama.
O segundo filme da Marvel Studios trouxe mais de tudo aquilo já visto em Homem de Ferro: ação da pesada, efeitos especiais excelentes, sem ser o principal foco da atenção, elenco estrelar extremamente eficiente, roteiro adequado, nada de exageros e bom humor. Sim, muito bom humor. Tudo na medida certa para apresentar mais um de seus famosos personagens.
Dr. Bruce Banner (Edward Norton), durante um projeto militar ultra-secreto, sofre um acidente com radiação gama, que altera seu organismo e metabolismo e o transforma em uma criatura além da simples imaginação humana, a qual chamaram de O Incrível Hulk. Cansado de tentar achar a cura e ser perseguido ao mesmo tempo, ele abandona sua vida de cientista, assim como renega a sua namorada Betty Ross (Liv Tyler), e se refugia nas favelas do Rio de Janeiro para tentar achar a cura para sua doença. Quando ele é encontrado pelo exército norte-americano e cai novamente na estrada, mais uma vez fugindo, ele tenta, de uma vez por todas, achar a cura para seus problemas. Porém, o General Ross (William Hurt) coloca em seu encalço Emil Blonsky, militar ávido por confrontos físicos e ação, que acaba levando o embate para o lado pessoal e não medirá esforços para acabar com O Incrível Hulk.
Edward Norton é sempre bem vindo em uma produção. Deve ser a glória para um estúdio de cinema poder contar com ele, assim como deve ser um alívio para toda a equipe de produção, do diretor ao roteirista. Tanto que seu envolvimento com a trama não se restringe em atuar; sempre que possível, ele dá pitacos na direção e principalmente no roteiro. Ele é um multi-talentos que fez Liv Tyler se sentir "meio burra" (palavras da própria atriz), tanto que irá estrelar, produzir, dirigir e escrever seu próximo filme Motherless Brooklyn. Ele coloca o sangue pra ferver, literalmente, no papel do Dr. Banner, atormentado pela sombra verde que carrega todos os dias. Em contraste com seus papéis introspectivos, ele resgata a raiva que já vimos em A Outra História Americana, porém sem perder sua ternura natural.
Liv Tyler está charmosa e deliciosa como sempre, mesmo depois de ter tido um filho em 2004, fazendo frente a Betty Ross de Jennifer Connely, da produção de 2003. Ao menos nesse quesito, ambos filmes estavam bem servidos.
Os bons coadjuvantes de luxo como Tim Blake Nelson, William Hurt e a própria Liv Tyler, garantem os rostos conhecidos, a identificação do público de massa e o nível da produção. Mas é Tim Roth que, mais uma vez, chama a atenção como o antagonista. Aqui, ele encarna Emil Blonski (agente da KGB nos quadrinhos) que se tornaria um dos maiores inimigos do gigante verde, o Abominável. Ele já mostrou que sabe o que faz com personagens marcantes em Cães de Aluguel e Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, e, principalmente, no Planeta dos Macacos de Tim Burton, quando encarnou, de maneira incrível, o vilão General Thade.
O diretor Louis Leterrier não tem grande experiência mas ganha os parabéns pela direção agitada e rápida, e muito segura, que transporta a linguagem quadrinesca para as telonas. Desde os créditos iniciais, com o já tradicional logo da Marvel emoldurado pelas páginas dos quadrinhos sendo viradas, e a introdução ágil de como o Dr. Banner se tornou O Incrível Hulk, ele segura muito bem as pontas de uma produção de porte, que em nada se parece com suas produções anteriores, Carga Explosiva e Cão de Briga. E seu trabalho é muito bem visto por atores, tanto que Liv Tyler assinou o contrato para o filme simplesmente por saber que Ed Norton e o diretor Leterrier estavam envolvidos.
Se a direção é acertada, alguém que parece já ser prata da casa é o roteirista Zak Penn, autor de, nada menos do que, cinco roteiros de filmes de super-heróis da Marvel Comics: X2, Elektra, Quarteto Fantástico, X-Men: O Confronto Final, além deste O Incrível Hulk. Ele é tão considerado pelo estúdio que já foi anunciado como roteirista de um filme-sonho de qualquer fã de quadrinhos: Os Vingadores (The Avengers), anunciado para 2011.
E falando em Os Vingadores, a Marvel Studios sabe como garantir a atração e fidelidade dos fãs de carteirinha de seus super-heróis, seja na participação de atores "escondidos", como o próprio Lou Ferrigno (o Hulk do seriado da década de 1970) e o criador mestre dos quadrinhos Stan Lee (em sua aparição tradicional), seja nos tesouros escondidos em seus novos filmes, como o escudo do Capitão América e a citação da S.H.I.E.L.D., em Homem de Ferro, e o soro do supersoldado e o nome de Nick Fury (diretor da S.H.I.E.L.D.) em O Incrível Hulk. Ou ainda, nas aparições de personagens não tão escondidos assim, como a presença de Tony Stark (Robert Downey Jr.) no filme do monstro esmeralda.
E o melhor, nada de cães-hulk e efeitos sem graça, como vistos na penúltima versão do herói, praticamente apenas um estudo de como se fazer a coisa certa no mundo das adaptações de quadrinhos. Apesar dos efeitos do primeiro filme terem sido produzidos por uma certa Industrial Light & Magic, o segundo é, de longe, muito mais realista e bem finalizado. E nada de ação gratuita e dramatização na produção anterior de Ang Lee; muito pelo contrário, assim como em Homem de Ferro, a ação é homeopática, mas muito bem ministrada, eficazmente alternada com cenas elucidativas para não deixar nenhum fã, muito menos os não-nerds, perdidos na história. E Hulk não é aquele monstro incontrolável, mas sim um ser incompreendido que vê no rosto de sua amada Betty Ross (Liv Tyler), um pedaço da paz que tanto deseja.
Se Blade fez renascer os filmes de heróis de quadrinhos, Homem de Ferro foi outro recomeço, desta vez de versões melhores e anabolizadas (no bom sentido) dos clássicos da Marvel Comics. Mais firmeza, mais fidelidade, mais realismo, mais ação e mais emoção em ver os heróis do papel em vida (quase) real. E cuidado, porque Hulk esmaga!
Nota: 8/10
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por Felipe Edlinger
15 de junho de 2008
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por Felipe Edlinger
15 de junho de 2008
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