...e assim caminha a humanidade...

"Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingí-la." (Salvador Dali)
"Et quacumque viam dederit fortuna sequamur." (Virgílio)
"Always think about a coloured tequila sunrise life." (Felipe Edlinger)
"Foda-se a balada, o que importa é a companhia." (Felipe Edlinger)
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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

[Cron] Mais um ano se vai... e porque não, Feliz Natal e Próspero Ano Novo!!!!

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por Felipe Edlinger
31 de dezembro de 2007
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Outra estação se foi e estou vendo, uma vez mais, os longos e ensolarados dias de verão chegarem. Logo, as águas os levarão de volta e o ciclo se reiniciará novamente.

Nem sempre pensamos nos efeitos que um simples final de ano tem sobre nós e sobre nossas vidas. Nem sempre pensamos em como as pessoas que nos cercam planejam começar a nova fase, em que promessas fizeram, em que desejos apostarão suas fichas, em qual futuro se fará realidade nos próximos dias.

Hoje é um dia para reflexões, para o balanço anual de pensamentos que guiará nosso amanhã. Ou pelo menos, deveria. Ultimamente, passamos por situações tão contrastantes que me pergunto o valor de tudo o que nos ocorreu neste último ano. Somente sei que nos vale de aprendizado.

Foram momentos alegres, e alguns tristes e assustadores, que chegaram com a velocidade de um choque. E alguns deles, permanecem gravados como imagens recentes em nosso córtex. Para o bem ou para o mal. Creio que para o bem. A vida é feita de experiências e o que elas nos trazem de melhor são os ensinamentos raros, muitas vezes imensuráveis. Se algo foi bom, faça novamente; caso contrário, pense diferente, e melhor.

Não gosto de pensar e discutir sobre o que é certo e o que é errado porque isso depende do repertório e das crenças de cada um de nós. Porém, o balanço que fazemos ao final de cada dia é o que nos diz o nosso caráter. Sintam-se bem consigo mesmos.

Gosto de pensar que a vida é um equilíbrio entre forças, portanto não teremos a vida perfeita porque isso faz parte de uma ilusão e, cá entre nós, não teria a menor graça se conseguíssemos tudo sem esforços. E também se alegrem porque o marasmo nunca será eterno. Sem hipocrisia alguma, dias melhores virão. De uma maneira ou de outra, é um grande motivo para sorrirmos sempre.

Natal e o novo ano são, para mim, momentos de tristezas e alegrias. A dubiedade é facilmente explicável; quando um ciclo se fecha, uma parte de nós morre para sempre, mas ao novo início, a renovação trás forças suficientes para um recomeço ainda melhor. Mas as lembranças permanecem e elas também nos fazem continuar, nos fazem olhar para o futuro, nos fazem encarar novos desafios.

Cada momento de tristeza é suplantado por outros de imensa alegria; cada amigo que se vai entrega as chaves para mais outros tantos que ainda não conhecemos; cada decepção é apenas um motivo para nos surpreendermos cada vez mais; cada coração que se parte encontra a cura em mais uma nova paixão.

Tudo isso faz parte de algo que sempre desejo a todos: felicidade. Em minha singela opinião, felicidade é o resumo de tudo que podemos desejar em nossa existência; de grandes amores a dinheiro no bolso, de viagens de férias a bolinhos de chuva, de sucesso na carreira a cheirinho de bebê novo, de animais de estimação a um bom livro, de filmes clássicos a um abraço honesto de amigo. Sucesso. Sucesso na vida. É isso!

Além disso tudo, felicidade é tentar ser melhor, com sinceridade. Cultivar os poucos e bons amigos e fazer de tudo para que eles não deixem de ser importantes para nós. Pensar melhor antes de tecer comentários sobre pessoas com as quais nos importamos. Encarar as conseqüências de nossos atos como pessoas responsáveis. Deixar transparecer quando gostamos de alguém. Cumprir nossas promessas ou, ao menos, tentar verdadeiramente torná-las realidade. Aprender com nossos erros, avaliar nossos deslizes e tentar não voltar a fazê-los. Eu tentarei, mais uma vez.

Façam planos, alguns mirabolantes, outros mais realistas. No final, são eles que moldarão o desejo pela vida e a chama acesa em cada um de nós. Não deixem o stress e o desespero tomar conta do cotidiano, é sempre bom parar um pouco e avaliar a quantas anda nossa saúde. Dediquem tempo às paixões, sejam elas por pessoas, por hobbies, pelo trabalho, ou até mesmo pelos times do coração; apenas me garantam que elas não se tornarão obsessões.

Se a vida parecer a mesma por muito tempo, saiam um pouco da mesmice e da rotina. Pratiquem ações diferentes, sempre que possível. O segredo da vida é não se deixar levar e não permitir que o tédio e o ócio tomem conta de nosso tempo. Comecem devagar, passeiem no parque da cidade, visitem amigos que há tempos não viam, visitem novas cidades, saiam de casa, vocês irão gostar. Não procurem dar valor somente às coisas grandes, mesmo tendo planos mirabolantes, mas preocupem-se também com os detalhes. Acredito que são eles que nos trarão mais sorrisos e boas lembranças. Eternas lembranças.

Sorria. Abrace. Cumprimente. Deseje um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. É isso que faço agora, a todos vocês. Todos meus bons amigos e famílias. Meus amigos da família e minha família de amigos.

E, antes de qualquer coisa, agradeço. Agradeço pelas grandes aventuras, pelas piadas, pelas noites de descontração. Pelos sonhos, pela compreensão, pelas discussões acaloradas, etílicas ou não. Pelos amores, pelo convívio, pelos sacrifícios e pelas realizações. Agradeço pela amizade, pelo carinho, pelo estar ao lado. Agradeço pela vida, acima de tudo.

Um feliz Natal e um (mais do que) Próspero Ano Novo!!!!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

[MovRev] Atirador

(Shooter)

Directed by Antoine Fuqua

Mark Wahlberg sempre foi eficiente em todos os filmes e produções em que participou, desde Diário de Adolescente, excelente filme em conjunto com Leonardo di Caprio, até o Oscarizado Os Infiltrados, nova parceria com di Caprio, desta vez com a companhia de Matt Damon e Jack Nicholson.

Filmes de conspiração, quando bem construídos, com roteiro adequado e intérpretes à altura, são sempre bons, ainda mais quando comandados por um diretor de pegada firme. Esse é exatamente o caso, somando-se a Mark Wahlberg, um roteiro de bom gosto, sem muitas firulas ou erros, uma trama excitante, ação que não para em nenhum momento e um diretor de força internacional.

Antonie Fuqua já tem muita experiência e consegue fazer filmes bons ou, ao menos, bem produzidos, com diversos astros de Hollywood, como Dia de Treinamento, Lágrimas do Sol e Rei Arthur. Além desses, irá dirigir Escobar, filme sobre a vida do traficante colombiano Pablo Escobar.

Wahlberg é Robert Lee Swagger, atirador de elite do exército norte-americano que, após uma operação mal sucedida na Etiópia, passa a viver isolado do mundo. Três anos após o incidente, ele é convocado pelo serviço secreto para tentar impedir uma tentativa de assassinato do presidente do país, nas próximas duas semanas. No dia do discurso do presidente, algo sai errado e ele é tomado como responsável pela emboscada ao líder máximo dos Estados Unidos. A partir daí, ele luta, ao lado de dois impensáveis aliados, para provar sua inocência e desmascarar os verdadeiros culpados. E a resposta parece voltar a toda para a Etiópia de três anos antes.

Michael Peña continua o bom trabalho como visto em Torres Gêmeas e a parte feminina do elenco não faz feio frente medalhões do cinema, como Danny Glover. Rhona Mitra é eficiente e o filme ainda cona com minha candidata a beleza de hoje e de futuras produções, Kate Mara.

Atirador é o meio ponto perfeito entre tramas extremamente mirabolantes e outras muito banais. É a medida para que tudo seja facilmente digerível no final e para que reste nos telespectadores uma sensação de que assistiram um bom filme de ação. Nada de mensagens para se pensar ou enredos intrincados que deixam os resultados finais pousarem em dubiedade e, sim, um cinema comercial e um passatempo divertido.

Nota: 6/10

Felipe Edlinger
26 de dezembro de 2007

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

[MovRev] Louco Por Elas

(A Guy Thing)

Directed by Chris Koch

Não existem muitas possibilidades de não se gostar do trabalho de Jason Lee. Afinal de contas, são poucos atores que conseguem entregar comédia ácida, sarcástica e irônica como ele. Bons exemplos são Barrados no Baile, Procura-se Amy, Dogma e, mais recentemente a série Meu Nome é Earl.

Porém, infelizmente, este não é um dos trabalhos que ele deve se orgulhar. Um, porque a trama é bem simples e, com certeza, não é marcante (muito menos passível de virar filme cult, o que já aconteceu com outros filmes que o ator estrelou); dois, porque nenhum diálogo, nem situações podem dizer que o filme seja digno de sua presença; e três, porque já existem inúmeros filmes nas prateleiras com enredos parecidíssimos.

Jason Lee é Paul Morse, jovem adulto com vida mansa e futuro seguro, que está para se casar com Karen Cooper, interpretada pela sempre lindinha Selma Blair. Porém, acaba se envolvendo com Becky Jackson, prima da noiva, e depois tem que fazer de tudo para que o ocorrido não estrague o casamento. No meio do caminho, ele começa a ter dúvidas sobre o que está para realizar e passa a ter outros pensamentos a respeito.

Quando começamos a assistir ao filme, temos a estranha (e comum) sensação de que já vimos algo parecido com esta produção. Tudo o que Jason Lee tenta fazer dá errado, o que é uma razão para, na verdade, ter um acesso de raiva, e não de risos. Hmmmm, já vimos isso em Entrando Numa Fria e Entrando Numa Fria Maior Ainda.

Jason Lee tenta segurar a onda da produção, mas não há muito que poderia ser feito para melhorar a história. Quando ele começa a se divertir com Julia Stiles e, realmente, sentir prazer e satisfação em sua companhia, porém com o compromisso do casamento nas costas, podemos citar algumas outras produções como Enquanto Você Dormia, com Sandra Bullock.

É uma pena que Julia Stiles (10 Coisas que Eu Odeio em Você, Identidade Bourne) e Selma Blair (Segundas Intenções, Tudo pra Ficar com Ele) tenham papéis tão insossos, é um disperdício de talentos.

O final é extremamente previsível e não traz nada de novidades para o gênero, mas ainda assim, pode ser um programa para uma Sessão da Tarde, contanto que não tenha sido visto anteriormente.

Pelo menos, algumas músicas da trilha sonora valem a pena, como Mr. E's Beautiful Blues, do The Eels, Lust for Life, de David Bowie, You Gotta Feel It, do Spoon, entre outros.

Nota: 4/10

Felipe Edlinger
25 de dezembro de 2007

[MovRev] Temos Vagas

(Vacancy)

Directed by Nimród Antal

Vamos lá... para quem conhece cinema atual, duas perguntas fáceis de serem respondidas: 1) Quais são os personagens normalmente interpretados por Kate Beckinsale? e 2) Qual o gênero cinematográfico favorito de Luke Wilson? Acertou quem respondeu Heroína de Ação e Comédia, respectivamente.

Kate Beckinsale se consagrou como heroína em filmes como Van Helsing - O Caçador de Monstros, Anjos da Noite e Anjos da Noite - Evolução, enquanto Luke Wilson fez trabalhos celebrados por todos em Os Excêntricos Tenenbaums, Dias Incríveis, O Âncora, Minha Super Ex-Namorada, Idiocracia, entre outros.

Uma coisa que eu não havia visto normalmente era Kate fazendo papel de coitada em filmes de suspense (ou em quaisquer outros filmes) e Wilson atuando em filmes do mesmo estilo. Felizmente, esta experiência de Temos Vagas impressiona como os dois conseguem carregar a trama muito bem e passar doses de realismo e desespero pelas situações vividas pelo casal.

Amy Fox (Beckinsale) e David Fox (Wilson) formam um casal em processo de divórcio após a morte do filho Charlie. Ao saírem de uma rodovia interestadual, o carro deles quebra em uma estrada deserta e se vêm obrigados a passar a noite em um motel de quinta categoria, no meio do nada. Ao ligar a TV do quarto e ver algumas fitas de terror que ali se encontravam, David percebe que as cenas de assassinato contidas nas fitas foram filmadas no quarto em que se encontravam. Logo, se vêm cercados por psicóticos que fazem filmes "snuff" com as pessoas que se hospedam no lugar. Depois, tudo se resume na tentativa deles em sobreviver aquela noite.

O filme traz bons sustos, com cenas nervosas, que mantêm o espectador atento, sem tentar ser surpreendente como a maioria dos filmes atuais, onde é sempre necessário um final com reviravoltas. É o bom e velho filme de suspense psicológico, apesar de não ser um filme do gênero, com final condizente ao desenrolar da história.

A trilha sonora colabora para o clima nervoso, que às vezes chega a ser claustrofóbico. Apesar de não ser um filme que será lembrado, pode garantir um bom programa em uma noite chuvosa, mais pela atmosfera que se cria do que pelo tempo em si.

O diretor Nimród Antal, americano de nascença, vive na Hungria desde os 18 anos, e lá fez seus três primeiros filmes, atingindo sucesso com Kontroll.

Ainda que eu prefira Kate Beckinsale distribuindo socos e pontapés e Luke Wilson fazendo rir em comédias pastelão, recomendo essa nova empreitada dos dois. Caso decidam mudar de gênero, já é um bom começo.

Nota: 6/10

Felipe Edlinger
25 de dezembro de 2007

[Felipe's MFQ] Death Proof

Stuntman Mike:
"Alcohol is just a lubricant for all the individual encounters that a bar room offers."

2007. Kurt Russell in Death Proof

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

[MovRev] Ligeiramente Grávidos

(Knocked Up)

Directed by Judd Apatow

Honestamente não entendo todo o furdúncio sobre este filme. Afinal de contas, vem sendo tratado como a oitava maravilha do mundo da comédia, endeusando seu diretor, assim como os atores que desfilam pela trama.

Correto dizer que Judd Apatow foi produtor de filmes bacanas de comédia, como O Âncora e Ricky Bobby - À Toda Velocidade, além de alcançar sucesso imediato em Hollywood com O Virgem de 40 Anos e este Ligeiramente Grávidos. Porém, não acredito que esta produção esteja destinada ao rol dos bons filmes, mas apenas a mais uma sessão de cinema em uma terceira-feira chuvosa.

Primeiro, por causa da história, em que Ben Stone (Seth Rogen) e Alison Scott (Katherine Heigl, maravilhosa) se conhecem em uma balada (sorte grande para ele, apenas), ela comemorando, ele enchendo a cara como de costume. Depois de um pouco de conversa, e muito álcool no sangue, eles transam e ela fica grávida por causa de um problema de, digamos, comunicação. Depois, é a fase de ela, e ele, por tabela, encararem o fato de estarem para ter um filho, sendo que ela é uma promessa do canal de televisão E! Entertainment, e ele é um drogado sem responsabilidade alguma, que fuma maconha todos os dias da vida e "trabalha" para construir um website onde dizem em que filmes celebridades aparecem nuas.

Na verdade, o filme demonstra a atitude séria e comprometida da mulher e o descaso e idiotice do homem, frente uma situação tão inesperada e importante como esta. É a história de como as crianças a) tendenciam ao sucesso e, por uma razão ou outra, encontram obstáculos no caminho e, b) tornam-se adolescentes sem limites e, depois, adultos sem senso de compromisso e responsabilidade. POrém, alguns tentam, e conseguem, superar os medos de tal enorme responsabilidade e dar um passo em frente, em direção à fase adulta da vida, enquanto outros continuam com a idéia infantil de brincar na casa da árvore pelo resto da vida. É a renúncia de todas as liberdades e vontades da vida de solteiro, mesmo sem estar preparado.

Os personagens são bastante estereotipados, como a garota gostosa que tem que aprender a lidar com a situação, a irmã insegura e irritante que tem necessidade de auto afirmação o tempo todo, o marido bacana que precisa de um pouco de espaço no casamento, e o idiota que não quer crescer e continua se drogando enquanto tem que assumir algumas obrigações na vida. Se você se identificar com Ben Stone, cuidade, você pode ser mais um desses imbecis que acreditam que a adolescência vai durar para sempre.

O filme não é, em sua totalidade, engraçado; na verdade é um drama disfarçado de comédia que joga na cara como a vida pode se tornar complicada de uma hora para a outra, e quem realmente fica do seu lado quando a situação se complica. O grande problema é que não há uma ênfase no quesito superação, na melhoria da personalidade e no caráter das pessoas, mas apenas no jeito inocente e ignóbil de alguns personagens.

A possibilidade de odiar o filme é grande porque a estupidez do personagem principal é irritante, tanto quanto o fato do personagem de Ben Stiller, em Entrando Numa Fria apenas se dar mal em tudo o que faz, mesmo com as melhores das intenções. A falta de personalidade de Ben Stone nos faz pensar em como boas pessoas conseguem se prejudicar por um engano como ele.

Nota: 4/10

Felipe Edlinger
24 de dezembro de 2007

[MovRev] Prova de Morte

(Death Proof)

Directed by Quentin Tarantino

Um filme de Quentin Tarantino é pretexto para um bom programa? Eu diria que sim, contanto que você mantenha a mente aberta para o novo ou para o refresh do velho e antigo, como algo cool.

É exatamente isso que acontece nessa produção "irmã" de Planeta Terror, dirigido por Robert Rodriguez. Os dois amigos, Tarantino e Rodrigues, dois dos mais celebrados e bacanas diretores de Hollywood, resolveram fazer uma homenagem aos antigos filmes de drive-in, de produção barata e acabamento duvidoso, com essa sessão dupla. Nós, de fora dos Estados Unidos da América, não somos muito familiarizados com o tema, mas este seria a boa e velha sessão dupla, a qual eles chamaram de Grindhouse.

Depois de Kill Bill e as referências ao cinema exagerado asiático, com sangue e coreografias absurdas, Tarantino resolve homenagear os road movies dos anos 70, com perseguições, carros possantes e tramas com cidades minúsculas do interior americano.
A ambientação do filme é totalmente anos 70, como roupas, carros, bares, cidades e músicas, porém, com contraste aparentemente proposital (mais uma boa sacada) com celulares, iPods e carros modernosos.

A história gira em torno de Stuntman Mike (Kurt Russell), um duplê que tem um carro à prova de morte, que sai pelas estradas do país, buscando vítimas para serem mortas. Puro e simples.

Aliás, para deleite dos fãs, Kurt Russell, rei dos filmes absurdos de aventura, traz toda a sua aura dos filmes trash para essa produção. Com um pouco de seu Ryan Snake, de Fuga de Los Angeles e Fuga de Nova York, ele dirige dois carros clássicos, desejos de qualquer garotão de décadas passadas, um Chevy Nova 1970 e um Dodge Charger 1969.

Assim como Tarantino fez, propositadamente, Kill Bill parecer exagerado demais (uma referência ao cinema asiático, como já dito aqui), neste filme ele faz a produção parecer tosca, da mesma maneira, com intenção de ser.

A caracterização como uma produção típica de cinema barato dos anos 70 apresenta ruídos no filme, cortes abruptos de cena e falhas no áudio. Mas, ao invés de nos fazer pensar que o produto é ruim, nos faz achar graça.

Apesar do nome errado em português (o correto seria "À Prova de Morte"), essa é mais uma bola dentro de Tarantino, apenas para variar um pouco. Ele inova com filmagens em primeira pessoa dentro do carro e outros planos de câmera diferentes como ele gosta de fazer, sendo, inclusive diretor de Fotogradia do filme.

Tudo faz parte da já mitológica direção de Tarantino, das cenas em preto e branco e a mudança para o colorido com uma ação-gatilho na tela, como utilizado em Kill Bill, à quebra de ritmo com música romântica caricata das produções da época. Isso sem contar a sua tradicional aparição em seus filmes, desta vez como Warren, o cara que serve Chartreuse para as garotas em um bar, na primeira metade do filme.

E Tarantino não se leva muito à sério, ou, ao menos, quer dar a impressão de que não se leva muito à sério. Um exemplo disso são os comentários e piadas presentes no próprio filme como "mean girl on a high school movie". Porém, quando o assunto é fazer efeitos de primeira categoria, sem parecer bobos ou irônicos, ele também não deixa a desejar, como podemos ver nas impressionantes cenas de colisões automobilísticas, incluindo a extremamente (e horrivelmente) detalhada cena da mutilação das primeiras vítimas de Stuntman Mike, na primeira metade do filme.

Essa mescla de ar sério com piada faz parte de toda a filmografia do diretor e, neste filme, também não poderia deixar de ser. Existe um contraste bastante considerável entre as duas metades da produção: a primeira poderia até ser considerada parte de um filme de terror e suspense, enquanto a segunda tem um jeitão mais de comédia. Depois de um começo de deixar o mais centrado dos fãs em frangalhos, o filme (de novo, propositadamente) descamba para o deboche. E o faz bem! O mesmo pode ser dito se compararmos os dois Kill Bill, que inicialmente foram criados como partes de um único filme.

Como sempre, a trilha sonora, mais uma tradição das produções de Tarantino, não poderia ser ruim. Muito pelo contrário, é digna de um CD permanente no console do carro, com destaque para Baby It's You (Smith), Jeepster (T. Rex), Staggolee (Pacific Gas), The Love You Save (Joe Tex), Good Love, Bad Love (Eddie Floyd), Down in Mexico (The Coasters), entre muitas outras.

E preparem-se para mais uma sessão endiabrada de diálogos espertos, com muitas referências pop, e apimentados, com comentários crus sobre sexualidade. Meu favorito (e já parte de minhas frases famosas de filmes) é o proferido por Kurt Russell, quando questionado em um bar, por uma das meninas do filme, sobre o porquê de ele não estar bebendo bebida alcoólica; a pérola vem pl(ácida): "O álcool é apenas um lubrificante, para todos os encontros entre indivíduos, que um bar oferece."

Para os fãs de carteirinha, o filme é um grande easter egg e apresenta inúmeras referências à outras produções do diretor, o que aumenta ainda mais a graça do filme. Na jukebox aparece a opção da música Miserlou, de Dick Dale (Pulp Fiction), uma das garotas diz que há um outdoor perto do Big Kahuna Burger (Pulp Fiction), o toque de celular é The Killer Song (Kill Bill v1), o xerife e o filho dele, que vão ao hospital depois do acidente de carro são os mesmo de Kill Bill. Ainda nas referências musicais, temos Natural High (Jackie Brown), Little Green Bag (Cães de Aluguel) e Don't Let Me Be Misunderstood (novamente, Kill Bill v1).

Apesar da estratégia de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues ter foco nos Estados Unidos, o sucesso, infelizmente, não foi o mesmo no Brasil, mesmo porque os filmes foram apresentados separadamente para maiores bilheterias. De qualquer maneira, é uma excelente pedida para os fãs ou para os marinheiros de primeira viagem. De mente aberta, é lógicos.

Nota: 8/10

Felipe Edlinger
24 de dezembro de 2007

domingo, 23 de dezembro de 2007

[MovRev] Crossover

(Crossover)

Directed by Preston A. Whitmore II

O basquetebol nunca foi um dos principais esportes dos brasileiros, nem mesmo quando a geração (ainda moleque) de Oscar e Marcel ganhou os jogos Panamericanos da seleção dos Estados Unidos, em plena Indianápolis, em 1987.

Se o basquete nunca fez parte da massa brasileira, a modalidade do streetball, ou basquete de rua, variação onde normalmente não existem regras muito claras, quase não existem faltas e o que importa é mais o show do que as cestas em si, tem menos chances ainda de ser conhecida do grande público.

Crossover mostra um pouco do mundo do streetball, porém um pouco mais underground do que o normal. Enquanto outras produções como Homens Brancos não Sabem Enterrar, com Woody Harrelson e Wesley Snipes mostra um lado mais claro de que o esporte faz parte do cotidiano de pessoas que o praticam por pura vontade e paixão, porém que, algumas vezes, acabam fazendo uma aposta e outra, este mostra que existem pessoas que vivem do esporte para fazer dinheiro.

É a história de dois amigos, Tech (Anthony Mackie) e Cruise (Wesley Jonathan) que têm pontos de vista diferentes sobre o esporte. Ambos são jogadores de primeira, com talento nato, porém, enquanto Cruise quer revogar suas habilidades para estudar e ir para a escola de medicina, Tech procura meios de utilizar suas habilidades no streetball para fazer a vida.

A trilha sonora está de acordo com o ritmo frenético das partidas de streetball, onde a bola praticamente não para e a música rola solta o tempo todo nas quadras. Para quem gosta de hip hop, o álbum do filme provavelmente será uma boapedida, com faixas de Pete P.I.M.P., The Co-Stars e 2XL.

AS jogadas têm uma boa plasticidade nas câmeras, porém a trama deixa muito a desejar. É impossível não sentir o clima de novela mexicana no ar, principalmente com alguns personagens tão caricatos em cena, como a namorada interesseira, o chefe do jogo, o garoto desregrado e individualista que encontra seu caminho.

Como eu disse, essa realidade não faz parte da nossa realidade, portanto, tem que gostar muito para achar que o filme é bom. Para quem não conhece, quem sabe uma tentativa apenas para se familiarizar. Mas depois recomendo os bons e velhos Snipes e Harrelson. Ou então, Blue Chips, Diário de Adolescente, entre outros filmes de basquete muito melhores, como o excelente Doping.

Nota: 3/10

Felipe Edlinger
23 de dezembro de 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007

[MovRev] Tá Dando Onda

(Surf's Up)

Directed by Ash Brannon & Chris Buck

Como já havia dito algumas vezes, Hollywood sempre tenta se reinventar, com base em grandes sucessos do passado ou, "coincidentemente" sucessos contemporâneos.

Tá Dando Onda chega aos cinemas apenas seis meses depois do sucesso de Happy Feet e, coincidentemente, também é um filme sobre pinguins. As temáticas são um pouco diferentes, mas se apoiam na idéia de um excluído se superar e provar seu verdadeiro valor.

Cody Maverick (Shea LaBeouf) é um pinguim da Antarctica que sonha em ser um surfista profissional e famoso, que tem como ídolo o grande Big Z, lenda do surf e morto em um campeonato há 10 anos. Depois de ser selecionado para participar do campeonato anual, ele tem que provar que é bom o suficiente para permanecer na elite do surf.

Ok, tenho que concordar que os personagens desse Tá Dando Onda têm carisma, principalmente pela boa seleção de dubladores responsáveis pelos personagens principais: Cody Maverick (Shea LaBeouf), Big Z (Jeff Bridges), Lani (Zooey Deschanel), Chicken Joe (John Heder), Reggie (James Woods).

Porém, se o filme foi destinado para crianças, talvez a estratégia tenha sido errada. O filme é uma reprodução de um documentário sobre o 10º Campeonato de Surf Memorial Big Z e funciona como tal. São filmagens por-trás-das-cenas, depoimentos dos personagens, cenas em primeira pessoa, entre outros recursos dos grande documentários. Isso não funciona para as crianças, mas sim para os adultos (ainda que eles precisem entender a linguagem).

A modelagem e a animação dos personagens é soberba, com excelente renderização e detalhes, mesmo que eles sejam bem estereotipados. Os cenários são bacanas, com iluminação condizente para cada parte do filme. A água, a areia e a pelagem dos pinguins também são muito convincentes, além de algumas tomadas de câmera bastantes ousadas para uma animação para crianças.

As boas músicas, algumas recentes, outras nem tanto, dão o tom de praia para a produção, com destaque para Welcome to Paradise (Green Day), You Get What You Give (New Radicals), Drive (Incubus), Big Wave (Pearl Jam) e Holiday (Green Day).

Apesar da trama do filme acontecer muito rápida e gratuita, afinal de contas deveria ser um filme para crianças, é um bom programa para os adultos, também. Ou principalmente para eles.

Nota: 6/10

Felipe Edlinger
22 de dezembro de 2007

[MovRev] Histeria - Entre em Pânico se você sabe o que eu fiz na última sexta-feira 13

(Shriek If You Know What I Did Last Friday the Thirteenth)

Directed by John Blanchard

Uma comédia ironizando e ridicularizando os mais populares filmes de terror e suspense atuais, como Pânico, Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, Sexta-feira 13, entre outros.
Idéia original? Sim, seria, se três meses antes do lançamento deste Histeria - Entre em Pânico (...) Sexta-feira 13, um filme chamado Todo Mundo em Pânico não tivesse feito um grande sucesso nos cinemas.

Honestamente, este filme não merece nem uma mínima chance do mais empolgado cinéfilo. A grande diferença entre as duas produções é que uma delas conta com o brilho dos irmãos Wayans, o que não é o caso deste Histeria.

Enquanto Todo Mundo em Pânico conta com um roteiro absurdo, mas com piadas extremamente engraçadas e bem elaboradas, a contra-parte não conta nem ao menos com um roteiro, e as piadas repetitivas não conseguem arrancar nem uma única risada sincera.

Além disso, o elenco de Histeria faz Shannon Elizabeth (Todo Mundo em Pânico, American Pie) parecer elegível ao Oscar de Melhor Atriz. Os personagens são interpretados de maneira tão insossa que também não colaboram em nada para a trama. Tirando a beleza de Tiffani Thiessen, o resto não justifica o que estão fazendo lá.

E pensando novamente em Todo Mundo em Pânico, onde podemos contar com Anna Faris, Marlo Wayans, Shawn Wayans, e com os "talentos" de Shannon Elizabeth e Carmen Electra, a distância entre uma produção e outra fica ainda mais aparente.

O pior é que as cenas em que as piadas são ambientadas parecem ser bem produzidas, em termos de recursos (com excessão dos recursos humanos, vulgo atores) físicos. Uma pena e perda de tempo.

Nota: 1/10

Felipe Edlinger
22 de dezembro de 2007

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

[Web] Policial em jogo do CUrinthians

Será que o policial é corinthiano???

domingo, 16 de dezembro de 2007

[MovRev] Coração de Cavaleiro

(A Knight's Tale)

Directed by Brian Helgeland

Já havia algum tempo que o tema capa e espada não trazia nenhum filme emocionante e cheio de ação. Talvez, um dos últimos tenha sido o Robin Hood de Kiven Costner que, mesmo assim, não foi lá grande coisa.

Coração de Cavaleiro não é um filme do mesmo gênero mas, pelo menos, tras a mesma sensação de um deles, com lutas bacanas e boas coreografias.
Porém, esta produção tem um grande diferencial que não havia ainda sido explorado, ao menos não em escala comercial: aventura de época com música e atitude contemporâneas. E quando digo contemporâneas, digo de nosso tempo e não da mesma época em que o filme é retratado.

William Thatcher (Heath Ledger) é um camponês que sonha em se tornar um cavaleiro e competir nos duelos, que tanto admirava quando era apenas uma criança. Quando começa a concretizar seu sonho, após uma oportunidade inesperada no começo do filme, ele alcança o sucesso e, também, enfrenta as dificuldades de um recém chegado desconhecido em um ambiente onde tradição e poder ditam as regras.

As disputas aqui são as típicas justas, duelos onde dois cavaleiros se enfrentam correndo um de encontro ao outro, com lanças nas mãos, com o objetivo de derrubar o oponente.

Resumindo tudo, temos uma tradicional história de mocinho e bandido entre Heath Ledger e o Conde Adhemar de Anjou (Rufus Sewell), seu grande oponente nas arenas. Além disso, o filme passa por todas as fases de uma história que tenta tocar as pessoas, mesmo não sendo o mote principal: superação de limites, busca do amor impossível, retorno às raízes, as possibilidades dos menos afortunados em vencer na vida, entre outros temas explorados exaustivamente por filmes mais dramáticos.

Porém, a grande diferença do filme com relação a quaisquer outros é a atitude. São mais de duas horas de aventura, do começo ao fim, intercalando momentos de pseudo seriedade, humor e ação que não fazem com que a história perca o seu ritmo inicial, que logo de cara, começa com uma justa em que Heath Ledger quase perde a cabeça, literalmente.

O esporte da justa é tratado como uma atração do público de massa, com torcidas numerosas e barulhentas, pessoas fanáticas pelos competidores, líderes de torcida medievais, coreografias, roupas e penteados com toques de modismos atuais, além de danças e ritmos que podem ser vistos em casas noturnas.

O grande elenco equilibra a ação ininterrupta, com destaque para Heath Ledger, como o cavaleiro William Thatcher, em seu primeiro arrasa quarteirões como ator principal. Seu antagonista, Rufus Sewell, continua represntando muito bem o papel de anti-herói, com graus elevados de prepotência e arrogância, assim como em Mero Acaso, Tristan e Isolda, O Ilusionista, entre outros. O ainda desconhecido Paul Bettany (Uma Mente Brilhante, O Código Da Vinci) distribui charme como o arauto Geoffrey Chaucer. Quem chama a atenção é Shannyn Sossamon, em seu primeiro papel no cinema, que pode ser confundida pelos menos obsevadores com Angelina Jolie, uma vez que são extremamente parecidas. O toque de humor fica por conta de Alan Tudyk, o amigo de Sir William, Wat Falhurst.

Os efeitos de câmera, a narrativa, os flashbacks, ajudam ainda mais para definir o caminho da história, com certeza em busca do final padrão para todos os contos de fada. Fica muito bem definido quem é o mocinho e quem é o bandido, qual o futuro de ambos e quais reviravoltas ainda estarão por vir.

Mas, novamente, o diferencial está no fato de mesclar uma história de época com características atuais, principalmente as músicas, entre elas Low Rider (War), Golden Years (David Bowie), Further On Up The Road (Eric Clapton), e a principal delas e tema do filme, We Will Rock You, do Queen, interpretada também por Robbie Williams.

Somando tudo isso, não temos um filme memorável, mas certamente, um passatempo agradável, com uma história que se deixa levar, com rítmo ágil e que não nos faz entediar. Praticamente, um clipe de música.

Nota: 6.5/10

Felipe Edlinger
16 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

[MovRev] A Passagem

(Stay)

Directed by Marc Foster

Algumas vezes me pergunto onde começam os sonhos, por onde passam as ilusões, qual é a linha tênue que separa o nosso mundo, o qual achamos real, com aquele onde tudo não passa de um mero momento, um instante envolto na teia do adormecer.

Sonho e realidade, verdade e ilusão, temas tão abrangentes e já abordados inúmeras vezes por livros, filmes e histórias em quadrinhos; porém, não nos cansamos de pensar e repensar. O que vemos é real?

Um acidente, rodas faiscando pelo asfalto, algo que pode mudar uma vida inteira. É assim que começa a história de Henry Letham (Ryan Gosling), um estudante de arte que parece não mais distinguir o que é verdadeiro e o que é imaginário.
Sam Foster (Ewan McGregor) é um psiquiatra que começa a ajudar Henry a compreender o que anda acontecendo, porém também acaba caindo em uma rede de incertezas que o leva a duvidar do que seus olhos vêm.

O filme tem um clima tenso, que é acentuado pela câmera nervosa, que vai e vem, angulosa e com perspectivas inusitadas. As transições de cenas são muitos bem feitas e conseguem transcrever o clima de insegurança dos personagens.

O elenco segura muito bem a trama, formado por excelentes atores, entre eles o sempre eficiente e boa praça Ewan McGregor, a linda (e com talento provado) Naomi Watts, a revelação Ryan Gosling, e a feliz aparição de Bob Hoskins (ele mesmo, o Super Mário dos cinemas).

O enredo é uma grande viagem e faz bem a função de nos deixar perdidos, sem razão, sem explicação, quase em desespero pela impotência de não entender e não conseguir concluir nada.
Os lapsos de memória dos personagens, a sensação de não saber o que é real e o que é sonho, a projeção de sonhos, as ambições e o pesar que às vezes nos faz ficar no limbo reflete em todas as ações dos personagens e cenas do filme o poder que a mente tem sobre o corpo.

O final é, sem dúvidas, inesperado, mas não é nem um pouco gratuito, é necessário pensar pra compreender e ligar todos os pedaços do quebra-cabeça. Se você espera um final no estilo Sexto Sentido ou Clube da Luta, a experiência pode ser frustrante, mas para quem assistiu Amnésia e gostou, A Passagem é um excelente programa.

Voltamos a bater na mesma tecla que diz que toda a nossa vida passa diante de nossos olhos em um momento de proximidade da morte. As alegrias, os sonhos, as paixões, os desejos, as tristezas, principalmente os bons momentos, ou aqueles que desejávamos que fossem bons momentos.

Ewan McGregor fica tentando entender o que acontece com Ryan Gosling, porém se perde no oceano de possibilidades e na imensa falta de explicações. Quem mata a charada é o personagem de Bob Hoskins que, no final, pensa um pouco fora da caixa.

Mas a vida é assim, incertezas, absurdos, becos sem saída. A existência requer um pouco mais de abstração, para não nos perdermos na insatisfação do dia a dia. E esta é mais uma obra que nos mostra tudo isso. Vale a pena ver e rever (pra entender, depois).

Nota: 7/10

Felipe Edlinger
15 de dezembro de 2007

domingo, 9 de dezembro de 2007

[MovRev] O Ilusionista

(The Illusionist)

Directed by Neil Burger

Por incrível que pareça, Hollywood continua a lançar filmes com a mesma temática de tempos em tempos. Porém, normalmente, um dos filmes é bom, o outro é ruim. Foi assim com o bom Impacto Profundo, e o infeliz Armageddon. Também, com o bacana Inferno de Dante, e com o chove-no-molhado Volcano.

Porém, o ano de 2006 nos trouxe duas grandes surpresas com dois filmes excelentes sobre mágica: O Grande Truque, com Hugh Jackman, Christian Bale e Michael Caine, e este O Ilusionista, com Edward Norton, Jessica Biel e Paul Giamati.
Na verdade, não creio que seja uma surpresa que estes filmes sejam tão bons, principalmente com elencos desse porte em duas produções rivais.

A começar por Edward Norton, que interpreta o ilusionista Eisenheim, que sempre entregou personagens vicerais e totalmente verossímeis em praticamente todos os seus filmes. Desde o seu primeiro papel em O Espelho tem Duas Faces, podemos esperar grandes performances sempre que uma produção é acompanhada de seu nome. Ou, como é hoje em dia, o seu nome acompanhado de uma produção.

Eisenheim deixa Viena quando criança e roda o mundo se especialisando em ilusionismo. Quando retorna a Viena para uma série de apresentações, revê o grande amor de sua infância, Sophie (Jessica Biel). Porém, o amor deles é proibido porque ela está comprometida com o Príncipe Leopold, a quem o inspetor de polícia tem enorme lealdade. Resta saber se o amor dos dois é grande o suficiente para enfrentar Sua Majestade e as consequências de tal desafio.

O grande, e inspirado, elenco coadjuante colabora ainda mais para o sucesso deste filme que nos passa a alma dos ilusionistas de teatro de séculos atrás. Paul Giamati, que hoje em dia parece ser figurinha carimbada em muitas outras produções, é eficiente como sempre e convence como o dividido chefe de polícia. Rufus Sewell trás consigo toda a sua ironia e prepotência de bom britânico, como o Princípe Leopold. Jessica Biel, por sua vez, que todo marmanjo hoje sonha em ter como princesa, desfila tristeza, charme e beleza, como Sophie, amante de Eisenheim.

Sob meu ponto de vista, ambos filmes citados aqui têm muito em comum; po outro lado, alguns conceitos-chave são invertidos. Enquanto O Grande Truque conta o caminho de um mágico em busca da perfeição para suplantar a dor de um amor perdido, O Ilusionista conta a história de um mágico em busca da perfeição para recurar o amor perdido, mas não esquecido.

Os cenários e o figurino descrevem e ambientam muito bem a época em que o filme é retratado. A fotografia (indicada ao Oscar) em tons amarelados e envelhecidos dão ainda mais sustento ao caracterizá-lo como um filme, como se diz, de época.

Além disso,a trilha sonora de Philip Glass capricha para criar todo o clima de surpresa, suspense, tensão, tristeza, entre outros sentimentos abordados na produção. Todas as cenas, personagens e trilhas se encaixam com sutileza, tanto que é praticamente impossível perceber as trilhas por si só, uma vez que elas fazem parte de cada uma das cenas e não fazem tirar a atenção do objetivo principal, mas sim, engrandecê-lo.

A trama bem amarrada, aparentemente sem furos no roteiro, mostra com paixão e mistério o mundo do ilusionismo, que por muitos é considerado uma arte. O assunto mexe com o popular, nos fazendo perguntar se tudo o que vemos é realmente mentira em forma de verdade, ou verdade em forma de truque.
Ainda mais com os efeitos especiais bem criados que nos levam a reforçar este ponto de vista.

O Ilusionista é um filme que encanta e que faz sonhar, por diversos motivos. Paixão, destino, justiça. Mas é o fato de tornar a mágica tão próxima que eu não me surpreenderia se encontrasse você concentrado tentando fazer um simples truque com uma baralho de cartas. Eu tentei.

Nota: 8/10

Felipe Edlinger
09 de dezembro de 2007

[MovRev] Escorregando para a Glória

(Blades of Glory)

Directed by Josh Gordon

Gosto muito do Will Ferrell, gosto mesmo. A grande maioria de seus filmes me faz rir sem parar, às vezes, até meu estômago doer ou meus olhos lacrimejarem.
Agora, este Escorregando para a Glória foi realmente uma escorregada monstruosa. Tudo bem que os filmes dele não fazem muito sucesso aqui no Brasil porque os temas não são muito bem do nosso conhecimento, como O Âncora, Ricky Bobby, Zoolander e o último Blades of Glory.

Mesmo assim, ele é capaz de encorporar personagens que fazem rir, sim, principalmente pelo fato de fazer estereótipos tão absurdos que tornam os filmes (quase sempre com tramas bisonhas) mais "comestíveis".
Porém, neste Escoregando, seu personagem é absurdo demais, exagerado demais, sem alma, sem carisma, sem nada... E o mesmo pode se dito de John Heder que, em minha singela opinião, apenas conseguiu algo diferente em Napoleon Dynamite, e mais nada. Caso duvidem, confiram Os Esquenta Bancos ou Escola de Idiotas. Vocês me darão razão.

Como eu já disse, a trama é, talvez, uma das mais absurdas e inconcebíveis de todos os tempos em uma comédia. É certo que uma comédia precisa encantar e fazer rir, seja uma comédia singela, com moldes nos antigos clássicos, escatológica, que tenha piadas sobre animais, reviravoltas, ou qualquer outro assunto, mas contar a história de rivais mortais em um ringue de patinacão artística foi demais.
Aliás, rivais (idiotas e sem carisma) que são retratados como senhores absolutos do gelo, como se fossem Neto e Evair dos bons clássicos entre Corinthians (agora na segunda divisão, até que enfim) e Palmeiras nos gramados, que, após serem expulsos de suas categorias, unem-se para competir pelo ouro olímpico na categoria duplas. Sim, dois homens.

O desenrolar do filme é insosso e não trás nada de novo ao mundo do cinema. É até mais insosso que a própria expressão de John Heder e que o corpão-barrigão de Will Ferrel. Realmente, sem graça alguma.
No final, acredito que eu tenha contado duas ou três cenas que tiveram alguma graça, e quando digo graça significa que consegui expressar um pequeno sorriso.

Se você estava procurando mais uma comédia ácida, sarcástica e irônica de Will Ferrel, pode tirar toda a boiada da chuva, esta não é uma delas. Pra falar a verdade, nem sei como Luke Wilson foi convencido a fazer um pequeno papel como o conselheiro dos Viciados em Sexo, grupo estilo A.A. que Will Ferrell frequenta.

Bons tempos de Anos Incríveis (Old School), O Âncora, Ricky Bobby, e até O Elfo. É, Will, acho que você precisa de uma consultoria.

Nota: 3/10

Felipe Edlinger
09 de dezembro de 2007

sábado, 8 de dezembro de 2007

[Strauss' MFQ] Mission Impossible II

Ethan Hunt:
She's got no training for this.

Mission Commander Swanbeck:
What? To go to bed with a man and lie to him? She's a woman. She's got all the training she needs.

2000. Sir Anthony Hopkins in Mission Impossible II

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

[Web] Patrocínio do CUrinthians para 2008

A diretoria do Corinthians cumpre a promessa

Caros amigos corinthianos e simpatizantes do Corinthians, a nova diretoria do Timão não perdeu tempo e cumpriu sua promessa.

No dia seguinte ao rebaixamento, já tomou providências e já fechou patrocínio para 2008, e já enviou a nova camisa do Timão 2008.

A nova camisa será comercializada nas lojas de R$ 1,99.



quinta-feira, 29 de novembro de 2007

[Web] O Terceiro Homem que Andou na Água

Os três homens que andaram sobre as águas tinham cada um, suas razões:

• O primeiro foi Jesus Cristo, que tinha poder.
• O segundo foi Pedro, pela fé.
• O terceiro foi Cleidinildo, por estar se cagando de medo (veja foto logo abaixo).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

[MovRev] V de Vingança

(V for Vendetta)

Directed by James McTeigue

Honestamente, sou um fã de histórias em quadrinhos, ou comics, como alguns gostam de chamá-las. Lembro-me de que, a certa época, eu era capaz de comprar todos os gibis mensais (nome carinhoso para mim e sem uma pitada de menosprezo) disponíveis nas bancas de jornais e ainda comprar inúmeros outros em sebos ou revistarias de usados.

Hoje, não tenho mais esse costume, talvez repreensível, de me dedicar a historinhas coloridas. Grandes amigos meus ainda se dedicam piamente a essa arte e, por mais esse motivo, sou fã deles. Confesso que ainda tenho vontade de ler, ler e ler o mundo fascinante de super-heróis, porém, a falta de tempo me fez fazer uma escolha pelas graphic novels.

Graphic Novels são, para os menos informados, as mesmas histórias em quadrinhos, porém, realizadas com tratamento diferenciado, desde a sua concepção até o papel no qual elas são impressas. Histórias mais adultas, já nascidas clássicas, apresentando histórias fechadas e que, quase sempre, têm um enredo rebuscado, muito bem trabalhado e de complexidade avançada.

Uma das graphic novels que mais gostei de ler foi exatamente V de Vingança, a qual tenho em minhas mãos no momento, escrita pelo fantástico Allan Moore, autor de inúmeras obras, consideradas o primor do universo dos quadrinhos, como Monstro do Pântano (1983), Wathcmen (1986), A Liga Extraordinária (1999), Do Inferno (1999), entre outros títulos não menos importantes.

Existe uma sina das histórias em quadrinhos e livros não serem bem transcritos para o cinema, por diversas razões, como foco no lucro, dificuldade de adaptação da história, personagens não convincentes e roteiro mal feito.

Apesar de ter sido rejeitada pelo próprio Allan Moore, essa adaptação de V de Vingança é tão boa, que melhorou a história criada por Moore, com efeitos especiais de gente grande, atuações de ídolos consagrados pelo grande público e um roteiro enxuto e coerente. Talvez, seja até por isso que o autor não tenha aprovado a produção final, por ser superior ao seu próprio trabalho.

A história se passa na Londres futurista de 1997 (ao menos para a época em que a história foi criada, 1972), dominada pelo fascismo de um ditador, onde as pessoas são sufocadas pelas crueldades, absurdos e proibições impostos pelo governo. O mundo é caótico e a Grã-Bretanha é um dos últimos lugares em que a "ordem" impera. É neste cenário que surge um anti-herói, nominado apenas como "V", que pretende promover uma revolução em busca da liberdade da população, tanto física quanto mental e espiritual, atingindo o pilar do governo. Ele utiliza uma máscara inspirada em Guy Fawkes, um mercenário que tentou explodir o Parlamento inglês, em 5 de novembro de de 1605, e promete destruir o prédio em um ano, a partir de sua primeira aparição.

"V" é interpretado por Hugo Weaving, o eterno Agente Smith de Matrix e o elfo Elrond, de O Senhor dos Anéis. Sua presença garante ao longa a verossimilhança necessária para uma obra como esta, com sua presença e voz marcantes, uma vez que ele utiliza a máscara em todos os segundos em que está em cena. O rol de atores se extende com Natalie Portman, uma das namoradinhas de Hollywood, como Evey, garota em quem V desperta o ideal revolucionário. E não para por aí porque somos presenteados com boas interpretações de Stephen Rea (Traídos pelo Desejo), Stephen Fry (Um Peixe Chamado Wanda) e John Hurt (O Homem Elefante).

Os efeitos especiais, os cenários, a fotografia e as coreografias são capítulos a parte nesta produção. São tão bem elaborados que praticamente atuam como um outro personagem dentro da trama. As cenas inspiradas em Matrix, com câmeras lentas e rápicas, close-ups e panorâmicas transmitem perfeitamente, tanto a ação quanto a angústia dos personagens.

Apesar do tema ser subversivo demais para algumas opiniões, o assunto é tratado com poesia latente, forte e sensível. A queda do império para o ressurgimento das cinzas, o choque para acordar a massa e sair da inércia é transcrito por meio de rosas para os mortos, rimas com a letra V e música clássica para os ouvidos.

Definitivamente, uma obra marcante, tanto nos quadrinhos quanto nos cinemas. De preferência, para se ter em casa e ser revista, sempre que possível. Lembrem, lembrem, o cinco de novembro...

Nota: 9/10

Felipe Edlinger
02 de outubro de 2007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

[MovRev] Minority Report - A Nova Lei

(Minority Report)

Directed by Steven Spielberg

O que aconteceria se juntássemos os maiores astros do momento para a realização de um filme? Eu diria que dependeria, e muito, dos gêneros nos quais esses maiores astros se consagraram.

Porém, uma vez que temos dois super astros reconhecidos por seus filmes (e dilheterias) de ação, o resultado seria, sem surpresa alguma, uma obra excitante, rápida, envolvente e de muito apelo comercial, que não deixaria nenhuma interrogação sobre quem são os donos do pedaço.

A primeira experiência entre Steven Spielberg e Tom Cruise resultou em uma ficção científica de primeira qualidade, de repercussão imediata e grande sucesso, nos cinemas, nos disquinhos e na televisão.

Tom Cruise é John Anderton, um policial que trabalha na divisão de Pré-Crime de Washington D.C., em 2054. A divisão conta com três seres humanos, modificados geneticamente e chamados Pre-Cogs, que têm poderes especiais de ver o futuro e, com isso, conseguem identificar quando um crime irá acontecer, o que leva o time de Anderton a impedir o fato. O crime na cidade foi drasticamente reduzido à zero. Tudo ocorre normalmente, quando os Pre-Cogs prevêm que Anderton cometerá um crime nas próximas 36 horas. Com isso, o policial tem que fugir de sua própria equipe e provar sua inocência, além de desmascarar uma conspiração contra ele.

O roteiro e a trama do filme são muito bem amarradas e orquestrados por quem entende do assunto (ou seja, Spielberg), trazendo reviravoltas, intrigas, mistérios e assassinatos. As cenas de ação são formidáveis, lembrando os bons filmes de Tom Cruise, como a série Missão Impossível nas diversas cenas em que o ator pula de carro em carro, é perseguido por policiais ou resgata pessoas.

As cenas futuristas muito bem realizadas, com efeitos especiais que não devem nada à nenhum ganhador do Oscar, transmitem idéias e tecnologias vindouras de dar água na boca, nos permitindo dar uma pequena olhada no mundo do amanhã, o que remete as diversas previsões e viagens de Stanley Kubrick, em 2001, Uma Odisséia no Espaço.

A caracterização de época e a fotografia ganham grande importância com as cores desbotadas e pastéis de um futuro insípido e estéril, quando a sociedade é controlada e padronizada para que anomalias não surjam e poluam o pseudo mundo perfeito.

Voltando a Tom Cruise, ele interpreta, em seu melhor, o papel de herói de ação, atirando, esmurrando, fingindo, fugindo, extraindo um olho, virando a situação a seu favor, etc, etc, etc. Já o vimos sendo um personagem bacana em Cocktail e Negócio Arriscado, ou um personagem com incertezas em Magnolia, Vanilla Sky e De Olhos Bem Fechados. Aqui, ele é uma mistura dos dois tipos, mesclando tristeza e pesar na interpretação, causados pela perda do filho pequeno, da qual se culpa até hoje, com roupas e apetrechos bacanas e agilidade de herói cool.

O contraponto vem de Colin Ferrell, eficiente como o antagonista (até certo ponto) do personagem de Cruise. Sarcástico e prepotente, ele é a medida exata para tentar mandar John Anderton para a cadeia. É tão assertivo que nos deixa com raiva, devido à sua persistência.

Mas o show, mesmo, fica por conta de Tom Cruise, que lidera toda a ação na produção, e Steven Spielberg, que indica o caminho correto para o herói.

Nota: 8/10

Felipe Edlinger
01 de outubro de 2007

[Felipe's MFQ] Jurassic Park

Dr. Ian Malcolm:
"I'm simply saying that life finds a way."

1993. Jeff Goldblum in Jurassic Park

domingo, 30 de setembro de 2007

[MovRev] O Guia do Mochileiro das Galáxias

(Hitchhiker's Guide to the Galaxy)

Directed by Garth Jennins

Douglas Adams é um dos escritores mais brilhantes de todos os tempos. Seu estilo escrachado e non-sense, e ainda melhor, ácido, irônico e sarcástico, conquistou gerações de leitores e vendeu mais de 15 milhões de cópias de seus livros ao redor de todo o mundo. E continua encantando muita gente, mesmo com a morte precoce do escritor, aos 49 anos, em 2001.

Enquanto a série Guerra nas Estrelas acumula uma legião de fãs considerados nerds, a série O Guia do Mochileiro das Galáxias incorporou um certo ar cult, até porque ela é muito menos conhecida do que a dos sabres de luz e cavaleiros Jedis.

O humor é tão absurdo que fica claro que nem o próprio autor não a levava muito a sério, tanto que a inspiração para escrevê-la veio quando, segundo o próprio Adams, ele estava bêbado em algum lugar de Innsbruck, na Áustria.
Porém, é um humor inteligente e afiado, típico das novelas inglesas.

Não são todos que se identificam com O Guia do Mochileiro, ou ao menos passam das 50 primeiras páginas, tamanhos são os pontos de interrogação que pairam sobre a cabeça de quem o tenta ler. O caráter imaginativo/ criativo de Adams precisa se fazer entender primeiro para depois ser compreendido.

O mesmo ocorre com as versões multimídia do livro, seja a versão original para rádio, de 1977, ou a versão podreira para a rede de TV BBC, de 1981, ou ainda esta versão mais recente para cinemas.

O filme conta a história de Arthur Dent (Martin Freeman), inglês sossegado que tem a casa demolida, e seu amigo Ford Prefect (Mos Def), um alienígena disfarçado de ator desempregado que fazia pesquisa na Terra para o tal O Guia do Mochileiro das Galáxias, em uma jornada pelo universo em busca do planeta Mangrathea, a bordo da nave Coração de Ouro.

Parece confuso? Sim, parece, e até é. Isso sem mencionar o fator de improbabilidade da nave Coração de Ouro, o super computador Pensador Profundo, o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox, o peixe tradutor Babel, os terríveis e idiotas Vogons, a bebida Dinamite Pangaláctica, o robô pessimista Marvin, entre outras loucuras mochileiras.
O segredo é esperar de tudo e nunca levar nada a sério, caso contrário você é um sério candidato a achar o filme um lixo universal.

Os cenários são bacanas e bem elaborados, principalmente se levarmos em consideração a mente doentia de Douglas Adams; são planetas, personagens e situações totalmente diferentes do que uma mente comum - e sã - pode elaborar.

Os personagens, então, são fascinantes, interpretados por bons e conhecidos atores, como o próprio Martin Freeman, da série The Office, que interpreta o deslocado inglês Arthur Dent. Além dele, há o rapper Mos Def, que faz o papel do alienígena Ford Prefect, Sam Rockwell como Zaphod Beeblebrox, o inacreditável presidente da galáxia, Bill Nighy, John Malkovich, Stephen Fry (narrador da história), Alan Rickman, a voz do entediado robô Marvin, e a gracinha Zooey Deschanel, que interepreta Trilliam, paixão de Arthur.

Porém, para quem não leu o livro, existe uma grande possibilidade de não conseguir entender nadinha da silva; como já disse, a história é confusa, não pela trama ser um emaranhado de informações, mas pelo fato das informações em si serem quase inconcebíveis. Por outro lado, para quem já leu o livro (ou os livros), é fácil notar que muitas coisas foram modificadas para a versão cinematográfica, não necessariamente para o bem da obra, na opinião dos fãs.

Infelizmente, o filme não foi muito bem nas bilheterias, o que já era até de se esperar por ser a) uma comédia britânica e b) baseado em um livro de Douglas Adams. É uma pena porque os outros livros da trilogia de cinco são tão bons quanto o primeiro.

Para quem ficou curioso ou assistiu o filme e realmente ficou interessado pela obra de Adams, sugiro a leitura de todos os livros, começando, é claro, por O Guia do Mochileiro das Galáxias. Se, depois das quase 200 páginas de humor non-sense do primeiro livro, você ainda estiver entusiasmado, passe para 2) O Restaurante no Fim do Universo, 3) A Vida, o Universo e Tudo Mais, 4) Até Mais e Obrigado pelos Peixes; e 5) Praticamente Inofensiva (livro alternativo considerado a quinta parte da trilogia - sim, Adams se referia a sua obra dessa maneira... trilogia).

E para quem tem alguma dúvida sobre o refinamento do humor de Dougla Adams, aqui vai uma pequena dose: "É um fato importante e conhecido que as coisas nem sempre são o que parecem. Por exemplo, no planeta Terra, os homens sempre se consideraram a espécie mais inteligente a habitar o planeta, e não a terceira mais inteligente. A segunda era, é claro, os golfinhos que, curiosamente, há muito sabiam da iminente destruição do planeta. Eles tentaram alertar a humanidade, mas seu modo de comunicação era interpretado como gestos lúdicos. Então, eles decidiram abandonar a Terra por conta própria. Sua última mensagem foi entendida como uma sofisticada tentativa de dar uma cambalhota dupla para trás assobiando o hino dos EUA. Mas, na verdade, o significado era: 'Adeus, e obrigado por todos os peixes".

Incrível, certo? Agora, quer saber qual é a espécie mais inteligente do planeta Terra? Sugiro que leia o livro, ou assistia ao filme.

Nota: 6.5/10

Felipe Edlinger
30 de setembro de 2007

sábado, 29 de setembro de 2007

[CineBras] BOPE Tropa de Elite

(BOPE Tropa de Elite)

Directed by José Padilha

Antes de mais nada, eu gostaria de pedir desculpas pelas minhas palavras e pelo meu linguajar mas, puta que pariu, esse filme é do caralho!

O mais recente trabalho do diretor José Padilha, responsável por Ônibus 174 (2002), é um excelente exemplo de cinema moderno, sem deixar de lado o cunho social. Ainda mais contundente do que Cidade de Deus e Carandiru, este Tropa de Elite retrata a realidade de uma parte da sociedade que não queremos ver, a polícia brasileira.

José Padilha conta a saga do Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, líder e comandante de uma das tropas do BOPE, o Batalhão de Operações Policiais Especiais. Nascimento, apaixonado, fiel e dedicado a profissão, se encontra no meio de um conflito pessoal entre ser pai, ver o filho nascer e crescer ou continuar no BOPE, enfrentando a dureza e a incerteza do cotidiano no comando da tropa. Decidido a abandonar o comando, ele agora precisa indicar um substituto para a sua função, que reside na escolha de Neto (Caio Junqueira), que sempre teve o desejo de ser policial, tem sangue fervendo nas veias e a mente focada no exercício brutal de todas as horas, ou de Matias (André Ramiro), que estuda advocacia e sempre procura raciocinar antes de agir. A dificuldade se encontra em quem seria um melhor comandante, o coração de Neto ou a cabeça de Matias.

O pano de fundo da trama mostra o planejamento do BOPE para garantir a segurança do Papa João Paulo II que, durante visita ao Rio de Janeiro, faz questão de dormir em uma favela. O Capitão Nascimento contraria as decisões dos superiores, mas respeita a hierarquia da força policial, desde que essas não conflitam com sua filosofia profissional pessoal.

Aliás, Wagner Moura também é f***. Um dos grandes destaques do cinema nacional, junto com o conterrâneo Lázaro Ramos, ele é a alma do filme com seu líder de tropa. Apesar de ter interpretado um ou dois personagens estereotipados no passado, aqui ele literalmente arrebenta. Ele não demonstra perdão, mete porrada, esculacha, dá tiro na cara e não pensa duas vezes, e nas poucas vezes que isso acontece, o coração fala mais alto.
O personagem dele tem filosofias fortes, afinal, afirma que quem coopera com bandido é cúmplice de bandido, independente das condições e situações, inclusive relacionado a colegas de profissão; pra ele, policial corrupto não tem vez. Pessoalmente, acredito que devam existir exceções, mas isso depende do ponto de vista e repertório de cada um.

Nascimento enfrenta a barra pesada das decisões do dia a dia, tendo que manter a mente forte e o coração frio, o que pode influenciar sua vida pessoal e familiar. O peso da responsabilidade e a ineficiência do próprio sistema, com seus olhos cegos (ou que não querem ver), reflete em doses cavalares de remédios tranquilizantes e culmina no maltrato da própria esposa em "defesa" dos seus liderados.

Realmente, é uma luta complicada e, quase sempre, desonesta. Ainda mais quando vivemos no meio de uma Guerra Civil, que somente as autoridades não querem admitir, e as tropas precisam estar sempre nas ruas para resolver os "problemas", quase sempre de maneira pouco ortodoxa. Como dito, corrupção não tem vez.

Mas não é apenas de maus elementos que o filme fala; na verdade, a dita bandidagem é somente um elemento coadjuvante do longa metragem, os verdadeiros acusados são os que estão a favor da lei e fazem de tudo para se dar bem, mesmo que seja colaborar com o outro lado.
Porém, as justificativas são inúmeras, mas quando começam os subornos e as corrupções, a história não tem fim aparente. Começa em casa, na escola, na vida, na faculdade, no trabalho. O engraçado é que as consequências são medidas apenas no final, quando o ajuste de contas parece chegar mais perto.

A podridão e os esquemas utilizados dentro das nossas forças policiais, por muitos nem imaginados, é exposto tão cruamente que faz nascer em qualquer ser humano o sentimento de raiva, ódio e descontentamento com as impunidades. As hierarquias opressoras das instituições públicas, baseadas no poder, talvez resquício dos pensamentos militares que populam o âmago dos nossos centros públicos, revoltam a todos pelo simples fato de revogar os direitos humanos. Apenas para citar alguns exemplos, são agendamentos de férias feitos mediante suborno, coleta de dinheiro de traficantes, deslocamento e eliminação de policiais honestos, desova de corpos em lugares diferentes (por policiais) para diminuir o índice de homicídios na região dos Departamentos de Polícia, entre outros.

Mas bandidagem só existe porque há corrupção e vice-versa. O problema é muito mais embaixo do que pensamos e vemos nas mídias espalhadas pelo país a fora. E vale lembrar que a grande maioria dos moradores de favelas são pessoas comuns e honestas que, sem oportunidades melhores na vida, vêm nessas comunidades a única chance de sobrevivência com um mínimo de dignidade.

O problema é do Estado e, aparentemente, o Estado e nossos líderes políticos não fazem nada para resolvê-lo. A educação é uma possível solução para oprimir a miséria, o tráfico, os roubos e outros delitos cometidos pelos menos favorecidos, expressão em moda hoje em dia. A verdade é que policias não seriam corruptos se não ganhassem miséria, tendo que fazer serviços ilícitos por fora para garantir o próprio sustento. É claro que também existe a ganância, mas ela não é um fator determinante. A ganância não influencia milhões a roubarem 10 reais, mas 10 a roubarem milhões.

E ainda existe a impunidade das classes média e alta, expressa sem nenhum pudor durante toda a história. Os jovens com dinheiro que fomentam o tráfico de drogas, com os beseados e "tiros" de final de semana, são colocados como os grandes responsáveis pelo sustento dos traficante, pela morte de criança e adolescentes, e pela ínfima expectativa de vida daqueles ligados ao crime. Acreditam que a polícia é 100% corrupta e que os verdadeiros oprimidos são eles, uma vez que eles não traficam, apenas consomem. Mas no final das contas, nas mãos de bandidos, todo mundo é igual, é estatística, independente de amizade ou negócio.

Em parte do filme, é retratado o treinamento barra pesada do BOPE, que chega a ser surreal, desumano e sobre-humano. A humilhação, o espancamento, o sacrifício e a dor fazem com que os formados nos cursos do BOPE sejam realmente a elite da força policial brasileira. Apenas como referência, no próprio filme, Wagner Moura cita que nem o exército israelense tem soldados como eles; de um total de 100, apenas de 3 a 5 passam no curso.

A câmera nervosa, como se fosse em primeira pessoa, tropeçando e caindo, causa vertigem e desespero, e retrata o cotidiano das invasões de favelas e subidas de morros, o que consegue nos colocar ainda mais no centro dessa troca constante de tiros e ofensas, com transições muito bem feitas com cortes de cena bem planejados.

Os palavrões e insultos pesados são utilizados em praticamente todas as cenas de ação do filme, mas o linguajar e a violência não chegam a ser gratuitos, e sim necessários para que o trabalho seja representativo.

A narração em off com a voz de Wagner Moura, sem sotaques forçados e estravagantes, nem gírias regionalistas, casa perfeitamente com o ritmo do filme, opondo-se à agitação e ao corre-corre com relativa tranquilidade e paciência, explicando ponto a ponto a realidade do BOPE.

O que pode causar espanto e até transformar o filme em cult reside nas frases impactantes proferidas no decorrer da ação. Quando resolve eliminar um traficante, o Capitão Nascimento diz: "Bota na conta do Papa!", quanto tem que eliminar um policial corrupto, que está vendendo armas, que está na mira do atirador de elite: "Então, senta o dedo nessa porra!", e a melhor: "O BOPE não sobe morro para fazer cumprir a lei, sobe morro pra matar bandido".

Filmes sobre bandidos são comuns para todos os lados, vide o currículo do brilhante Quentin Tarantino, com Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Kill Bill, entre outros. São considerados cult, mas são extremamente fantasiosos e enaltecem o que a sociedade considera errado, é diversão escapista para algo que todos acham que não pode acontecer conosco.

Totalmente o oposto desses citados, BOPE é um tapa com luvas de pelica na cara dos hipócritas e dos falsos demagogos que fazem discursos mas não agem, como boa parte dos nossos representantes públicos.
Não se pode dizer que o que foi colocado nas telas é verdadeiro ou não, correto ou não, uma vez que quase nenhum de nós pode dar uma opinião com propriedades.
Enquanto Carandiru mostra a opinião dos bandidos, BOPE mostra a opinião da polícia de elite. Quem está certo? Quem sabe algum dia teremos essa resposta.

Nota: 9/10

Felipe Edlinger
29 de setembro de 2007

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

[Paula's MFQ] Gladiator

Maximus: "Imagine where you will be, and it will be so. If you find yourself alone... riding in green fields with the sun on your face... do not be troubled. For you are in Elysium, and you're already dead! Brothers... what we do in life... echoes in eternity."

2000. Russell Crowe in Gladiator

terça-feira, 25 de setembro de 2007

[MovRev] The Wonders - O Sonho Não Acabou

(That Thing You Do!)

Directed by Tom Hanks

Definitivamente, Tom Hanks é um cara que entende do riscado. Além de ser um dos maiores atores de todos os tempos, uma das caras mais conhecidas do cinema, um dos mais bem remunerados profissionais do mercado, o cara que emplacou mais filmes que renderam mais de 100 milhões de dólares na história, entre outros predicados, ele ainda consegue a façanha de escrever e dirigir esta comédia simpaticíssima sobre uma banda de Rock 'n' Roll que atinge o estrelato da noite para o dia.

A direção de Hanks é muito certeira, com um roteiro simples mas muito bem amarrado para sua primeira incursão nesta ceara. Ele consegue levar o trabalho com maestria, alternando bons momentos de diversão e musicalidade com alguns jovens talentos que hoje fazem produções mais grandiosas, como Tom Everett Scott, Liv Tyler, Steve Zahn, Charlize Theron e Giovanni Ribisi.

Como já comentado, o filme gira em torno de uma banda de Rock 'n' Roll formada por quatro amigos de colégio e o sucesso meteórico do hit That Thing You Do!, primeiro em concursos e restaurantes, depois na rádio local e, finalmente, nas paradas de sucesso do país todo. Inclusive, a música tema foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original de 1997.

Na verdade, toda a trilha sonora é ótima e casa muito bem com a caracterização dos anos 60, com um clima alegre e, ao mesmo tempo, saudosista. A presença de algumas músicas caracterizando a época ajuda ainda mais na sonoridade do filme, como Diane Dane, Freddy Fredrickson e The Chantrellines.

O sonho de qualquer criança e adolescente é bem traduzido pelo deleite dos quatro garotos com o sucesso, a repercussão do trabalho, sem mencionar a esteria e assédio das tietes em qualquer lugar que a banda toca, algo que lembra o saudoso Febre de Juventude, que contava a história de um grupo de fãs que fazia de tudo para chegar perto dos Beatles.

Porém, todo cometa ascende rápido e se apaga da mesma maneira, e o filme retrata o que, normalmente, faz desmoronar as bandas que começam a fazer sucesso: mulheres, egos, diversão descontrolada, deslumbre, focos em outros assuntos. Somente uma ou duas pessoas realmente interessadas em fazer música pelo simples prazer de tocar acabam não segurando a onda.

Aliás, é impossível não se identificar com o baterista Guy "Shades" Petterson (Everett Scott), que apenas se encontra na turnê pelo deleite de poder continuar tocando bateria. Talentoso e apaixonado pelo que faz, ele não liga a mínima para o sucesso, mas sim para a oportunidade de poder fazer o que sabe, e gosta.

Há também a namoradinha que todos nós queríamos ter, Faye Dolan, interpretada por Liv Tyler, maravilhosa como sempre e mais bela do que nunca. Ela, na verdade é a dedicada namorada de Jimmy Mattingly, o arrogante e ambicioso vocalista da banda, que apenas se importa pelo sucesso próprio. Ingênua e delicada, torcemos para que ela fique com Guy desde o começo do filme, uma vez que a química entre eles é muito mais forte do que entre ela e Jimmy.

Algumas cenas são por demais empolgantes, que nos deixam com um sorriso maroto no rosto, como a primeira vez em que That Thing You Do! toca na rádio local ou, então, quando Guy vai a um bar e escuta atentamente - e bêbado - o jazz de Del Paxton. O momento em que ele toca com Paxton, seu ídolo de infância, no final do filme, chega a ser contagiante.

Os veteranos também contribuem para a boa lista de personagens bacanas, como Bill Cobbs, que interpreta Del Paxton, Obba Babatundé (o Lando, de Guerra nas Estrelas) como o afável Lamarr, porteiro do hotel onde a banda fica em Hollywood, Rita Wilson, a garçonete Marguerite, e até Tom Hanks como o produtor musical Mr. White, mesmo apenas cumprindo tabela, não decepciona e cumpre sua parte. Para os curiosos, o cantor Chris Isaak faz uma ponta como Tio Bob, que grava o primeiro single dos Wonders em uma igreja.

Se você sentir vontade de tocar bateria ou guitarra depois de assistir o filme, não fique com vergonha. Muito menos se sentir necessidade de levantar do sofá e dançar ao som de That Thing You Do!

Nota: 7/10

Felipe Edlinger
25 de setembro de 2007

[MovRev] O Aprendiz

(Apt Pupil)

Directed by Bryan Singer

Este O Aprendiz é um filme que precisa ser descoberto. Mesmo sendo dirigido por um dos queridinhos atuais de Hollywood, Bryan Singer (Os Suspeitos, X-Men, Superman O Retorno), não acredito que faça parte do conhecimento do grande público.

A história começa com o interesse de um estudante exemplar, Todd Bowden (Brad Renfro), com as atrocidades feitas pela Alemanha nas duas Grandes Guerras do nosso século. Todd descobre Kurt Dussander (Sir Ian McKellen), um velhinho, aparentemente inofensivo, que havia sido um oficial do Terceio Reich. Aos poucos o interesse vira obsessão e muda drasticamente a curiosidade e a visão do garoto de 16 anos. A questão que fica, é até quando ele consegue suportar as consequências dessas mudanças.

O filme não apresenta nada de novo ou mirabolante, mas o roteiro bem azeitado nos mostra os terrores do holocausto, sem ser óbvio, sempre com base nas perguntas do garoto e nos relatos do antigo oficial. Em alguns pontos, a história chega a incomodar (o que seria mais do que normal), mesmo sem ser muito direta.

Mais do que os efeitos e consequências dos atos dos comandados de Adolph Hitler, o relacionamento entre Todd e Kurt traduz muito bem o quão flexível, influenciável e curiosa é a mente humana. É fácil curiosidade se transformar em obsessão, e obsessão em loucura; o grande problema é conseguir fazer o processo inverso. Às vezes, o caminho parece se tornar um beco sem saída e é aí que o desespero toma conta da sanidade.

Sir Ian McKellen, magnífico como sempre, trava uma boa batalha com Renfro, surpreendentemente eficiente como o curioso estudante. Porém, enquanto Renfro apenas faz o seu papel, o show é todo de McKellen, tanto pela qualidade e capacidade de sua interpretação, quanto pela densidade e intensidade de seu personagem. É impressionante como ele se transforma do velhinho inocente no diabo de Guerra em pessoa, e nos convence de que ele é realmente assim (mesmo não sendo, é claro).

O tom sinistro do filme acompanha a transformação dos dois personagens principais, ambos faces do mal: a recaída de Kurt Dussander às sombras de seu passado e a assenção de Todd Bowden como discípulo involuntário do alemão. Se você espera redenção em algum momento da trama, esqueça, isso é algo que não estava nos planos do diretor.

Infelizmente, para os puristas e fãs de Stephen King, o filme não pode ser comparado com o livro homônimo, o que é extremamente compreensível e, também, disonesto. O livro é muito mais denso do que o longa metragem, assim como todas as outras obras de King adaptadas para as telas, com uma exceção ou duas. Mesmo assim, o longa não perde seus méritos.

Talvez, a única coisa não adequada tenha sido a escalação de David Schwimmer, como Edward French, conselheiro estudantil que tenta motivar Todd a recuperar suas notas na escola. Mesmo apresentando uma atuação diferente de tudo o que ele já mostrou, Ross Geller já faz parte do DNA de Schwimmer e, também, dos fãs da série de comédia mais bem sucedida de todos os tempos, Friends.

Nota: 7.5/10

Felipe Edlinger
25 de setembro de 2007

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

[MovRev] A Última Legião

(The Last Legion)

Directed by Doug Lefler

Não se deixe levar pelo sub-título brasileiro do filme, "O Nascimento da Lenda de Rei Arthur". Arthur nem ao menos é mencionado até os últimos 2 minutos do filme. Portanto, não crie expectativas em ver uma história comum à lenda do Rei da távola redonda.

Porém, isso não compromete em nada este filme épico simpático e despretensioso que, convenhamos, não pode nem de longe ser comparado a outros grandes do gênero.

Vemos a capital do Império Romano ser atacada e dominada pelos Gauleses, enquanto o pequeno César (o garoto Thomas Sangster) é enclausurado na Ilha de Capri, junto com seu tutor (e feiticeiro) Ambrosinus, interpretado por Sir Ben Kingsley. O comandante da guarda pessoal do Imperador, Aurelius (colin Firth) vai em seu resgate e tem como meta levá-lo para a nona legião, localizada na Britania, a última que não declinou perante o poder dos conquistadores e que ainda é fiel ao Império.

Os cenários e a fotografia são belíssimos, caracterizando com eficiência a Roma antiga e as terras distantes da Britania. Novamente, nada que chegue perto das mega produções, mas ainda assim é interessante. Em alguns casos até nos remete a O Senhor dos Anéis com suas paisagens esplendorosas, só que aqui filmadas na Eslováquia.

As cenas de batalhas são bem feitas, porém sem muitas coreografias elaboradas. Os apaixonados por embates gigantescos podem se decepcionar um pouco porque as lutas não são tão violentas como normalmente são apresentadas, mas os cortes de câmera frequentes e rápido ajudam a torná-las ágeis e empolgantes.

Colin Firth se empenha em interpretar o comandante Aurelius mas não consegue ser glamouroso como um certo Neo-Zelandês que interpretou um verdadeiro Gladiador, Russell Crowe. Talvez, esta nem tenha sido a intenção, uma vez que Firth intercala momentos sérios com tentativas de humor.

Uma razão para conferir o filme, mesmo com todos os poréns, é a presença da deslumbrante Aishwarya Rai, uma das maiores estrelas do cinema Indiano, que estrelou, inclusive, o engraçado Dhoom 2, filmado no Brasil. A ela cabem as melhores cenas de luta e até alguns momentos mais sensuais, com direito a roupa molhada e foco nos, digamos, atributos da moça.
Isso me faz perguntar o porquê do rebuliço causado pelo "incidente internacional" quando Richard Gere agarrou Shilpa Shetty (atriz indiana) durante um evento de conscientização sobre a Aids, na Índia.

Se no meio do filme, alguém ficar cismado com a história da espada de Julio César, já posso adiantar que sim, estamos falando da mesma Excalibur das outras aventuras do Rei Arthur.

Nota: 5.5/10

Felipe Edlinger
24 de setembro de 2007

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