
Dirigido por Davis Guggenheim
Al Gore é o cara! Não tenho muito mais o que falar de uma pessoa que, aparentemente, é sensata, inteligente e bem-intencionada. E ainda possui uma presença mundial e é ouvido por uma vasta quantidade de pessoas.
Até hoje não consigo entender como ele perdeu as eleições de 2000, pelo fato de que ele nem ao menos merece ser comparado a George Bush. Ok, as eleições foram uma fraude, os Estados Unidos mostraram como podem ser imensamente incompetentes, os democratas foram ludibriados, os votos foram recontados, os resultados foram dados prematuramente, contém o que quiserem.
Ele é um cara que tem conteúdo, personalidade e verdadeira paixão pelo próprio discurso, o que já é uma razão muito boa para respeitá-lo. É possível ver a honestidade dele em seu olhar. Somente depois de seguir suas crenças e divulgá-las publicamente, ele resolveu entrar para o mundo da política, por volta dos 30 anos de idade.
Uma Verdade Inconveniente é um documentário precioso, com tamanha qualidade que há muito não se via. Al Gore, defensor do meio-ambiente há muito tempo, apresenta dados e resultados reais das ações predatórias dos seres humanos, que impactam diretamente no desenvolvimento e no bem estar do nosso planeta e, consequentemente, o nosso próprio.
Al Gore é capaz de fazer piadas com a própria "desgraça", e tem a retórica e a presença de palco que um presidente de verdade deve ter, um exemplo a ser seguido por todos os "grandes" (com ênfase nas aspas) líderes mundiais, entre eles o americano, o britânico e, claro, o brasileiro.
A edição realizada para o longa-metragem casa perfeitamente a famosa palestra de Al Gore para a Apple (elaborada e interpretada ao nível da excelência) com cenas de bastidores e quase making-of das andanças e lutas do ex-futuro-presidente-dos-EUA pelo mundo a fora, ao longo de mais de 300 apresentações.
A empolgação, a melancolia, o sarcasmo, a tristeza, se alternam com precisão para manter um ritmo cadenciado para um documentário que arrepia até o último dos pelos dos braços, de um ser humano normal. A narração em off cria um clima de cumplicidade entre apresentador e espectador que colabora ainda mais para prender nossa atenção à mensagem pedagógica. Ou melhor, andragógica.
Uma produção grandiosa, que une a simplicidade com a assertividade a melhor maneira possível. Tudo é muito bem ensaiado, muito bem composto e, principalmente, muito bem liderado por Al Gore. Nada parece estar fora de prumo, fora de sintonia, fora de alcance. O show tecnológico da apresentação dele não se faz necessário frente a sua facilidade de falar e se fazer entender, mas complementa o discurso, adicionando ingredientes com ótimo sabor. Tudo fica ainda mais fácil digerível.
As colaborações de muitos cientistas tornam o apelo de Gore factível e até o traço de Matt Groening o ajuda a ganhar a simpatia de seu público.
Infelizmente, a verdade inconveniente apresentada neste documentário não é nada especulativa, mas tão real quanto eu ou você. A apresentação de Gore é totalmente baseada em dados científicos e em resultados visíveis a olhos nus. A temperatura dos oceanos bem crescente ano após ano, os níveis de dióxido de carbono atingiram um patamar nunca antes imaginado, os glaciares estão desaparecendo. Onde vamos acabar se não pararmos com tudo isso? A resposta é uma só e todos temos medo de pronunciá-la.
E por mais que a verdade seja estarrecedora, Al Gore é gentil e delicado com relação ao assunto, porém sem nunca perde a seriedade. Como diria Che Guevara: "hei de endurecer, porém sem perder a ternura jamais". É o que ele faz, e muito bem feito, sem ao menos entrar mais fundo no mérito político dos mandatos de George "Newman" Bush. No final, ele completa seu discurso com chave de ouro dizendo, literalmente, que "vontade política é um recurso renovável". É de emocionar qualquer um.
E, se alguém duvida das intenções do ex-futuro-presidente, 50 mil cópias do filme foram distribuídas, gratuitamente, para professores nos Estados Unidos entre 2006 e 2007. Além disso, a caixa do DVD é feita em material 100% reciclado. Sem contar que foi o primeiro documentário "neutro na produção de dióxido de carbono". Isso quer dizer que todo o dióxido de carbono gerado para produzí-lo (emissões de carbono de viagens, produtos, acomodações, etc) foi compensado com ações "verdes", com créditos para energia renovável.
É ótimo saber que existe alguém lá fora fazendo algo pelo nosso planeta, algo que até mesmo nós, que nos dizemos ecologicamente conscientes, não fazemos. Por preguiça, por comodidade, por convicção, é necessário seguir o exemplo de Al Gore. Todos os dias. Mais informações em www.climatecrisis.net
Nota: 8,8/10
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro: Davis Guggenheim
Elenco: Al Gore
Estréia: Novembro de 2006
Gênero: Documentário
Duração: 100 minutos
Distribuidora: Paramount Pictures
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por Felipe Edlinger
01 de novembro de 2008
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por Felipe Edlinger
01 de novembro de 2008
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