[MovRev] Um Amor para Recordar

(A Walk to Remember)

Dirigido por Adam Shankman

Este filme é uma adaptação extremamente livre da obra do escritor Nicholas Sparks. E quando se lê "extremamente", o sentido da palavra deve ser levado em consideração. O filme não tem uma linha do romance original, além da frase "prometa que você não se apaixonará por mim" e partes de alguns diálogos perto do final da história.

O livro, por sua vez, é um conto simples, bem desenvolvido, porém, sem nenhum atrativo para o grande público, por ser bastante "parado". O mesmo não poderia ser feito com o filme, uma vez que é necessária audiência para que seja um sucesso e a rentabilidade da produção aumente.

O que aconteceu, então, foi uma mudança radical de tudo o que se lê no livro de Sparks, da trama em si, aos personagens. O ambiente mudou, a época mudou e praticamente todo o contexto e história, também. De 1958, época em que se passa o romance, a trama mudou para a década de 1990, o que não caiu muito bem para a produção, fazendo com que grande parte do charme do livro se perdesse nessa transição. A cidade pacata do interior com seu colégio tradicional se tornou um lugar onde perseguições de carros e trotes pesados acontecem.

Alguns personagens estão mais presentes do que outros e outros presentes no livro nem ao menos existem. Muitos deles foram modificados e são praticamente novos personagens apresentados. Mas o maior pecado foi a mudança da trama principal e dos papéis dos dois principais. A forma com que eles se envolvem pela primeira vez, como passam a se conhecer melhor, o comportamento de cada um deles, tudo isso se perdeu no limbo.

Landon Carter (Shane West) é um dos badboys do colégio da cidadezinha de Beauford, no estado da Carolina do Norte. Ele apenas se preocupa em curtir com os amigos, matar aula e farrear o tempo todo, sem responsabilidade alguma. Quando é obrigado a participar da peça da escola como punição por mau comportamento, ele se vê obrigado a pedir ajuda a Jamie Sullivan (Mandy Moore), filha do pastor local e menina careta e carola que todos adoram caçoar. Porém, o que ele via como um fardo, se transforma em apreciação e paixão e ele, finalmente, se coloca contra todos aqueles que acreditava serem seus amigos.

Aqui foi uma tentativa de transformar o livro de Nicholas Sparks, da mesma maneira que a obra de Shakespeare foi transformada no Romeo + Julieta de Baz Luhrmann. Com toques atuais, música moderna e visual e diálogos despojados, a intenção era criar uma trama que atraísse os adolescentes. Porém, não funcionou nem a metade como foi o sucesso do filme dos Capuletos e Montéquios.

Boa parte do fracasso dessa tentativa se deve a diferença clara da qualidade entre os protagonistas e elenco de apoio. Leonardo di Caprio sempre foi um bom ator e Claire Danes, idem. O mesmo não se pode dizer do "canastrão desde criancinha" Shane West e da gracinha Mandy Moore, que apesar de tentar, não consegue sair do automático. É verdade que Peter Coyote teve seus bons momentos no cinema, mas sua pequena ponta em Um Amor para Recordar não consegue segurar nada. Isso sem contar Daryl Hannah 100% fora de sintonia em seu papel de mãe do protagonista.

Os adolescentes podem gostar por causa da trilha sonora pop. Mas é só.

É um pecado o que foi feito aos protagonistas do livro, que demonstram muito mais caráter e qualidades humanas do que os dois do filme. Enquanto o Landon Carter do livro é uma pessoa boa e que apenas não quer ser deixado de lado por seus amigos, o do filme é um verdadeiro babaca que, sem explicação (o roteiro não cola!), muda seu comportamento, de uma hora para a outra. No livro, a evolução do personagem é muito mais pautada e verdadeira, especialmente por ser uma história "água com açúcar". A Jamie Sullivan do livro é muito mais complexa do que o rascunho apresentado no filme, que, ao contrário da original, é "saidinha" e mais desinibida.

A trama parece ter sido cortada no meio, mesmo com a adaptação errônea de Karen Janszen, roteirista do filme. E apesar do diretor Adam Shankman ter emplacado sucessos recentes como Hairspray, com John Travolta, e Operação Babá, com Vin Diesel, este, sendo um de seus primeiros trabalhos, não merece tanto crédito.

Se é possível fazer uma escolha, aconselho trocar as quase duas horas de um filme ruim por algumas horas a mais de um livro bacaninha (sim, é possível ler o livro em apenas um dia). Água com açúcar, é verdade, mas de alma e emoções sinceras. Contra a forçada de barra que é o filme, é o melhor que se pode fazer.

Incrível como cada pedaço do livro foi transformado em algo totalmente diferente na película. Uma pena que ainda utilizaram o mesmo nome do original e a reputação do escritor, que também escreveu Message in a Bottle e The Notebook, também adaptado para o cinema, como chamativos para essa produção. Realmente, uma perda de tempo.

Nota: 4/10

Direção: Adam Shankman
Roteiro: Nicholas Sparks & Karen Janszen
Elenco: Shane West & Mandy Moore & Peter Coyote & Daryl Hannah
Estréia: Fevereiro de 2003
Gênero: Drama & Romance
Duração: 101 minutos
Companhia: Warner Bros. Pictures

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por Felipe Edlinger
14 de julho de 2008
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