sábado, 24 de maio de 2008

[MovRev] Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

(Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull)

Directed by Steven Spielberg

Há 19 anos que venho esperando por este filme, desde quando assisti Indiana Jones e a Última Cruzada pela primeira vez, em VHS. Nunca tive a oportunidade de ver o maior dos heróis no cinema porque era apenas um moleque quando o último filme foi lançado e, em termos de experiências cinematográficas, isto passou a ser um sonho. Conseqüentemente, as expectativas foram aumentando, depois de séries e jogos com o nome de Indiana, e um simples release do trailer do novo filme me fazia vibrar a ponto de ficar cantarolando o tema principal do filme. Convenhamos, o toque do meu telefone é o tema principal do filme. Ou seja, sou fã de carteirinha, com direito a todos os filmes em VHS e DVD, e até posteres da trilogia. Se sou nerd, não sei, acredito que não, mas somente sei que queria ser arqueólogo quando criança por causa desse tal Dr. Jones. E não é para menos que assisti ao quarto filme duas vezes, nas versões legendada e dublada, simplesmente para relembrar como era ver os filmes originais (dublados, claro) pela primeira vez.

Cortando o barato de todos os manés e críticos de plantão, que andam dizendo por aí que Indiana Jones não é mais o mesmo, que não é mais tão bom, que esperavam mais da produção, eu apenas digo que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é um filmaço em todos os aspectos. E é preciso levar em conta que ele é o quarto filme de uma série e que Os Caçadores da Arca Perdida está muito longe de ser batido. Só não é um filme perfeito porque Steven Spielverg cometeu alguns deslizes e andou pisando feio na bola em alguns aspectos que o fizeram fugir um pouco da essência dos outros três originais da série. Caso já tenham visto o filme, o "adendo" da resenha (contando com spoilers) se localiza nos comentários.

Vamos lá, o que faz de Indiana Jones, Indiana Jones? São diversos itens que poderíamos ir riscando de um checklist e descobriríamos que ele voltou a toda, sem dúvidas!

Número 1: Personagem marcante, canastrão e engraçado, ácido-irônico-sarcástico, valente mas não idiota, herói humano e não super-herói?
Para o deleite de todos os fãs, Harrison Ford ainda é Indiana Jones com todos os atributos. Aliás, ele nunca deixou de ser! Ele voltou com gás de moleque e excelente forma física para reviver seu personagem mais famoso no cinema. Ele corre, salta, distribui socos e pontapés, pilota carros em alta velocidade, atira. Ele continua fazendo de tudo o que fez durante a vida toda, porém, agora com duas décadas a mais nos ombros.

Número 2: Um objeto místico em comum, que guia toda a trama, normalmente com poderes sobrenaturais?
Sim, o tal McGuffin, como Spielberg gosta de chamar, está presente na forma da Caveira de Cristal referenciada no título da obra. Infelizmente, ela não é tão forte quando a Arca da Aliança, o Santo Graal, ou até mesmo as Pedras Sankara. Mas ainda assim é algo que chama a atenção e consegue fazer desenrolar toda a trama.

Número 3: Cenários incríveis, locações imensas e ambientação quase como um outro personagem da trama?
Dos desertos do Novo México até a floresta amazônica no Peru e as cataratas do Iguaçu, na fronteira entre Brasil e Argentina, a magia dos cenários impressionantes está de volta, boa parte em CGI. Cada nova curva na aventura revela mais um ângulo visual da trama que tira o fôlego dos espectadores.

Número 4: História cercada de ação e reviravoltas?
Bingo! Todos os elementos presentes nos outros três longas também estão de volta. Das perseguições de carros aos socos e pontapés, das piadas sobre cobras aos enigmas a serem resolvidos por Indiana, do amigo que se mete em enrascadas as armadilhas das quais os heróis têm que se safar a cada cena. A ação continua não nos deixa respirar nem um minuto.

Então, em que Spielberg pisou na bola. Calma, no final dessa resenha você ficará sabendo e, se quiser, verá algo mais nos comentários.

Nesta aventura, Indiana Jones (Harrison Ford) é capturado por russos, a mando de Stalin à América, para encontrar um artefato que os permitam utilizar como arma durante a Guerra Fria, contra os Estados Unidos, do mesmo modo que Hitler o queria em Os Caçadores da Arca Perdida. Comandados por Irina Spalko (Cate Blanchett), agente da KGB, os russos vão atrás da Caveira de Cristal de Akator, encontrada pelo Professor Oxley (John Hurt), em viagem ao Peru. Fugindo dos russos, Indy se une a Mutt Williams (Shia LaBeouf), grande amigo de Oxley, seguindo os passos do Professor até as entranhas da floresta amazônica. Entre fugas para escapar da morte e a curiosidade pelo artefato perdido, ele encontra alguns conhecidos, entre eles Marion Ravenwood, antiga paixão dos tempos de Caçadores.

O roteiro do filme é bastante coeso e faz todos os links entre uma cena e outra da aventura. Apenas as paradas obrigatórias entre as partes da aventura estão faltando. Como nos outros filmes, normalmente, há um "refresco" das cenas de ação, que não duram por muito tempo. Os protagonistas param, dormem, Indiana estuda, dialoga. Neste aqui, a ação é incessante, o que, às vezes, pode não ser um ponto pró. Tanto que os 124 minutos parecem voar, literalmente. Não que isso seja ruim, mas ficou um pouco fora do padrão dos outros filmes da série. Porém, com relação aos absurdos do filme, não acredite em comentários do tipo: "nossa, o roteiro é irreal" ou "tem falhas geográficas"; estamos vendo Indiana Jones mais uma vez e nada do que é mostrado é verossímil. São, simplesmente, elocubrações sobre um tema, assim como em todos os outros episódios.

A direção conta com a experiência de um gênio que, mesmo com alguns deslizes continua um gênio. Basta ver as seqüências de lutas e perseguições para perceber que ele ainda é quem dá as cartas.

Os efeitos especiais são excelentes, um ótimo trabalho do pessoal da Industrial Light & Magi, empresa de George Lucas que, desde Guerra nas Estrelas, vem trabalhando em seus filmes. Ao contrário do que muitos podem dizer, os efeitos não se sobrepõem aos atores e não são a atração principal do filme. As cenas são, sim, fantásticas, mas nada mais do que isso. Se alguém disser que os efeitos são exagerados, basta relembrar outros absurdos dos filmes anteriores, como o salto do avião em um bote salva-vidas, ou a perseguição em carrinhos de mina. Os exageros fazem parte da mitologia do nosso arqueólogo favorito e, sem eles, ele seria apenas mais um filme.

Os atores continuam sendo o grande peso (no bom sentido) da produção. Harrison Ford, como já foi dito, mantém toda a glória e empatia de seu personagem. Shia LaBeouf é o contraponto perfeito para Indy e tem algumas das linhas mais engraçadas do filme, cobrindo a lacuna deixada por Sean Connery (Professor Henry Jones), John Rhys-Davies (Sallah) e Denholm Elliott (Dr. Marcus Brody, falecido em 1992). Karen Allen está de volta à um papel de destaque, depois de quase 20 anos sem fazer nada muito significativo no cinema; sua personagem está deslumbrada com a possibilidade de estar jundo à Indiana Jones mais uma vez. Cate Blanchett encarna uma personagem interessante como agente russa à serviços de Stalin, porém, não é tão marcante quando o Major Toht, de Caçadores, ou Mola Ram, de Templo da Perdição. John Hurt está ótimo como o Professor Oxley, que encontra a Caveira de Cristal e o caminho para o dito reino. Ray Winstone e seu George "Mac" McHale é um misto do egípcio Sallah e do francês Belloq, algo entre amigo e adversário.

Uma grande sacada (e algo que não poderia ser feito diferente) foi colocar Indiana Jones em suas atuais condições de homem sexagenário, e refletir a devida época da aventura com relação a idade do personagem. Apesar dos nazistas serem os inimigos favoritos, os russos comunistas estão à altura para enfrentar o Dr. Jones. Ele não é mais um moleque ou um quarentão brincando de pega-pega, mas sim, um senhor de 65 anos que ainda consegue dar seus pulos e distribuir suas pancadas. Mas ele, acima de tudo e de todos, também é falível, e isso fica evidente ao longo da trama. Ponto para o roteiro. As ligações com as outras produções também ficam evidentes e apenas agradam ainda mais os fãs, como a aparição da Arca da Aliança de relance ou as perseguições parecidíssimas entre Indiana e seus opositores. A trilha sonora ainda conta com a maestria de John Williams, que recupera não só o tema central, como as bases de todas as outras aventuras e as transforma em algo novo, com som de "uau, eu conheço essa música".

Porém, para os fãs de carteirinha, algumas coisas podem fazer o filme perder alguns pontos, principalmente levando-se em consideração a expectativa (inclusive a minha, imensa!) gerada pelos trailers e pela própria mística criada sobre o tema "o quarto filme de Indiana Jones". O foco de muitas cenas não está sobre Indiana, mas sim, sobre Mutt Williams, personagem de Shia LaBeouf. Indiana não utiliza tanto seu chicote (a arma mais bacana que já vi sendo utilizada por um herói) como nos outros filmes. O próprio McGuffin, a Caveira de Cristal, foge do tema religioso dos outros filmes, o que faz perder um pouco a unidade e o charme com relação a trilogia. Mas isso não é nada frente a maior pisada de bola de todas. Veja nos comentários. No final, é o filme mais fraco da série: Caçadores é 10, sem sombras de dúvidas; A Última Cruzada leva um louvável 9,5; O Templo da Perdição fica com 8,5 e este O Reino da Caveira de Cristal acaba com um singelo 7,5. Uma pena, poderia ser melhor se crenças pessoais não interferissem no produto final.

Mas Indiana Jones ainda é Indiana Jones e isso é o que importa. Com 65 ou 40 anos de idade, ele é o cara que alegrou as matinês de nossas infâncias e conseguiu arrancar sorrisos honestos de nossas mentes infantis, assim como deixou nossos olhos arregalados frente a cada novo mistério e desafio. E, felizmente, pude ver isso pela primeira vez nos cinemas. Duas vezes. Longa vida a Indiana Jones! E a Harrison Ford, também, é claro!

Nota: 7.5/10
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por Felipe Edlinger
24 de maio de 2008
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