
Directed by Marc Foster
Algumas vezes me pergunto onde começam os sonhos, por onde passam as ilusões, qual é a linha tênue que separa o nosso mundo, o qual achamos real, com aquele onde tudo não passa de um mero momento, um instante envolto na teia do adormecer.
Sonho e realidade, verdade e ilusão, temas tão abrangentes e já abordados inúmeras vezes por livros, filmes e histórias em quadrinhos; porém, não nos cansamos de pensar e repensar. O que vemos é real?
Um acidente, rodas faiscando pelo asfalto, algo que pode mudar uma vida inteira. É assim que começa a história de Henry Letham (Ryan Gosling), um estudante de arte que parece não mais distinguir o que é verdadeiro e o que é imaginário.
Sam Foster (Ewan McGregor) é um psiquiatra que começa a ajudar Henry a compreender o que anda acontecendo, porém também acaba caindo em uma rede de incertezas que o leva a duvidar do que seus olhos vêm.
O filme tem um clima tenso, que é acentuado pela câmera nervosa, que vai e vem, angulosa e com perspectivas inusitadas. As transições de cenas são muitos bem feitas e conseguem transcrever o clima de insegurança dos personagens.
O elenco segura muito bem a trama, formado por excelentes atores, entre eles o sempre eficiente e boa praça Ewan McGregor, a linda (e com talento provado) Naomi Watts, a revelação Ryan Gosling, e a feliz aparição de Bob Hoskins (ele mesmo, o Super Mário dos cinemas).
O enredo é uma grande viagem e faz bem a função de nos deixar perdidos, sem razão, sem explicação, quase em desespero pela impotência de não entender e não conseguir concluir nada.
Os lapsos de memória dos personagens, a sensação de não saber o que é real e o que é sonho, a projeção de sonhos, as ambições e o pesar que às vezes nos faz ficar no limbo reflete em todas as ações dos personagens e cenas do filme o poder que a mente tem sobre o corpo.
O final é, sem dúvidas, inesperado, mas não é nem um pouco gratuito, é necessário pensar pra compreender e ligar todos os pedaços do quebra-cabeça. Se você espera um final no estilo Sexto Sentido ou Clube da Luta, a experiência pode ser frustrante, mas para quem assistiu Amnésia e gostou, A Passagem é um excelente programa.
Voltamos a bater na mesma tecla que diz que toda a nossa vida passa diante de nossos olhos em um momento de proximidade da morte. As alegrias, os sonhos, as paixões, os desejos, as tristezas, principalmente os bons momentos, ou aqueles que desejávamos que fossem bons momentos.
Ewan McGregor fica tentando entender o que acontece com Ryan Gosling, porém se perde no oceano de possibilidades e na imensa falta de explicações. Quem mata a charada é o personagem de Bob Hoskins que, no final, pensa um pouco fora da caixa.
Mas a vida é assim, incertezas, absurdos, becos sem saída. A existência requer um pouco mais de abstração, para não nos perdermos na insatisfação do dia a dia. E esta é mais uma obra que nos mostra tudo isso. Vale a pena ver e rever (pra entender, depois).
Nota: 7/10
Felipe Edlinger
15 de dezembro de 2007
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