
Directed by Garth Jennins
Douglas Adams é um dos escritores mais brilhantes de todos os tempos. Seu estilo escrachado e non-sense, e ainda melhor, ácido, irônico e sarcástico, conquistou gerações de leitores e vendeu mais de 15 milhões de cópias de seus livros ao redor de todo o mundo. E continua encantando muita gente, mesmo com a morte precoce do escritor, aos 49 anos, em 2001.
Enquanto a série Guerra nas Estrelas acumula uma legião de fãs considerados nerds, a série O Guia do Mochileiro das Galáxias incorporou um certo ar cult, até porque ela é muito menos conhecida do que a dos sabres de luz e cavaleiros Jedis.
O humor é tão absurdo que fica claro que nem o próprio autor não a levava muito a sério, tanto que a inspiração para escrevê-la veio quando, segundo o próprio Adams, ele estava bêbado em algum lugar de Innsbruck, na Áustria.
Porém, é um humor inteligente e afiado, típico das novelas inglesas.
Não são todos que se identificam com O Guia do Mochileiro, ou ao menos passam das 50 primeiras páginas, tamanhos são os pontos de interrogação que pairam sobre a cabeça de quem o tenta ler. O caráter imaginativo/ criativo de Adams precisa se fazer entender primeiro para depois ser compreendido.
O mesmo ocorre com as versões multimídia do livro, seja a versão original para rádio, de 1977, ou a versão podreira para a rede de TV BBC, de 1981, ou ainda esta versão mais recente para cinemas.
O filme conta a história de Arthur Dent (Martin Freeman), inglês sossegado que tem a casa demolida, e seu amigo Ford Prefect (Mos Def), um alienígena disfarçado de ator desempregado que fazia pesquisa na Terra para o tal O Guia do Mochileiro das Galáxias, em uma jornada pelo universo em busca do planeta Mangrathea, a bordo da nave Coração de Ouro.
Parece confuso? Sim, parece, e até é. Isso sem mencionar o fator de improbabilidade da nave Coração de Ouro, o super computador Pensador Profundo, o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox, o peixe tradutor Babel, os terríveis e idiotas Vogons, a bebida Dinamite Pangaláctica, o robô pessimista Marvin, entre outras loucuras mochileiras.
O segredo é esperar de tudo e nunca levar nada a sério, caso contrário você é um sério candidato a achar o filme um lixo universal.
Os cenários são bacanas e bem elaborados, principalmente se levarmos em consideração a mente doentia de Douglas Adams; são planetas, personagens e situações totalmente diferentes do que uma mente comum - e sã - pode elaborar.
Os personagens, então, são fascinantes, interpretados por bons e conhecidos atores, como o próprio Martin Freeman, da série The Office, que interpreta o deslocado inglês Arthur Dent. Além dele, há o rapper Mos Def, que faz o papel do alienígena Ford Prefect, Sam Rockwell como Zaphod Beeblebrox, o inacreditável presidente da galáxia, Bill Nighy, John Malkovich, Stephen Fry (narrador da história), Alan Rickman, a voz do entediado robô Marvin, e a gracinha Zooey Deschanel, que interepreta Trilliam, paixão de Arthur.
Porém, para quem não leu o livro, existe uma grande possibilidade de não conseguir entender nadinha da silva; como já disse, a história é confusa, não pela trama ser um emaranhado de informações, mas pelo fato das informações em si serem quase inconcebíveis. Por outro lado, para quem já leu o livro (ou os livros), é fácil notar que muitas coisas foram modificadas para a versão cinematográfica, não necessariamente para o bem da obra, na opinião dos fãs.
Infelizmente, o filme não foi muito bem nas bilheterias, o que já era até de se esperar por ser a) uma comédia britânica e b) baseado em um livro de Douglas Adams. É uma pena porque os outros livros da trilogia de cinco são tão bons quanto o primeiro.
Para quem ficou curioso ou assistiu o filme e realmente ficou interessado pela obra de Adams, sugiro a leitura de todos os livros, começando, é claro, por O Guia do Mochileiro das Galáxias. Se, depois das quase 200 páginas de humor non-sense do primeiro livro, você ainda estiver entusiasmado, passe para 2) O Restaurante no Fim do Universo, 3) A Vida, o Universo e Tudo Mais, 4) Até Mais e Obrigado pelos Peixes; e 5) Praticamente Inofensiva (livro alternativo considerado a quinta parte da trilogia - sim, Adams se referia a sua obra dessa maneira... trilogia).
E para quem tem alguma dúvida sobre o refinamento do humor de Dougla Adams, aqui vai uma pequena dose: "É um fato importante e conhecido que as coisas nem sempre são o que parecem. Por exemplo, no planeta Terra, os homens sempre se consideraram a espécie mais inteligente a habitar o planeta, e não a terceira mais inteligente. A segunda era, é claro, os golfinhos que, curiosamente, há muito sabiam da iminente destruição do planeta. Eles tentaram alertar a humanidade, mas seu modo de comunicação era interpretado como gestos lúdicos. Então, eles decidiram abandonar a Terra por conta própria. Sua última mensagem foi entendida como uma sofisticada tentativa de dar uma cambalhota dupla para trás assobiando o hino dos EUA. Mas, na verdade, o significado era: 'Adeus, e obrigado por todos os peixes".
Incrível, certo? Agora, quer saber qual é a espécie mais inteligente do planeta Terra? Sugiro que leia o livro, ou assistia ao filme.
Nota: 6.5/10
Felipe Edlinger
30 de setembro de 2007