quinta-feira, 27 de novembro de 2008

[MovRev] [•REC]

([•REC])

Dirigido por Jaume Balagueró & Paco Plaza

Quando um padrão é criado e resulta em sucesso, a indústria tendencia a seguir o exemplo e tentar garantir algumas verdinha a mais, vide o caso da série decadente Jogos Mortais. Porém, esta pérola do cinema espanhol, [•REC] é uma reinvenção ou, ao menos, um melhoramento sensível de um padrão iniciado pelo bom e hypado Bruxa de Blair que, em minha opinião, é fantástico devido à inovação trazida ao gênero terror e pela estratégia de marketing, simplesmente brilhante, utilizada para sua divulgação.

A fórmula pode ter sido copiada à exaustão por outras obras, culminando no excelentemente bem produzido (J.J. Abrams, senhoras e senhores) Cloverfield, que tapeou muito bem os telespectadores, dizendo ser um filme revolucionário. Que, cá entre nós, de revolução não mostra nada, uma vez que os elementos da trama eram basicamente os mesmos do saudoso Bruxa de Blair.

[•REC], assim como o parente distante da floresta de Blair, é um filme muito bom e surpreendente, que ganhou forças na divulgação boca-a-boca, criando uma horda de fãs e entusiastas, que lotaram as salas em que o filme estava sendo exibido, mesmo que por pouco tempo. O longa é tão bom, que bateu o recorde de velocidade na geração de adaptações e remakes para o mercado americano. Chegando com um ano de atraso ao mercado brasileiro por razões óbvias para o grande público (qualé, filme espanhol sem Almodóvar?), quase é lançado ao mesmo tempo que a obra gêmea yankee, Quarentena; bem inferior que o original, dizem os especialistas. Isso somente comprova a falta de inspiração de Hollywood para produzir obras de qualidade e não de quantidade, como se vê comumente.

A indústria americana de terror parece estar indo em direção do cemitério (sem trocadilhos alguns) ou então resolveram não mais esconder que pagam uma homenagem (pra não dizer outra coisa, se você me entende) enorme aos mestres orientais (de O Chamado, Espíritos, O Grito, etc.) do gênero. E agora, aos Europeus. No ritmo das coisas, não tarda a vermos Zé do Caixão (Coffin Joe) falando a língua da Rainha.

A repórter Ángela Vidal (Manuela Velasco) e seu cameraman Pablo (Pablo Rosso) fazem uma reportagem para o programa "Mientras Usted Duerme" (Enquanto Você Dorme), tendo como tema a realidade do Corpo de Bombeiros de Barcelona durante a madrugada. Eles acompanham os bombeiros Manu (Ferran Terraza) e Álex (David Vert) durante um chamado para resgatar uma senhora de idade, que caiu em seu apartamento. Chegando lá, encontram todos os residentes reunidos no saguão do antigo prédio, reclamando que a idosa gritava feito louca. Partem, então, para averiguar o caso, mas, o que parecia um trabalho de rotina, se transforma em uma noite de horror para todos os presentes.

Resumidamente, [•REC] aplica todos os recursos de Bruxa de Blair e Cloverfield, mas modifica algo essencial para fazer a diferença. Enquanto Bruxa de Blair abusa do terror psicológico, sendo a própria bruxa, nada além de especulação, Cloverfield também mantém seu monstro afastado dos protagonistas, aparecendo de tempos em tempos, longe do foco da atenção. [•REC], ao contrário dos parentes mais próximos, mostra (e muito bem mostrado) toda a razão do desespero dos residentes do prédio, onde é filmado. [•REC] é um filme de terror em primeira pessoa, misturado com o melhor das produções sobre zumbis. Apenas para complementar a sinopse, o foco do horror é a contaminação por um vírus que transforma as pessoas em mortos-vivos comedores de carne humana.

Outro ponto diferencial a favor do filme espanhol é o fato de utilizar um cinegrafista profissional para realizar as gravações em primeira pessoa, o que dá um ar muito melhor à produção. Bruxa de Blair utilizava equipamentos profissionais com amadores no comando e Cloverfield utilizou equipamentos amadores com um Zé Mané da vida gravando. Pablo Rosso, o cinegrafista do filme espanhol, já trabalhou com o diretor Balagueró em outras produções e, nesta fita faz papel duplo, como ator e técnico. Desta maneira, as imagens ficam com qualidade muito superior, muito menos tremidas e muito mais coesas, evitando a náusea tradicional causada nas outras duas produções.

[•REC] transpira realidade (com exceção dos comedores de carne, é claro!), principalmente em função dos bons atores espanhóis presentes na trama. Destaque para a personagem principal da bela Manuela Velasco (que, na versão americana, ficou com Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose) e para os bombeiros de Ferran Terraza e David Vert. Para melhorar ainda mais a interpretação, algumas cenas foram filmadas sem que os atores soubessem o que aconteceria, repetindo a tática utilizada pelos diretores de Bruxa de Blair, Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, o que aumentou a intensidade das respostas dos personagens vertiginosamente.

A direção e o roteiro dos amigos Jaume Balagueró e Paco Plaza são acertados e muito consistentes, com bons cortes contextuais (afinal de contas, a filmagem é feita em primeira pessoa) que elevam ainda mais o suspense. As muitas passagens de câmera, com panorâmicas e zooms, deixam a platéia arrepiada com momentos de altíssima tensão e terror, que pairam no ar durante todos os 80 minutos do filme.

Alguns momentos chegam a ser cômicos, em especial no começo do filme, mas nada ligado às cenas de terror em si, e sim, devido a postura da repórter, frente à falta de ação de sua matéria, e ao próprio idioma espanhol. Para os brasucas de plantão, a língua ibérica chega a ser engraçada devido aos sotaques diferentes e expressões que, em português, têm outros significados. Em alguns momentos, é possível escutar o cinema vindo a baixo em risadas, mas que logo cessam para serem substituídas por gritos de susto e expressões do tipo "acaba logo", "pu** mer**" e "caraaaacaaaa". Demais!

Os efeitos especiais e sonoros, apesar de poucos, são bastante convincentes e fazem muito bem o papel de garantir a "verossimilhança" dos acontecimentos. Mesmo com uma trama simples e, aparentemente, sem pé nem cabeça (com pura ação e puros sustos), o resultado é bem palpável e crível.

Totalmente filmado em locações reais na cidade de Barcelona, na Espanha, nenhum set foi construído para a produção, que já tem uma continuação agendada para 2009 (?). [•REC] é mais um exemplo de filmes com baixo orçamento e de enorme sucesso e aceitação de crítica e público. É algo que peca no cinema americano, que pensa que efeitos e produção exacerbada substituem uma boa história. Novamente, [•REC] é uma grata surpresa que nos diz que precisamos, cada vez mais, valorizar as produções que saem de outros países (em especial, do nosso Brasilzão), além dos enlatados da terra do Tio Sam.

Se você é um fã de filmes do gênero, [•REC] é um programa mais do que obrigatório. Não recomendo comprar refrigerantes e pipocas para assistí-lo, caso não queira ver seus quitutes jogados no chão, depois dos trinta minutos iniciais da fita. A sucessão de sustos é tão grande que, com certeza, marmanjos parecerão crianças, vendo seu primeiro filme de terror, com o dedão na boca. Depois, não diga que não avisei.

Nota: 8,2/10

Direção: Jaume Balagueró & Paco Plaza
Roteiro: Jaume Balagueró & Paco Plaza
Elenco: Manuela Velasco & Ferran Terraza & Pablo Rosso & David Vert & Jorge Serrano & Vicente Gil & Carlos Vicente
Estréia: Outubro de 2007
Gênero: Horror & Thriller
Duração: 80 minutos
Distribuidora: Filmax
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por Felipe Edlinger
27 de novembro de 2008
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