domingo, 13 de julho de 2008

[MovRev] Fim dos Tempos

(The Happening)

Dirigido por M. Night Shyamalan

M. Night Shyamalan sempre foi um gênio incompreendido. Depois de O Sexto Sentido, todos temiam que ele não conseguisse entregar outro trabalho tão intenso quanto seu filme de estréia em arrasa-quarteirões. Mesmo não tendo grande experiência (apenas dois filmes fracos no currículo), ele conseguiu, não só fazer o melhor filme de 1999, como um dos melhores suspenses de todos os tempos, além de mudar o rumo do cinema de suspense dali pra frente.

Porém, depois do sucesso arrasador da história do garotinho Cole Sear, que via gente morta, a desconfiança tomou conta dos filmes seguintes do diretor indiano, que foi criado nos Estados Unidos. O que pode parecer senso-comum é, na verdade, o simples pré-conceito que toma lugar ao se comparar obras menores com uma obra de arte. Com certeza, O Sexto Sentido ficará para sempre na memória dos que o assistiram, por outro lado, as outras obras de Shyamalan, nem tanto. Mas, nem por isso significa que seus outros filmes sejam ruins. Seria algo como comparar Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida com os outros três filmes da série. São todos excelentes, mas o primeiro merece medalha de ouro.

Corpo Fechado (2000) é um excelente filme sobre super-heróis, sombrio e cadenciado. E sombrio é o tema principal do diretor, como pode-se ver em Sinais (2002), um filme sobre fé que mostra uma invasão alienígena que se torna um excelente suspense pelo fato de não evidenciar a razão do temor das pessoas. Manter o assunto principal do filme fora de evidência, apenas em segundo plano é o forte de suas produções, como também acontece em A Vila (2004), outro filme muito bom que trabalha o lado psicológico do suspense. Até A Dama na Água (2006) é um primor de produção que foi mal interpretado pelo seu público-alvo e que, deveria ter sido visto como uma história de ninar, de acordo com o próprio Shyamalan. Se todos os filmes anteriores tivessem sido escritos, produzidos e dirigidos por algum outro profissional, provavelmente, a repercussão teria sido muito maior. O que sempre parece alavancar e ancorar suas produções é o famoso comentário "do mesmo diretor de O Sexto Sentido".

Por outro lado, tenho que concordar que, o que era para ser uma reviravolta nas manchetes sobre cinema, apenas colaborou ainda mais para a incerteza com relação aos próximos trabalhos do diretor. Fim dos Tempos, apesar de ser excelente na produção, não tem, especificamente, um roteiro adequado para as grandes multidões. É uma história que se daria muito bem como um conto sobre "o inexplicável" (na verdade, surgiu assim, como "The Green Effect"), porém, não como o roteiro de um filme para o verão norte-americano. É verdade que apenas o nome Shyamalan ainda atrai muitas pessoas aos cinemas, como eu, por exemplo, mas parece que essa fase acabou de terminar.

Fim dos Tempos tem um começo fabuloso, com cenas marcantes e fortes, sem nenhuma das sutilezas dos filmes anteriores. O problema é que a história não decola; é um filme com um excelente começo, nenhum desenvolvimento e um final previsível (depois das quatro primeiras produções, o povo ficou mais espertinho) para os filmes do diretor. Mesmo com efeitos bastante convincentes, a platéia não se anima com a história do ataque das plantas aos seres humanos.

De repente, em Nova York, as pessoas começam a se suicidar. Depois, na Filadélfia, depois, em Boston, até que todo o nordeste dos Estados Unidos parece ter sido vítima de uma estranha e terrível coincidência. Inicialmente pensado como um ataque terrorista, as pessoas se desesperam em busca de respostas, que nunca vêm. Elliot Moore (Mark Wahlberg) é um professor colegial que, junto com a esposa Alma (Zooey Deschanel) e o amigo Julian (John Leguizano), se encontra na mesma situação que milhões de norte-americanos: fugindo de algo que não pode se ver, muito menos saber o que é. Enquanto fogem dos focos dos supostos ataques terroristas, que depois descobrimos ser uma vingança das plantas com os seres humanos (elas liberam esporos no ar, que infectam as pessoas e liberam um instinto suicida), eles se juntam com outras pessoas que tentam fazer o mesmo, porém, sem a mínima certeza de até quando durará o horror invisível.

Outro equívoco do diretor foi a escolha do elenco para esse seu novo filme. Ok, Mark Wahlberg é um bom ator de ação, Zooey Deschanel é linda e graciosa, com uma voz muito sexy, e John Leguizano é, sim, um bom ator, independente do gênero que interprete. Porém, aqui, nenhum deles consegue ser expressivo para dar sustentabilidade a trama de Fim dos Tempos. Falta de qualidades artísticas ou um roteiro ruim? Creio que um misto dos dois. É difícil segurar as pontas de um filme, de um diretor que já contou com Bruce Willis e o então prodígio Haley Joel Osment (O Sexto Sentido), Bruce Willis, novamente, e Samuel L. Jackson (Corpo Fechado), Mel Gibson, Joaquin Phoenix e a gracinha Abigail Breslin (Sinais), a surpreendente Bryce Dallas Howard, mais uma vez Joaquin Phoenix, Adrien Brody e Wiliam Hurt (A Vila), e, novamente, Dallas Howard, e Paul Giamatti (A Dama na Água).

Não que Fim dos Tempos seja um filme muito ruim, pelo contrário, é uma obra que tem suas qualidades. Mas, infelizmente, dessa vez, será impossível compará-la com outra obra do diretor; não apenas com O Sexto Sentido, mas com qualquer outra, com exceção dos seus dois primeiros filmes, é claro. Talvez, daqui alguns anos o filme possa ser melhor compreendido, ou até entendido. Quem sabe?

O escritor/ produtor/ diretor pecou por fazer um filme muito "para ele" e não para seu público. E isso pode significar o final de sua credibilidade e sua carte blanche nos mega estúdios de Hollywood. Pessoalmente, espero que não, mas, depois de Fim dos Tempos, pode ser que fiquemos um tempo sem mais um filme "do diretor de O Sexto Sentido".

Nota: 5/10

Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: Mark Wahlberg & Zooey Deschanel & John Leguizano
Estréia: Junho de 2008
Gênero: Drama & Mistério & Suspense
Duração: 91 minutos
Companhia: Spyglass Entertainment
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por Felipe Edlinger
13 de julho de 2008
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