
Todo brasileiro que se preza, gosta de futebol. Todo brasileiro que se preza, ao menos ouviu falar dos terrores da ditadura nas décadas de 60, 70 e 80. E todo brasileiro que se preza, deveria ver este filme.
Cao Hamburger, diretor oriundo da televisão, realizou uma fábula que, com certeza, foi a realidade de vários brasileiros que hoje estão na casa dos 50 anos. Além de dirigir, ainda produziu e escreveu o roteiro, com a ajuda dos novos, porém, experientes Adriana Falcão e Bráulio Mantovani.
Esta é a história de Mauro (Michel Joelsas), um garoto de 12 anos que adora futebol, e que se encontra em uma das mais duras realidades da história do Brasil, o ano de 1970. Ao mesmo tempo que seus pais são perseguidos políticos, ele apenas se preocupa com uma coisa: a seleção brasileira conquistar o tricampeonato mundial de futebol, no México. Quando seus pais fogem de Belo Horizonte por causa da repressão da ditadura, ele é deixado na casa de seu avô, no Bairro do Bom Retiro, lar de italianos e judeus, na capital paulista. E enquanto ele se espera por seus pais, sem saber o que se passa verdadeiramente no país, ele vai se adaptando a sua nova realidade, fazendo amigos e torcendo para o Brasil.
O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias é um filme lento, é verdade, porém, muito sincero e de bom coração. É preciso saber se identificar com o filme porque ele não tem grandes apelos e truques para emocionar o telespectador. Porém, isso acontece eventualmente quando se "descobre" a história.
A ambientação é muito bem feita, até mesmo porque o Bom Retiro, em São Paulo não mudou muito desde a década de 1970. Com um padrão de filmagem gasto, ele se encaixa perfeitamente como um filme de época, que poderia ter sido feito em outra época.
É um misto de temáticas que compõem uma bela obra. Candidato brasileiro ao Oscar de 2006, chegou entre os 9 finalistas, mas ficou de fora da disputa, porém nada que tire os méritos da produção. Uma história de amizades, de confrontos entre gerações, credos e religiões. Uma história de amor em família e, sobretudo, pela pátria de nome Brasil, de várias nações e nacionalidades.
O garoto Michel Joelsas está muito convincente como o sereno e contido Mauro, personagem principal da trama, que encontra no futebol sua distração, enquanto os pais estão de "férias". Seja no campo, na cama, nos botões ou no álbum de figurinhas, o esporte da terra canarinho é sua válvula de escape frente a triste ausência que sente.
O elenco de crianças também garante os bons coadjuvantes, com destaque para a menina Daniela Piepszyk, que tem um olhar estranho e zombeteiro, ao mesmo tempo. Caio Blat, Simone Spoladore e Liliana Castro fazem parte da nova safra de bons atores do país, enquanto Paulo Autran (em uma ponta como o avô de Mauro) e Germano Haiut continuam mostrando que a velha guarda ainda tem muito para dar e mostrar.
Com drama e comédia na medida para um bom programa em família, não é um filme para quem espera grandes efeitos e muita ação. Muito menos para quem quer um filme fácil que deixa as emoções à flor da pele. Como o protagonista, é um filme contido, mas com muito coração. Moldado por uma trilha sonora simples, mas cadenciada e adequada, poderia ter sido a realidade de qualquer um de nossos pais.
Uma poesia de primeira grandeza, que não é óbvia em nenhum momento.
Nota: 8/10
Direção: Cao Hamburger
Roteiro: Cao hamburger & Adriana Falcão & Cláudio Galperin & Bráulio Mantovani & Anna Muylaert
Elenco: Michel Joelsas & Germano Haiut & Paulo Autran & Simone Spoladore & Eduardo Moreira & Caio Blat & Daniela Piepszyk
Estréia: Novembro de 2006
Gênero: Drama
Duração: 104 minutos
Distribuidora: Gullane Filmes
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por Felipe Edlinger
09 de julho de 2008
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por Felipe Edlinger
09 de julho de 2008
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