quarta-feira, 9 de julho de 2008

[CineBras] O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias

Dirigido por Cao Hamburger

Todo brasileiro que se preza, gosta de futebol. Todo brasileiro que se preza, ao menos ouviu falar dos terrores da ditadura nas décadas de 60, 70 e 80. E todo brasileiro que se preza, deveria ver este filme.

Cao Hamburger, diretor oriundo da televisão, realizou uma fábula que, com certeza, foi a realidade de vários brasileiros que hoje estão na casa dos 50 anos. Além de dirigir, ainda produziu e escreveu o roteiro, com a ajuda dos novos, porém, experientes Adriana Falcão e Bráulio Mantovani.

Esta é a história de Mauro (Michel Joelsas), um garoto de 12 anos que adora futebol, e que se encontra em uma das mais duras realidades da história do Brasil, o ano de 1970. Ao mesmo tempo que seus pais são perseguidos políticos, ele apenas se preocupa com uma coisa: a seleção brasileira conquistar o tricampeonato mundial de futebol, no México. Quando seus pais fogem de Belo Horizonte por causa da repressão da ditadura, ele é deixado na casa de seu avô, no Bairro do Bom Retiro, lar de italianos e judeus, na capital paulista. E enquanto ele se espera por seus pais, sem saber o que se passa verdadeiramente no país, ele vai se adaptando a sua nova realidade, fazendo amigos e torcendo para o Brasil.

O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias é um filme lento, é verdade, porém, muito sincero e de bom coração. É preciso saber se identificar com o filme porque ele não tem grandes apelos e truques para emocionar o telespectador. Porém, isso acontece eventualmente quando se "descobre" a história.

A ambientação é muito bem feita, até mesmo porque o Bom Retiro, em São Paulo não mudou muito desde a década de 1970. Com um padrão de filmagem gasto, ele se encaixa perfeitamente como um filme de época, que poderia ter sido feito em outra época.

É um misto de temáticas que compõem uma bela obra. Candidato brasileiro ao Oscar de 2006, chegou entre os 9 finalistas, mas ficou de fora da disputa, porém nada que tire os méritos da produção. Uma história de amizades, de confrontos entre gerações, credos e religiões. Uma história de amor em família e, sobretudo, pela pátria de nome Brasil, de várias nações e nacionalidades.

O garoto Michel Joelsas está muito convincente como o sereno e contido Mauro, personagem principal da trama, que encontra no futebol sua distração, enquanto os pais estão de "férias". Seja no campo, na cama, nos botões ou no álbum de figurinhas, o esporte da terra canarinho é sua válvula de escape frente a triste ausência que sente.

O elenco de crianças também garante os bons coadjuvantes, com destaque para a menina Daniela Piepszyk, que tem um olhar estranho e zombeteiro, ao mesmo tempo. Caio Blat, Simone Spoladore e Liliana Castro fazem parte da nova safra de bons atores do país, enquanto Paulo Autran (em uma ponta como o avô de Mauro) e Germano Haiut continuam mostrando que a velha guarda ainda tem muito para dar e mostrar.

Com drama e comédia na medida para um bom programa em família, não é um filme para quem espera grandes efeitos e muita ação. Muito menos para quem quer um filme fácil que deixa as emoções à flor da pele. Como o protagonista, é um filme contido, mas com muito coração. Moldado por uma trilha sonora simples, mas cadenciada e adequada, poderia ter sido a realidade de qualquer um de nossos pais.

Uma poesia de primeira grandeza, que não é óbvia em nenhum momento.

Nota: 8/10

Direção: Cao Hamburger
Roteiro: Cao hamburger & Adriana Falcão & Cláudio Galperin & Bráulio Mantovani & Anna Muylaert
Elenco: Michel Joelsas & Germano Haiut & Paulo Autran & Simone Spoladore & Eduardo Moreira & Caio Blat & Daniela Piepszyk
Estréia: Novembro de 2006
Gênero: Drama
Duração: 104 minutos
Distribuidora: Gullane Filmes
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por Felipe Edlinger
09 de julho de 2008
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