
Directed by Jason Reitman
Juno foi uma das felizes surpresas de 2007. Além de trazer o jovem, mas já mão-cheia Jason Reitman na direção, apresentou a roteirista Diablo Cody ao mundo e reconheceu em forma máxima a qualidade da interpretação de Ellen Page.
Diablo Cody é o pseudônimo de Brook Busey, uma linda moça, nascida em Chicago, que tem tudo para se tornar uma das roteiristas mais requisitadas de Hollywood (se já não é). Ela é ex-funcionária de uma agência de publicidade, stripper e atendente de tele-sexo. Conforme se cansava dos trabalhos, simplesmente mudava. Com mente fértil e descolada, escreveu um livro sobre suas memórias como stripper que foi um enorme sucesso nos Estados Unidos: A Year in the Life of an Unlikely Stripper. Então escrevey Juno, foi muito bem recebida no mundo do cinema e já alavancou mais três produções para o futuro próximo.
Juntando ao roteiro de Cody a direção certeira e irreverente de Jason Reitman, temos em mãos uma pequena obra-prima. Jason já tem certa experiência em documentários e curtas e, apesar da pouca idade (31 anos), vem de um filme muito elogiado pela crítica, Obrigado por Fumar. Foi um casamento profissional que pouco se vê em outras produções; aparentemente o que um escreve foi feito para o outro dirigir.
Juno (Ellen Page) é uma menina avançada para seu tempo, tanto que suas bandas favoritas são The Stooges, Patty Smith e The Runaways. Além de conhecer Gibsons e Fenders, sabe quem é Brahms, gosta de Dario Argento e muda sua opinião sobre a obra de Gordon Lewis, que achava estúpido. Garotas não sabem quem é Argento, muito menos Stooges e Patty Smith, e nem ao menos lembram de Thundercats (Go!!!).
Ela se encontra em uma situação inusitada quando se vê grávida do melhor amigo e paixão de adolescência (quase secreta), Paulie Bleeker (Michael Cera), um garoto tímido que perde sua virgindade com ela. Apesar de pensar, em primeira instância, em um aborto, ela decide carregar o peso da gravidez na adolescência e entregar o rebento para adoção. O que se vê depois é uma enxurrada de pensamentos novos e a mudanças de comportamento de alguém que pensava entender sobre tudo, mas que ainda usava meias listradas coloridas e colava posteres de atores na parede do quarto.
Ellen Page está formidável em seu papel, tanto que recebeu uma merecida indicação ao Oscar de melhor atriz em 2008. Ela encarna com maestria a adolescente sabichona que sê em uma encruzilhada, mas que pensa poder tirar tudo de letra, mesmo quando a realidade lhe mostra outro caminho. Nada mal para quem fez apenas uma ponta em X-Men, como Kitty Pride e estreou de verdade pós vários papéis menores) em Menina Má.com.
O filme é uma grande colagem de materiais, de fontes e recortes, a desenhos e superposição de imagens de muito bom gosto. Cheio de cores fortes para simbolizar a época da inocência da infância e adolescência, das descobertas por engano e dos pequenos erros, é todo emoldurado por elementos comuns durante todas as estações (e mudanças do estado interessante de Juno) mostradas durante a trama.
A essência do roteiro de Cody é uma linguagem rápida e fácil de ser compreendida, cheia de apelos visuais para mostrar, de maneira didática, como a protagonista realmente pensa. Também é forrado de metáforas para exemplificar as situações pelas quais Juno começa a passar, como quando, após saber da gravidez, ela aparece vestida com um moletom vermelho com capuz, andando por um rua escura cheia de árvores, como se fosse Chapéuzinho Vermelho perdida no meio de uma floresta de emoções.
Contando com diálogos espertos e com texto recheado com muito sarcasmo, o filme atraiu ainda mais a atenção dos adolescentes de plantão, mesmo que, normalmente, rejeitem o assunto tratado aqui. Sarcástico, porém, não ácido como os adultos fazem, mas um tanto inocente e involuntário, entregue de maneira magistral por Ellen Page. Tudo para ela é razão para uma piada bem colocada, com certa agulhada de sacanagem adolescente.
O filme foi concebido para ser cool, tanto que virou referência imediata nos Estados Unidos. Apenas para citar, o telefone de hambúrguer que Juno usa em seu quarto tornou-se uma das maiores febres do momento e vendeu como água em dias de verão.
A trilha sonora pseudo-alternativa compõe de forma perfeita as cenas do filme, de estação em estação do ano, como o diretor Reitman apresenta as várias fases da gravidez de Juno. Tudo está conectado, a interpretação dos atores, os elementos de cena, as cores do plano de fundo, e a melodia da ocasião. As belas músicas de Belle & Sebastian (que muita gente não gosta pela ausência de refrões pegajosos) e o folk rapidinho de Kimya Dawson são as principais atrações. É possível se deleitar somente com esses exemplos e ficar o dia todo com um sorriso maroto, simplesmente por escutá-las. No contexto do filme, é ainda melhor. A versão de Cat Power para Sea of Love é excelente para o fechamento, assim como a música de abertura de Barry Loius Polisar dita o ritmo do que ainda está por vir. Como se não bastasse tudo isso, ainda vem de quebra: Sonic Youth (o comentário direto de Juno sobre a banda é ótimo), Buddy holly, The Kinks e Velvet Underground.
Juno é um mergulho na mente dos adolescentes de maneira direta e, talvez, um pouco fantasiosa ao mesmo tempo. Porém, torna fácil compreender os confrontos internos quando o corpo e a mente deles vão mudando frente uma das coisas mais lindas que um ser humano pode fazer. As prioridades mudam com velocidade vertiginosa quando se vai percebendo as belezas da vida. Uma bela obra que vai fazer parte da cinemateca de muita gente.
Nota: 8.5/10
Felipe Edlinger
01 de maio de 2008
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