
Directed by David Yates
O quinto livro do mega-sucesso mundial Harry Potter é um dos mais longos e cansativos da série, na opinião da grande maioria dos fãs. A obra é focada na realidade dentro de Hogwarts e no cotidiano dos alunos durante o período letivo na escola de magia e feitiçaria; pouco contato com o mundo exterior e poucas grandes aventuras são explicitados durante toda a trama. Todo esse tempo é utilizado para compor e delinear um pouco mais alguns dos personagens coadjuvantes da série, como o Professor Severo Snape, e para aprofundar alguns questionamentos dos personagens principais.
Talvez seja por isso que o filme tenha ficado tão legal e, ao mesmo tempo, tão mais adulto, uma vez que a "criançada" tem que lidar com situações mais independentemente, assumir riscos e tomar decisões importantes que podem influenciar no futuro de todos. Resumir um livro de 700 páginas, que não contém tanta ação como as obras anteriores, ficou muito mais fácil do que ter que povoar um filme de pouco mais de duas horas de duração com todas as histórias e batalhas que estávamos acostumados a ver.
A repetição das discussões abordadas no livro poderia gerar uma obra cansativa, mas o que ocorre aqui é exatamente o contrário porque todo o excesso foi cortado. Na totalidade da obra, não parece que muito foi perdido porque informações que são, na prática, dispensáveis, não duram muito tempo nas cabeças dos leitores, nem dos telespectadores.
Nesta aventura, Harry, após o conflito com o senhor das trevas, Lord Voldemort, no quarto volume da série, quando Cedrico Diggory foi morto, tenta convencer a todos de que aquele-que-não-deve-ser-nomeado realmente voltou à vida. O Ministério da Magia, na figura do Ministro Cornélio Fudge, faz tudo a seu alcance para negar o fato, inclusive desmoralizar Harry Potter e Alvo Dumbledore. O garoto, ao lado de seus fiéis escudeiros, Ron Weasley e Hermione Granger, tem que aguentar as provocações e provações durante mais um ano escolar, com o peso e a desconfiança de todos que o cercam.
Em mais uma atitude desesperada do Ministério, Dolores Umbridge é nomeada nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Quando ela se recusa a ensinar magia prática aos alunos, Harry e mais alguns amigos resolvem treinar por conta própria, com Harry como professor, criando o "Exército de Dumbledore".
A cada dia que passa, os poderes de Lord Voldemort crescem e o que os espera no final é um grande embate entre as forças do bem e as forças do mal.
O bruxinho mais famoso da literatura e do cinema definitivamente entrou em uma fase mais sombria de sua vida, quando os poderes do mal vêm à tona e seu elo com o grande vilão se revela mais forte do que nunca. Todo o clima pesado e assustador do quinto livro de J.K. Rowling é repassado para este filme soturno e adulto, à seu modo. As aventuras deixam de ser meramente um entretenimento infantil, uma vez que as crianças que leram os livros praticamente cresceram juntas com os personagens centrais da trama e, hoje em dia, são adolescentes.
David Yates, diretor mais conhecido pelos seus trabalhos na televisão britânica, consegue capturar tão bem o clima da obra literária que já foi confirmado na direção dos próximos "O Enigma do Príncipe" (ano 6) e a primeira parte de "As Relíquias da Morte" (ano 7). A obra tem uma diferença muito grande se comparada aos trabalhos de Chris Columbus com os primeiros dois filmes, mesmo porque os primeiros livros também eram mais ingênuos. Seu trabalho muito se assemelha com a realização de Alfonso Cuarón, com "O Prisioneiro de Azkaban".
A trama é bem simples se comparada com os outros filmes da série, uma vez que nada de reviravoltas acontecem, é uma história bem linear, eficiente em mostrar a realidade do universo da magia e feitiçaria de Harry Potter e a ascensão dos poderes do mal de Lord Voldemort e dos Comensais da Morte.
Os efeitos especiais e coreografia continuam afiados e são inúmeras as cenas que nos fazem vibrar com a materialização de realidades somente imagináveis pela autora dos bestsellers. Os cenários e figurinos continuam fantásticos e a maquilagem permanece como um dos destaques da produção. Junto com a fotografia impecável (ainda mais por causa das locações), apenas qualificam a produção ainda mais como um ótimo entretenimento.
As crianças (não mais crianças porque algumas delas já se encontram na faixa dos 18 anos de idade) estão melhorando a cada produção e desenvolvendo cada vez mais seus dons artísticos e de interpretação. Daniel Radcliffe está novamente eficiente como Harry Potter, enquanto Rupert Grint está mais maduro e não mais caricato como o engraçado Ron Weasley, e Emma Watson está uma graça como Hermione Granger, uma vez que ela já é uma mocinha, ou melhor, uma bela adolescente, deixando transpirar um pouco mais de sensualidade para sua personagem, a eterna cdf, amiga do protagonista.
As figurinhas carimbadas, então, merecem apenas aplausos porque são poucas as produções que conseguem reunir tamanho elenco de feras no porte de Ralph Fiennes, que conseguiu dar a face do mal a Lord Voldemort, Gary Oldman, que personifica Sirius Black, padrinho de Harry, com paixão e coração, Michael Gambon, como o doce e poderoso Alvo Dumbledore, e Alan Rickman, sempre perfeito como o asqueroso e odiável Severo Snape.
Mas, apesar de todo esse esquadrão de "monstros" do cinema e teatro, ninguém tem como discordar que, se este filme tem um dono, essa pessoa é Imelda Staunton, intérprete da Professora Dolores Umbridge, grande responsável pela censura e pelo pesadelo instaurados em Hogwarts pelo Ministério da Magia. Dona de uma carreira respeitável com quase 70 filmes no currículo, nomeada ao Oscar e a mais de 30 prêmios, sendo ganhadora de mais de 15 deles, ela entrega uma performance impressionante e odiável, ao mesmo tempo, transformando seu personagem em um dos mais irritantes que já apareceram no universo de J.K. Rowling.
Ela consegue, com sua postura prepotente, com suas roupas rosas e cerâmicas de gatinhos na parece e, acima de tudo, com seu riso forçado e cínico, ser muito mais detestável do que o próprio Professor Snape, eterno carrasco de Harry e seus amigos.
Isso, sem contar que ela faz (boa parte do mérito é do roteiro, também) quase todos os outros personagens adultos do filme virarem figurantes de luxo, como Brendan Gleeson (Professor Alastor Moody), Maggie Smith (Professora Minerva), Julie Walters (Sra. Weasley), Jason Isaacs (Lucius Malfoy), Emma Thompson (Professora Trelawney), Warwick Davis (Professor Flitwick), Robbie Coltrane (Rúbeo Hagrid), Helena Bohan Carter (Bellatrix Lestrange), entre outros grandes do cinema e do teatro britânicos.
Mesmo não sendo tão bom quanto o terceiro e o quarto filmes da série, HP e a Ordem da Fênix é uma adaptação muito de parte da obra que vem cativando leitores de todas as idades em todos os cantos do globo. Resta agora a ansiedade da espera pela adaptação de "O Enigma do Príncipe" e "As Relíquias da Morte", dois livros de porte parecido, porém com muito mais história, ação e informação para serem transcritas. E, até onde vejo pelos livros, quase nada será descartável.
Nota: 7,5/10
Felipe Edlinger
21 de março de 2008
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