
- Eu, mesma!
- Oi... é o Fábio... lembra de mim?
- Oiiii, Fábio! Claro que lembro, como poderia esquecer! A gente se conhece a tanto tempo.
- Pois é, e põe tempo nisso!
- Verdade, uns 8 anos não é mesmo?
- Não, são mais do que 15. Depois disso, parei de contar.
- Parou de contar? Você contava há quantos anos a gente se conhecia?
- Bem, você sabe que você foi o grande amor da minha vida...
- Séééério??? Mentira...
- Ana Flávia! Você não lembra da festa de 15 anos da Laura?
- Laura? A Laurinha?
- Ela, mesma.
- Nossa, claro! Foi lá no Country Club, não foi? Demais!
- Pois então, você não lembra que eu disse que te amava naquela noite, na décima segunda música?
- Você estava falando sério?
- Não, Ana Flávia, eu adorava brincar com os sentimentos dos outros...
- Ah, bom...
- É claro que estava falando sério, Ana Flávia! Eu te amava perdidamente!
- Mas nós éramos muito novos, eu não sabia... Desculpa...
- Por mais piegas que possa soar, o amor não tem idade!
- ...
- E aquela vez, no terceiro colegial, que nós fomos ao cinema com o pessoal da escola, ver aquele romance que você queria?
- Que filme lindooooo! Nem consegui falar durante a sessão toda!
- Eu sei, cada lágrima que você derramava me partia o coração...
- Como você sabe que eu chorei naquele filme?
- Eu nem me lembro do filme direito, só tinha olhos pra você!
- Você ficou me olhando durante a sessão? Seu bobo...
- Ana Flávia, eu te amava!
- Séééério??? Mentira...
- Eu disse que te amava naquela tarde...
- Acho que me lembro... Você estava falando sério?
- Não entendo como você pode pensar desta maneira.
- Mas eu pensei que você só queria se aproveitar de mim porque eu estava emocionada... Desculpa...
- ...
- Lembro, também, que a gente entrou na faculdade juntos, lembra?
- Claro, Ana Flávia, lembro de cada festa que fomos, inclusive aquela no quarto ano.
- Verdade, aquela festa da Tequila, não foi?
- Essa mesma, você estava linda de mexicana!
- Ai, que vergonha... como você pode lembrar disso?
- Bem, eu também disse que te amava naquela noite...
- Nãããoooo... Naquela hora em que eu fui descansar atrás da barraca, não foi???
- Isso, mesmo! Queria tanto te beijar!
- Mas eu pensei que você estivesse bêbado... Desculpa...
- Ana Flávia, eu nunca havia bebido na minha vida, e você sabia disso...
- ...
- Águas passadas, daí nos formamos e eu fui pra Europa, e só voltei tempos depois.
- Eu lembro, encontrei com você em um bar, no centro da cidade, você tinha mudado bastante. Pra melhor, é claro! 'Tava de barba, bem arrumado.
- Obrigado. Lembro que conversamos muito naquele dia.
- Depois você me levou até em casa. Lembro que você estava namorando.
- Mas lembro também que eu disse que te amava, em frente ao portão da sua casa.
- Você estava namorando!
- Eu disse que ela não era nada pra mim, que minha vida não tinha significado sem você...
- Mas eu pensei que você ainda gostasse dela... Desculpa...
- Ana Flávia...
- Ei, e aquela história do seu noivado de três anos?
- Você, sempre você.
- Como assim?
- Não dá pra entender, eu desmancho um noivado de três anos, perto do casamento, largo tudo e vou correndo atrás de você e, pela quinta vez, disse que te amava... e você... nada...
- Era verdade?
- Como não poderia ser? Não sabia mais o que fazer...
- Mas eu pensei que você só queria afogar as mágoas... Desculpa...
- Ana Flávia, nunca vou te entender...
- ...
- ...
- ...
- ...
- Fábio...
- Oi, Ana Flávia...
- Acho que eu te amo!
- O quê?
- Eu te amo!
- Não, não ama, Ana Flávia!
- Claro que sim!
- Ana Flávia...
- Eu te amo! Agora vejo que fui uma tola por ter deixado você partir...
- Partir? Você me rejeitou por cinco vezes!
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo!!!
- A vida não é simples assim...
- Mas nós podemos simplificá-la, se quisermos, Fábio querido!
- Hoje, não creio nisso, Ana Flávia...
- Mas, Fábio...
- Preciso ir, Ana Flávia! Quem sabe a gente se esbarra por aí...
- Fábio, você não pode deixar um mero momento roubar nossa felicidade!
- Ana Flávia, aos 15 anos, você roubou minha inocência. Aos 17 anos, você roubou minha mente. Aos 20, você roubou meu coração. Aos 23, minha alma. E aos 26, minha vontade de viver. Não creio que haja mais alguma coisa para ser roubada...
- Eu juro por tudo o que é mais sagrado, EU TE AMO!!!
- Por favor, não comece...
- Quantas vezes vou precisar te dizer? Mais cinco?
- Você está dizendo a verdade?
- É claro que sim, meu amor!!! Eu te amo!!!
- Bom, Ana Flávia, estou indo... Um abraço...
- Você não escutou o que eu disse???
- Claro que sim, como não poderia...
- E então, vamos ficar juntos?
- Não...
- Como não, e o que eu acabei de dizer??? Não entendo...
- Mas eu pensei que você não tinha falado com o coração... Desculpa...
Felipe Edlinger
27 de junho de 2007
(Inspirado no grande L. F. Veríssimo, se é que os textos publicados na internet são dele...)