terça-feira, 23 de dezembro de 2008

[MovRev] Eurotrip - Passaporte para a Confusão

(Eurotrip)

Dirigido por Jeff Schaffer

Filmes de/ para adolescentes têm basicamente o mesmo padrão: mulheres, bebidas e aventuras sem noção. Da "clássica" série Porky's até a recente American Pie, os ingredientes são, quase sempre, os mesmos. E Eurotrip não foge à regra! E, também, não foge à regra de conter muitas cenas de enorme mau gosto, mas muito engraçadas.

Primeiramente, sou meio suspeito por ter gostado deste filme, uma vez que coincidiu com minha primeira aventura com uma mochila nas costas. Mas, de qualquer maneira, Eurotrip é um filme que, apesar dos pesares, tem um toque cômico muito latente. Ou melhor, pulsante.

Resumidamente, Eurotrip é mais um absurdo do cinemão americano, unicamente por representar (propositadamente) a visão norte-americana (generalizando aqui, por favor!) do resto do planeta, em especial a Europa, como explicitado pelo próprio título da produção. As piadas são tão estereotipadas que os mais conservadores poderiam até vir a querer proibir a exibição do filme. Mas que são engraçadas, ah, são muito engraçadas.

Assim como as piadas sobre o Brasil, e qualquer outro país do mundo, foram elevadas ao extremo na série animada Os Simpsons, que continuou fazendo sucesso, mesmo com os protestos de políticos e ONGs, Eurotrip faz graça com os países mais importantes da Europa. Para os quatro amigos aventureiros que vão para o antigo continente, os ingleses são todos bêbados e hooligans (aqueles torcedores fanáticos que mais querem brigas o tempo todo, do que realmente torcer), os alemães são adoradores de Hitler, os franceses vivem em praias de nudismo, os italianos são frutas (sim, no sentido figurado da palavra), os holandeses só pensam em sexo e drogas (é claro que a inspiração foi a lindíssima Amsterdã), e o leste europeu tem o câmbio mais favorável do planeta para os americanos, algo do tipo um centavo para alguns milhões. E, como não poderia faltar, eles acreditam que a Europa é um "ovo", sendo que Berlim ficaria nos quintais de Londres (!), ou ainda que um centavo de dólar americano seria capaz de comprar um hotel em Bratislava, na Eslováquia.

Scott (Scott Mechlowicz) é dispensado pela namorada Fiona (Kristin Kreuk) no dia da formatura. Depressivo, ele descobre (de uma maneira hilária) que seu correspondente alemão é, na verdade, uma garota, pela qual ele se apaixona. Sem pensar duas vezes, ele e seu amigo Cooper (Jacob Pitts) viajam para a Europa para se encontrar com Mieke, sua amada alemã. No meio do caminho, eles se encontram com os amigos gêmeos Jamie (Travis Wester) e Jenny (Michelle Trachtenberg), que mochilavam por lá, durante o verão. O que parecia ser apenas uma viagem entre amigos se torna uma verdadeira aventura quando eles, para chegar até Mieke, passam por Londres, Paris, Amsterdã, Bratislava, Berlim e Roma.

Eurotrip conta com um grupo bacana de jovens atores, não soberbos, mas bacanas, que dá conta do recado como os adolescentes americanos, sedentos por sexo e diversão sem medidas, que partem em uma aventura pelo desconhecido.

O quarteto principal é formado por Scott Mechlowicz (o Scott mencionado na trilha sonora), que estrelou os bons Quase um Segredo (2004) e Poder Além da Vida (2006). Seu parceiro cômico, o endiabrado (e tarado) Cooper é interpretado por Jacob Pitts, que esteve recentemente em Across the Universe (2007) e Quebrando a Banca (2008). Travis Wester (o nerd bobão do filme), por sua vez, ficou pulando de seriado em seriado, sem engajar em nada por muito tempo. E o destaque da trupe, a gatíssima Michelle Trachtenberg é, com certeza, mais conhecida como a irmã mais nova, Dawn, da caça-vampiros Buffy (Sarah Michelle Gellar). Esteve em Inspetor Bugiganga (1999), aos 14 anos, Sonhos de Gelo (2005), a tranqueira Natal Negro (2006), entre outras obras menos interessantes (ainda), o que prova que beleza, realmente, não é tudo.

No corpo de coadjuvantes, a linda Lana Lang do seriado Smallville, Kristin Kreuk, faz uma ponta minúscula, mas muito sensual. O sempre engraçado (e ex-jogador violento de futebol) Vinnie Jones, encarna um papel perfeito para ele: o de um hooligan inglês, torcedor do Manchester United. E até Matt Damon aparece, como um vocalista de banda pegador, em uma ponta sem propósitos, mas bacana!

A trilha sonora é uma beleza a parte, contando com nomes relevantes, desde Wakefield e Jet até Frankie Goes to Hollywood e os franceses do Chapeaumelon. Isso, sem contar com os engraçadinhos do Bloodhound Gang, a tecneira do The Chemical Brothers e a baladinha do Whiskeytown. Destaque para 99 Red Balloons (versão da canção de Nena, em alemão e inglês, pelo ótimo Goldfinger) e Donna Summer, com o hit Hot Stuff, que garante um dos momentos mais engraçados do filme. Enquanto isso, a trilha sonora criada especialmente para o filme, Scotty Doesn't Know (algo como "Scotty não sabe", uma alusão ao fato do personagem principal estar sendo traído pela namorada Fiona), da desconhecida banda Lustra, além de sua versão remix, se revelam músicas de pegada grudenta, que dificilmente são esquecidas.

O trio de amigos Jeff Schaffer, Alec Berg e David Mandel, faz um ótimo trabalho de comédia em Eurotrip, na direção e na roteirização. Também, com a experiência desses camaradas, não é muito provável que façam um trabalho ruim. Schaffer foi produtor e roteirista da série Seinfeld. Berg tem o mesmo no currículo. E Mandel também conta com a mesma experiência, com exceção de que ele escreveu mais de 60 episódios do Saturday Night Live. Com uma vivência dessas, só poderia ser produzido e roteirizado um filme de enormes bobeiras mas de, também, enorme diversão.

Apesar dos estereótipos e do besteirol desenfreado, Eurotrip é diversão gratuita, com direito a muitas risadas de bônus. Ainda mais porque o próprio filme não se leva muito a sério, em nenhum momento. E, ainda por cima, bate (ou faz bater) aquela senhora vontade de pegar uma mochila, colocar nas costas, definir um destino e cair na estrada, sem saber o que está por vir. Principalmente para quem já fez seu próprio Eurotrip um dia!

Nota: 7,1/10

Direção:
Jeff Schaffer
Roteiro: Alec Berg & David Mandel
Elenco: Scott Mechlowicz & Jacob Pitts & Kristin Kreuk & Michelle Trachtenberg & Travis Wester & Vinnie Jones & Jessica Boehrs
Estréia: Fevereiro de 2004
Gênero: Comédia & Aventura
Duração: 93 minutos
Distribuidora: DreamWorks SKG
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por Felipe Edlinger
23 de dezembro de 2008
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

[MovRev] Madrugada Muito Louca

(Harold & Kumar Go to the White Castle)

Dirigido por Danny Leiner

Sabem aqueles filmes que são ruins mas que a molecada e, eventualmente, uma penca de adultos, gosta, de tão absurdo que parecem ser (e são)? E que, também eventualmente, acabam virando cult? Pois bem, a primeira história de Harold e Kumar é exatamente isso. Não que seja uma referência cinematográfica, mas, com certeza, se tornou uma indicação de "filme idiota, mas bacana" que você recomenda aos amigos.

A indústria americana é muito conhecida por investir altas somas de dinheiro em produções sem graça e sem apelo algum. Muitas dessas produções nem ao menos atingem os cinemas e acabam restritas as prateleiras das locadoras. Porém, ninguém contava com a simpatia (e empatia) dos dois sempre-pontas-em-filmes-adolescentes John Cho e Kal Penn. Como o próprio filme diz, um é aquele japonês de American Pie, e o outro é aquele indiano de O Rei da Festa.

A trama é a mais absurda das absurdas, gerando situações tão esdrúxulas que qualquer um poderia tecer comentários horrendos sobre a qualidade (ou falta de) da produção. Por outro lado, superando as expectativas, os dois atores principais seguram as pontas da trama muito bem e garantem uma série de risos incontroláveis pela história toda. Repleta de piadas duvidosas, tem todos os quesitos para deixar os adolescentes morrendo de rir.

Harold (John Cho) é um descendente de coreanos que trabalha arduamente enquanto seus colegas de escritório apenas zombam de sua cara e o fazem trabalhar ainda mais. Kumar (Kal Penn) é um descendente de indianos, parte de uma família de médicos, que não dá a mínima para a profissão que seu pai quer que ele siga. Colegas de apartamento, eles estão mais interessados em drogas e curtição do que qualquer outra coisa. Fãs de comida fastfood, eles decidem, uma noite, comer na lanchonete White Castle. Porém, eles não conseguem encontrar nenhuma pela cidade e saem, noite a fora, em busca do "santo graal" das lanchonetes. E o que a noite lhes reserva, apenas aumenta ainda mais a fissura pelos hambúrgueres do "castelo branco".

Mesmo que sejam coadjuvantes na maioria dos filmes que participam, John Cho e Kal Penn já demonstraram que podem ser atores de primeira categoria. John Cho fez o ótimo (e desconhecido) Better Luck Tomorrow, mas ainda assim é muito mais conhecido pelo seu papel de John "Milf Guy" nos três primeiros episódios da série American Pie. Kal Penn, por sua vez, depois de ser coadjuvante de Ryan Reynolds (o futuro Deadpool no filme solo do Wolverine) em O Rei da Festa, estrelou o bacana Nome de Família, além da continuação do filme de Van Wilder. Como a vida não é fácil em Hollywood, ambos continuam fazendo os tradicionais filmes-tranqueira como Epic Movie. Ao menos, John Cho ganhou o papel de Hikaru Sulu, na reinvenção da série Jornada nas Estrelas.

Se os protagonistas são oriundos de filmes adolescentes, o mesmo pode-se dizer dos coadjuvantes, quase que todos de "clássicos" dos últimos 10 anos, como David Krumholtz, (10 Coisas que Odeio em Você), Eddie Kaye Thomas (American Pie), Ethan Embry (The Wonders - O Sonho Não Acabou, Mal Posso Esperar), Ryan Reynolds (O Rei da Festa) e Neil Patrick Harris (que interpreta a si mesmo!).

O roteiro é de Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg (afe!), que não fizeram praticamente nada além de escrever, dirigir e produzir os três filmes da série Harold and Kumar (dois longas e um curta-metragem). Danny Leiner dirige este primeiro longa e, ao menos, faz um trabalho melhor do que a outra bobeira de sua carreira, o idiota Cara, Cadê Meu Carro?. Tudo o que falhou em seu primeiro filme, ele conseguiu melhorar aqui, até mesmo porque não havia o peso de celebridades como Ashton Kutcher, Sean William Scott e Jennifer Garner, que à época ainda não eram estrelas do cinemão. Depois, o diretor voltou para os episódios de pequenos seriados de televisão, dos quais ele saiu para dirigir esses dois filmes. Parece que não conseguiu muito com suas experiências...

Talvez com os efeitos especiais mais toscos dos últimos filmes de comédia, o importante não é a qualidade, mas sim o quão aderente a produção é ao ambiente e mundo de Madrugada Muito Louca. Ou seja, nada pode ser extremamente bem feito, primeiro porque não combinaria com o filme e com os personagens e, segundo, bem, segundo porque os produtores com certeza não tiveram muita grana disponível para a produção, mesmo.

A trilha sonora é bem no estilo da molecada que assiste produções como esta. Algumas composições de Ali Dee, uma aparição de Black Eyed Peas e bons remembers com Nicki French. Com rap, hip hop e algumas músicas saudosistas, o clima dos maconheiros de plantão está garantido, estejam eles "doidões" ou "na secura".

Falar sobre as maquiagens e figurinos é um trabalho hercúleo. A categoria duvidosa da produção, como já mencionado, comanda o clima das aventuras dos dois amigos, deixando a trama ainda mais engraçada e non-sense. De acordo com a intenção do diretor, segundo ele próprio. O guaxinim de pelúcia, o caipira com furúnculos e até mesmo as representações dos sonhos de Kumar com um saco de maconha são tão absurdos que é impossível não cair na gargalhada. Claro, se seu nível de humor der margem para tal.

Algumas cenas já são antológicas para os adoradores de filmes B, no padrão Harold e Kumar, é claro! Entre as já citadas acima, pode-se destacar a cena em que Neil Patrik Harris (Tal Pai, Tal Filho) se diverte com prostitutas e cocaína em um carro em movimento, ou ainda quando a dupla fica totalmente fumada e pegam carona em uma cheetah. E como não poderia faltar, as cenas escatológicas, tão constantes nas produções adolescentes de hoje em dia, estão presentes durante toda a trama. E, óbvio, as piadas preconceituosas também recheiam a trama, sem esquecer das mulheres nuas e referências à drogas.

Madrugada Muito Louca é uma referência direta a Férias Frustradas, com Chevy Chase. Não é o mesmo primor de humor, nem chega a ser um clássico, mas também é uma odisséia por um McGuffin, como diria Spielberg. É a busca pelo objeto desejado, pela meta a ser batida. Harold e Kumar são os Indiana Jones dos perdedores e maconheiros.

A fita foi tão bem recebida no mercado norte-americano que ganhou uma continuação do mesmo nível, em 2008. Tosca, absurda e engraçada. Não tão "inovadora" quanto o original mas, com certeza, com momentos tão hilários quanto. Para os padrões de Harold e Kumar, é claro!

Nota: 6,6/10

Direção: Danny Leiner
Roteiro: Jon Hurwitz & Hayden Schlossberg
Elenco: John Cho & Kal Penn & David Krumholtz & Ethan Embry & Eddie Kaye Thomas & Ryan Reynolds & Christopher Meloni & Neil Patrick Harris
Estréia: Julho de 2004
Gênero: Aventure & Comédia
Duração: 88 minutos
Distribuidora: New Line Cinema
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por Felipe Edlinger
22 de dezembro de 2008
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domingo, 21 de dezembro de 2008

[MovRev] Uma Noite no Museu

(Night at the Museum)

Dirigido por Shawn Levy

Ben Stiller sabe como agradar seu público. De vez em quando, é verdade que ele dá uma pisada na bola, mas são raras as vezes em que algum trabalho dele não é bem avaliado pelos adultos e, em alguns casos específicos, pelas crianças. Uma Noite no Museu também não é um desses casos. Muito pelo contrário, Uma Noite... é um daqueles filmes que encanta gregos e troianos.

Tanto adultos, quanto crianças, facilmente se maravilham com este conto de natal moderno e surpreendente. Na verdade, a trama de Uma Noite no Museu já era ago que fazia parte do subconsciente de todos nós, com uma chama acendida pelos programas de televisão e livros de história. Imagine se tudo o que estivesse em um museu pudesse ganhar vida em algum momento? Surpresa, medo, espanto. Os sentimentos que temos ao visitar um lugar como esse são amplificados ao extremo. Sonho? Aqui se torna realidade!

A grande sacada do roteiro de Ben Garant e Thomas Lennon foi exatamente esta veia de curiosidade e sonho que permeia nossos pensamentos. Quem nunca se imaginou vendo mundos que já não mais existem ou interagindo com animais há muito extintos? Átila - o Huno, dinossauros, felinos africanos, personagens da história do mundo, deuses egípcios, humanos pré-históricos, todos fazem parte de Uma Noite no Museu, com suas características, excentricidades e, claro, com a capacidade de nos deixar estupefatos. A idéia não é nova e desde o início do cinema já vem fazendo a cabeça dos espectadores, desde a antiga série O Elo Perdido, até as aventuras do meu herói favorito, Dr. Henry Jones Junior.

Os efeitos especiais são um dos grandes responsáveis pelo sucesso imediato do filme (e, também, por já garantir uma continuação para 2009). Se a tecnologia de CGI ajudou a recriar mundos perdidos e situações impossíveis, chegando ao ápice com Parque dos Dinossauros, em Uma Noite no Museu, eles fazem o trabalho de criar grande parte dos coadjuvantes da trama. Porém, sem deixar de ser apenas um suporte para a eficiente história e os competentes atores de verdade.

Larry Daley (Ben Stiller) é o pai do pequeno Nick (Jake Cherry). Separado da mulher Erica (Kim Raver), ele é um fracasso profissional que vive trocando de empregos, mesmo contra sua vontade. Para não decepcionar mais uma vez o filho, ele aceita o emprego como guarda noturno no Museu de Arte Natural de Nova York, onde substituirá os três guardas noturnos que se aposentaram: Cecil (Dick Van Dyke), Gus (Mickey Rooney) e Reginald (Bill Cobbs). Porém, o que parecia um trabalho simples se transforma na maior aventura de sua vida, quando tudo o que existe dentro do museu começa a tomar vida durante a noite.

Ben Stiller está eficiente, como sempre, como o pai desesperado em conseguir um emprego para não perder a confiança do filho de 8 anos de idade. Ele manda muito bem interagindo com os efeitos especiais, com os animais de verdade (o macaco é impagável) e, também, com os bons coadjuvantes. É o Ben Stiller de sempre, engraçado naquilo que ele sabe fazer de melhor, comédia gratuita e inocente. Apesar de que, apenas para efeito de comentário, em qualquer tipo de comédia, ele faça um bom papel, das escatológicas como Quem Vai Ficar com Mary? até as excêntricas como Os Excêntricos Tenembaums.

Os bons atores que suportam a trama garantem que o talento cômico de Stiller mantenha o padrão de sempre. Owen Wilson está hilário no papel do cowboy da época das diligências; aliás, ele tem uma presença tão bacana que sua aparição de alguns segundos se transformou em co-estrelante, com direito a diversas cenas. Robbin Williams mostra que sempre terá a veia da comédia como o Presidente Roosevelt feito de cera. O trio Dick Van Dyke, Mickey Rooney e Bill Cobbs nos dão um grato prazer em ver grandes atores em sua velhice e ainda tendo presenças marcantes em obras protagonizadas por outros astros das novas safras. Carla Gugino esbanja uma leveza sexy que poderá ser vista, muito melhor aproveitada, na megaprodução Watchmen. Como curiosidade, Paul Rudd, o Michael da série F.R.I.E.N.D.S., faz uma ponta como o padrasto do filho de Ben Stiller.

A produção do longa ficou por conta de Chris Columbus, diretor dos dois primeiros Harry Potter, Uma Babá Quase Perfeita, os dois primeiros Esqueceram de Mim, e o clássico oitentista Uma Noite de Aventuras. Com um padrão elevado de qualidade em seus filmes, Chris Columbus garantiu o estado da arte na integração de efeitos especiais e atores nesta produção.

Shawn Levy, por sua vez, oriundo de diversos seriados americanos de segunda mão, até os anos 2000, comandou comédias engraçadinhas, como Recém Casados, com Ashton Kutcher e Brittany Murphy, Doze é Demais, com Steve Martin, e a recente repaginação de A Pantera Cor de Rosa, com o mesmo Martin, além de Kevin Kline, Jean Reno e Beyoncé Knowles. Com o sucesso garantido com Uma Noite no Museu, ele ganhou carta branca para manter o padrão na continuação, a ser lançada em 2009, como já mencionado. Sem contar que já tem mais quatro produções engatilhadas até 2010. Nada mal.

E tudo culminou para que este bom conto infantil (ou nem tão infantil assim). encantasse as platéias do mundo todo. Lembro-me da primeira vez em que vi o trailer de Uma Noite no Museu e como isso me fez sonhar. Os olhos arregalaram, a boca se entreabriu e não pude deixar de me imaginar como criança novamente, com aquelas brincadeiras solitárias ou com os amigos, de forte apache, mocinho e bandido, dinossauros, super-heróis, entre tantas outras. É bom ver que, também, algumas vezes, a fantasia vira realidade, e não somente o contrário. E isso me faz agradecer cada vez mais a capacidade do cinema em dar vida a nossos sonhos.

Nota: 6,9/10

Direção: Shawn Levy
Roteiro: Robert Ben Garant & Thomas Lennon
Elenco: Ben Stiller & Carla Gugino & Dick Van Dyke & Mickey Rooney & Bill Cobbs & Jake Cherry & Ricky Gervais & Robin Williams & Steve Coogan & Owen Wilson
Estréia: Janeiro de 2007
Gênero: Ação & Aventura & Comédia
Duração: 108 minutos
Distribuidora: 20th Century Fox
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por Felipe Edlinger
21 de dezembro de 2008
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sábado, 13 de dezembro de 2008

[MovRev] Vamos Nessa

(Go)

Dirigido por Doug Liman

O Sr. Doug Liman já havia ganhado meu respeito, há muito tempo, por este Vamos Nessa. Ele pode ter se mostrado ao mundo no divertido e cool Swingers - Curtindo a Noite, de Jon Favreau (outro fodão atual - posso falar isto aqui? Ah, foda-se...), mas foi este parte filme adolescente, parte road movie, parte comédia, que conquistou um lugar de prestígio em meus top movies. Mesmo os filmes mais recentes de Liman, como Sr. e Sra. Smith, a trilogia Bourne e Jumper, apesar de mega-produções, não respiram o mesmo ar bacana deste terceiro trabalho do diretor nova-iorquino.

Com um roteiro coeso e muito bem amarrado e, ao mesmo tempo, facílimo de ser assimilado, mesmo com inúmeras idas e vindas, a história prende a atenção e, mais, o tesão de qualquer um que ainda tenha a alma jovem e sede por aventuras, independente da idade. Vamos Nessa é uma aventura romântica para o novo milênio, onde a odisséia injeta doses cavalares de adrenalina diretamente no cérebro e no coração de cada um de nós, sem deixar, em nenhum momento de ser sexy. É a alma aventureira, que reside em cada um de nós, que fala mais alto quando vemos a evolução das histórias de Ronna, Claire, Simon, Adam & Zack, entre outros.

Vamos Nessa é um conjunto de três histórias, que envolvem diversos amigos em uma série de casos urbanos inesperados e que vão, no decorrer da trama, se interligando. Tudo começa com Ronna (Sarah Polley), uma atendente de supermercado que trabalha demais e não tem dinheiro para pagar o aluguel, o que a leva a fazer de tudo para não ser despejada. O que nos leva a Simon (Desmond Askew), amigo de Ronna e Claire (Katie Holmes), um britânico traficante pé-de-chinelo, que também trabalha no mesmo supermercado, e que quer ir para Las Vegas no feriado, com os amigos. Ao passar seu turno para Ronna, ele se mete em diversas furadas, deixando seu posto como traficante local descoberto. O que nos leva a Adam (Scott Wolf) e Zack (Jay Mohr), dois atores de novela, que passam a colaborar junto a polícia em uma operação anti-drogas.

Apesar da trama bem definida, Doug Liman conseguiu uma cartada altíssima, como o havia feito em Swingers - Curtindo a Noite, com a presença de um elenco de primeira grandeza, em sua maioria, de novatos já experientes, como Sarah Polley, Timothy Olyphant (um dos bandidos mais bacanas dos últimos anos), o sempre "quinteto" Scott Wolf, Jay Mohr, Taye Diggs, Brecken Meyer, e a namoradinha de todos, a eterna Joey Potter da série adolescente Dawson's Creek, Katie Holmes. As interpretações de todos garantem momentos de descontração, sangue fervendo, hormônios à flor da pele e, acima de tudo, risadas, muitas risadas.

Para os que são mais irrequietos, é impossível não se ver na pele de, ao menos, um dos jovens mostrados na trama. Ou, ao menos, desejar estar na pele de um deles. Além da provação do dia a dia, cada um deles transpira diversão incondicional, que precisa estar presente em nossa vida, independente das dificuldades que encontramos a cada esquina. Vamos Nessa concretiza o que muitos dizem que "alguns momentos podem valer por uma vida inteira". É vero. É simplesmente viver bem, pensar no futuro, mas fazer algumas loucuras para poder dizer que a estadia por aqui não foi apenas por acaso. E, no final, acabam se transformando em histórias para os netos, também.

Doug Liman continua eficiente e magistral como vem sendo há bons dez anos. A edição impecável faz com que a trama gire com uma fluidez que poucos diretores conseguem, entre eles o Sr. Tarantino, o Sr. Rodriguez e o Sr. Ritchie. As cenas rápidas, juntas com as piadas e o humor ácido freqüente, acentuados pelas inúmeras referências pops, geram cenas memoráveis, típicas dos filmes do diretor. Que, aliás, praticamente passam a fazer parte da cultura pop atual.

Mas a direção de Liman não seria completa sem o excelente primeiro trabalho do roteirista John August, que viria a escrever Titan A.E. e os dois filmes das Panteras, e iniciaria uma parceria de sucesso com o excêntrico e sempre tarimbado Tim Burton em Peixe Grande, e que continuaria no novo A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver e no vindouro Frankenweenie.

Como não poderia deixar de ser, outro ponto forte da produção, tradicional nos filmes de Liman, é a excelente e agitada trilha sonora, que dita o ritmo de, praticamente, toda a trama. Quando os atores não sustentam alguma cena, a audição garante que a peteca não caia e que a qualidade permaneça nos padrões DL. Apenas para citar algumas imperdíveis, temos Steal My Sunshine (LEN), Believer (BT), Good to be Alive (DJ Rap), To All the Lovely Ladies (Goldo), Cha Cha Cha (Jimmy Luxury - ótima!), e Magic Carpet Ride (com um remix ótimo de Philip Steir, com as falas originais do Steppenwolf). Facilmente, um CD para se manter no carro por muitos anos e para ser tocado sempre que a perseguição pela balada começar.

Em minha singela opinião, Vamos Nessa já é um neo-clássico cult, afinal de contas, tem tudo aquilo que precisa: trama, personagens, situações, música, seqüencias de tirar o fôlego., diálogos marcantes. É para ontem, hoje e amanhã. Ponto final. E, também, para mudar a concepção daqueles que não acreditam que a vida começa às 3h da manhã.

Nota: 8,7/10

Direção: Doug Liman
Roteiro: John August
Elenco: Katie Holmes & Sarah Polley & Desmond Askew & Nathan Bexton & Scott Wolf & Jay Mohr & Timothy Olyphant & William Fichtner & &
Estréia: Abril de 1999
Gênero: Comédia & Thriller
Duração: 100 minutos
Distribuidora: Columbia Pictures
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por Felipe Edlinger
13 de dezembro de 2008
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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

[MovRev] Grease - Nos Tempos da Brilhantina

(Grease)

Dirigido por Randal Kleiser

Grease foi um filme que marcou época e ninguém discorda disso. Tanto que serve, até hoje, como tema para festas de colégio e festas à fantasia. A idolatria de Grease e outros filmes do gênero influenciou gerações de apaixonados pela eterna década de 1950, com a visão de inocência e petulância, característicos da época.

Parte integrante da cultura pop desde a década de 1970, ainda forte nos dias de hoje, as referências ao filme podem ser vistas em todos os lugares, desde parques de diversão à penteados, de saias prendadas e jaquetas clássicas a carrões envenenados e coloridos. Até mesmo uma lista de seriados enlatados derivou da (s) moda (s) de Grease.

A verdade é que Grease não é o primeiro nem o último filme a abordar a mesma temática, mas, sob diversos aspectos, é único. Lembra, em muitos Lords of Flatbush (1974), com Sylvester Stallone, assim como deve ter sido inspiração para Cry Baby (1990), com Johny Depp. Fez tanto sucesso, que ganhou uma continuação em 1982, com Michelle Pfeiffer, em seu primeiro papel de destaque no cinema, porém sem nenhuma relevância e conseqüentemente, sem o mesmo glamour e repercussão do original.

Grease conta a história de Danny Zuko (John Travolta) e Sandy Olsson (Olivia Newton-John), um casal de adolescentes, que se conhecem na praia, e se apaixonam perdidamente. Ele é o mandachuva de uma típica "gangue" de adolescentes dos anos 1950, ela é uma estudante de intercâmbio da Austrália. Pensando que o verão era tudo que tinham, eles se entregam um ao outro. Porém, por uma virada do destino, ela fica nos EUA e vai para Rydell High, a mesma escola em que Zuko estuda. Quando chega lá e reencontra Zuko, eles passam por uma fase de transformação, ela em se encaixar no novo cenário, ele em continuar sendo o líder descolado dos T-Birds, sem demonstrar que está apaixonado.

Os números musicais, as danças coreografadas e a seqüencia musical excelente (o CD é ótimo!) criaram uma referência eterna para músicas inocentes e de época. A clássica abertura em desenho animado é extremamente inspirada e adequada para a representação da época, transcrevendo com graça e humor a trama do filme, ao som de Frank Valli, com a dançante música-tema do filme.

Os grupos colegiais dos T-Birds e das Pink Ladies são um dos pontos característicos da produção, que deixaram os meninos e meninas alucinados pelo visual icônico dos personagens. As roupas de couro preto, os jeans apertados, os bad boys, os carros com rabo de peixe, os rebolados inconfundíveis, os penteados a la Barrados no Baile. Não tem como confundir, é Grease.

As músicas eram (e continuam sendo) tão contagiantes e marcantes que geraram inúmeras versões e adaptações, influenciando uma série de novas bandas e ritmos. Até mesmo inusitadas gravações apareceram, como a versão para We Go Together, da conhecida banda de ska, Less Than Jake, com um ritmo mais acelerado e pesado para a música de fechamento do filme.

Entre os grandes sucesso estão a própria Grease, a bacanérrima Summer Nights, interpretada por Travolta e Newton-John), Hopelessly Devoted to You, Look at Me I'm Sandra Dee, You're the One I Want, Greased Lightining, e a ótima e já citada We Go Together, todas escritas especialmente para o longa-metragem. Isso sem contar com as clássicas Love is a Many Splendored Thing, Blue Moon, La Bamba e Whole Lotta Shakin' Goin' On. Um Show!

Grease foi indicado para inúmeros prêmios nos EUA, de melhores atores à melhor filme, porém sem ganhar nada de importante, o que não impediu a produção de cair nas graças do público e virar um sucesso imediato e, praticamente, imortal. Custou pouco mais de 6 milhões de dólares e arrecadou algo em torno de 360 milhões, em feito para a época. Por muito tempo ficou atrás apenas de Tubarão (1975) e o primeiro Star Wars (1977), em termos de arrecadação de bilheteria.

O diretor Randal Kleiser saiu da morosidade dos trabalhos para TV (entre eles, alguns capítulos da série Starsky & Hutch) para comandar o que seria um de seus maiores sucessos. Grease (1978) antecedeu o estrelato de Brooke Shields em A Lagoa Azul (1980) e a aventura adolescente espacial O Vôo do Navegador (1986). Depois disso, o diretor não teve mais os repentes de sucessos de seus anos iniciais, sendo responsável por obras descartáveis como Caninos Brancos (1991) e a comédia Querida, Estiquei o Bebê (1992).

A adaptação da obra da Broadway de 1972 (sim, Grease é uma peça de teatro...) foi o primeiro dos dois trabalhos dos roteiristas Bronte Woodard e Allan Carr. O segundo foi um desprezível musical para o grupo Village People. Nada mal, e muito mal, para início e término de carreira.

O sucesso do filme fez parte importante no processo de transformação de John Travolta em astro e ídolo, logo após Os Embalos de Sábado a Noite, do ano anterior. Ele, ainda magrinho e imberbe, praticamente um iniciante, passou a fazer parte do imaginário feminino por seus personagens sensuais e da inspiração masculina como algo a ser perseguido.
Depois de Carrie, A Estranha, de Brian de Palma, em que interpretada o pretenso par de Sissy Spacek, Travolta engatilhou dois de seus maiores sucessos, responsáveis pela sua meteórica ascensão em Hollywood. Depois, não parou mais e hoje é um dos atores mais requisitados do cinema americano, após um ressurgimento na obra prima de Quentin Tarantino, Pulp Fiction, Tempos de Violência.

Olivia Newton-John, por sua vez, chegou a estrelar um outro musical, Xanadu, com menos repercussão, mas idolatrado por muitos. Porém, dedicou-se mais a carreira de cantora do que de atriz. Ainda chegou a atuar novamente com John Travolta em Embalos a Dois (1983), porém sem a mesma chama e carisma vistos em Grease.

Curiosamente, os papéis principais de Danny Zuko e Sandy Olsson foram entregues a outros atores durante a escolha do elenco. Por felicidade de todos, alguns atores foram reprovados e outros rejeitaram os papéis, o que fez com que John Travolta e Olivia Newton-John protagonizassem a obra. Sorte nossa, sorte deles.

Curiosidade que, sempre preocupada em utilizar atores em faixas etárias adequadas, Hollywood sempre teve uma restrição para atores muito velhos ou muito novos para determinados papéis. Não foi o que aconteceu com Grease. Para uma trama colegial, praticamente todo o elenco estava bem acima da idade escolar, sendo que Netwon-John já tinha 29 anos e Travolta, 24.

O filme foi relançado em 1998 como parte das comemorações dos 20 anos do filme e, claro, como oportunidade para faturar mais alguns dólares, com os fãs mais novos da produção. Em 2008 foi lançado em DVD em edição mais do que especial, sendo que a embalagem do disquinho era a reprodução de uma jaqueta dos T-Birds.

A verdade é que Grease é referenciado até hoje por muitos fãs das antigas, já na casa dos 50 anos, e por uma considerável trupe de jovens, que descobriram no filme um lugar onde (e quando) poderiam ter sido mais felizes, frente as dificuldades e falta de inocência dos anos atuais. É uma ode ao saudosismo, mesmo para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de viver aqueles dias.

Nota: 6,9/10

Direção: Randal Kleiser
Roteiro: Bronte Woodard & Allan Carr
Elenco: John Travolta & Olivia Newton-John & Stockard Channing & Jeff Conaway & Barry Pearl & Michael Tucci & Didi Conn
Estréia: Junho de 1978
Gênero: Comédia & Musical & Romance
Duração: 110 minutos
Distribuidora: Paramount Pictures
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por Felipe Edlinger
09 de dezembro de 2008
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